segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Dança das cadeiras

*Cadeiras. Foto de Sonianepo.
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Querido leitor deste buteco sedentário,
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Após um longo período de organização interna, eis que sou surpreendida em plena tarde de hoje com o desejo de escrever....sobre a temática que mais nos agrada, aquela que une a todos os povos do universo, igualando homens, mulheres, crianças e cachorros: O Amor! Tal desejo me veio como intimação, após me deparar com alguns devaneios que pairavam soltos por aí, sem voz e força. Foi quando deixei meu querido Gil (Vicente) à deriva, e decidi perder o tempo - que já me é escasso - confabulando bobagens com os leitores que ainda me restam.
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Eliberto é um cara legal. O tipo de pessoa com quem se quer contar, que tem um papo bacana e bons conselhos por de baixo da manga. Há alguns dias, requisitei sua presença física para que me desse um desses, do gênero amoroso, de modo que para tal expus parte do meu mais recente drama, a fim de conseguir a opinião de um homem-heterossexual-interessante-bem sucedido entre as mulheres. Eliberto disse:
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- Ele tem outra! Esse lance de distância, energia, ou o fato dele evitar um encontro pessoalmente...não é excesso de amor romântico esvaindo pelas cucuías! Tampouco altruísmo! Ele tem outra.
- Ah não....Eliberto...será?....
- Sim: ele tem outra.
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Dias depois, conversando com uma amiga, já farta dos desencontros afetivos pelos quais ainda passa, eis que a mesma me narra uma recém- trágica- descoberta: Pedro, Paulo e Plínio, seus últimos ex affairs, resolveram assumir o namoro com três novas infelizes. O fato é que há menos de um mês, a tríade dos P não queria relacionamento sério com ninguém, tampouco com a amiga de quem vos falo. Parece, no entanto, que num golpe de sorte - ou azar - os três rapazes foram flechados pelo Cupido em menos de dez dias, para a infelicidade daquela moça.
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Do outro lado da cidade, Fátima está feliz ao lado de Sérgio. Após um longo período de "chove não molha", Fátima, já cansada de todas as investidas, é surpreendida com o pedido de namoro. Há dois meses estão namorando, felizes e apaixonados, como um casal de rãs.
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Do lado de cá, Gisele empurra com a barriga o namoro de quatro anos. Enquanto Gustavo vive há quilômetros de distância, Gisele intercala idas a cidade do "noivo" com encontros clandestinos de sexo incandescente: Klint, um nômade austríaco que chegara na cidade. Ainda no mesmo quadrângulo, sua prima sofre pelo namoro rompido: três anos de vida compartilhada, ainda que desses três, dois houvessem sido de vida-trigâme-extra-compartilhada....(da parte dela): "Agora que te perdi, João, descobri que te amo de verdade" - exclama Gabi para Deus, à espera de um milagre em forma de torpedo.
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Enquanto isso, André apela para a pornografia virtual: "É preferível a sofrer por qualquer espécie de mau amor". E o casal de velhinhos, vizinho de André, faz canguru perneta pela sétima vez consecutiva..."Oh my God, Gianfrancesco".
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Na sala de aula, os alunos choram pela partida da professora querida, não aceitando qualquer forma de substituição. Da sala de aula, os alunos mais velhos fogem para parada gay, e se deparam com um casal homossexual comemorando as bodas de prata. Também a professora estava lá, na parada gay, a fim de se divertir com o irremediável.
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Porque tudo se move na face da Terra. Para alguns... com mais agilidade.
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Há poucos minutos, conversava com Eliberto que me falava do seu último rompimento. Embora eu soubesse ser este o décimo quinto, em menos de seis meses, fiz-me de surpresa esperando pela explicação plausível: "A culpa é de vocês, mulheres; eu estava tranquilo...precisando de um tempo pra mim....até conhecer Katia Flavia, há menos de um mês". Indignada, argumentei com o óbvio ..."amor", "cheiro", "história", "destino"..... "Nada (disse o rapaz) não fiz isso por mim, mas por ela, que agora está livre pra voar sem mim e se dar melhor na vida".
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- A gente sempre pode suportar, Sofia. (Menos as crianças, penso).
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Quando estava apaixonada pelo meu ex de número 3, acreditava cegamente que ele era a cara do Joohny Deep. Tal impressão me era como um dogma, uma certeza absoluta. Levei cerca de seis meses para me dar conta de que ele NÃO ERA o Joohny Deep, e de que a vida ainda estava aí para ser desfrutada com o próximo idiota que me surgisse pela frente.
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Após este incidente, apaixonei-me uma vez mais. E apesar das desvantagens, da dor de cabeça (literal) trazida por esse novo "par", ainda acredito numa concepção de amor que está muito além de qualquer "dança das cadeiras" ou troca de Intimus Gel: amor é coisa rara, que leva muito tempo pra acontecer.
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Amor é uma junção de significantes às vezes ocos. Quando ele nasce? Quando termina? É a mistura da paz que o outro me proporciona, acrescida por uma raiva e chateação. Eu te amo porque te odeio. Amor não é apenas sexo...(sexo se tem com qualquer pessoa, havendo diferença de DNA)....é confiança, amizade, naturalidade. Vontade de passar horas ouvindo o outro apenas contar-nos como foi o seu dia. É achar bonitinho o jeito do outro roncar; é relevar o quão chata uma pessoa pode ser; é não esquecer o sujeito apesar da distância, ainda que desejemos o nômade austríaco para uma noite de sexo casual...(porque somos feitos de carne). É, sobretudo, não imaginar uma vida sem ter aquele fulano ao nosso lado, ainda que metade dessa vida possivelmente seja de amor-ódio. É não ter explicação.
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- Nada, Sofia! Amor é mutualismo....Troca-se até o esgotar. Julicléia foi importante pra mim....mas acabou. Quero que ela seja feliz, uma felicidade que não posso oferecer. Ela ficará melhor sem mim.
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Enquanto a generosidade de Eliberto me oprime a alma, quarenta e sete lágrimas cessam e a dança das cadeiras se renova. Há quilômetros daqui, um novo casal se forma, com os restos de um antigo amor....
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- Nossa, meu ex adorava esse filme...
- Jura? Que legal....aliás, você me lembra uma pessoa muito especial...
- Ah sim? por quê?
- Ah...uma mulher que conheci, em Viçosa (BAHIA), apaixonada por plástico bolha....
- ...Oh...como você é sensível....diferente de todos os outros.....
- Você não sabe, mas eu ando tão sozinho.....
[... 20 minutos depois]
- Que tal um filme no meu apartamento?
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Boa Tarde!

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