segunda-feira, 19 de março de 2012

Para Mãe e Pai

* a importância de ter mãe e pai. Foto de Antonio Vidinha.
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Para Mãe e Pai...

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Minha velha é louca por mim
Só porque eu sou assim
Meu pai, por sua vez
Se liga na minha
E nos "butecos" onde passa
Não dá outro papo

Eu sou o caso deles
Sou eu que esquento a vida deles
No fundo, no fundo
Coloco os velhos no mundo
Boto na realidade
Mostro a eternidade
Senão eles pensavam
Que tudo era "divino maravilhoso"
Levavam tudo na esportiva
Ficavam contanto com a sorte
E não se conformariam com a morte

Minha velha é louca por mim
Só porque eu sou assim!

(Eu sou o Caso deles- Novos Baianos).


quarta-feira, 14 de março de 2012

Carrossel


*Carrossel. Foto de Inês Correia.
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"En carrousel l'amour fait tourner ma vie"
(Mon Carrousel - Mayra Andrade).
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Disseram-me certa vez que é preciso cuidado com aquilo que se deseja muito, não qualquer coisa, digo, tudo o que se deseja com alma e intensidade.
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Por que? - perguntei à amiga mais velha....
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- Porque pode se realizar.
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Creio que este diálogo tenha se passado há exatos dez anos; mas nunca me fez tanto sentido como hoje, o tempo de hoje, as pessoas de hoje e as novas situações que têm se apresentado. Não tenho muito do que reclamar na prática, mas a sensação é a de que não é aquilo que eu pensava. Estou desapontada. Como se houvesse sido enganada, duas vezes, em duas circunstâncias distintas mas que têm, como elo, um significante comum: o amor que se deposita nas pessoas e coisas.
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Amor no sentido de expectativa.
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Frustrada, enciumada, somatizando toda a raiva em dores terríves pelo corpo afora. Exagero? Claro, ou não seria eu, ou não seria Sofia.
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Disseram-me há pouco: "Sua maior paixão é você mesma". Chorei por cinco minutos até compreender que sou fácil demais. Falta-me malícia.Talvez sim. Frida Kahlo só pintava auto retratos, alegando que a temática que melhor conhecia era si mesma. Talvez me passe o mesmo. Não consigo escrever sobre qualquer outra coisa que não eu, que não o mundo que me atinge, a mirada de quando se está num carrossel...a vida em círculo e as coisas que nunca mudam, apenas trocam de cor. Sou e estou.
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Não me conheço, de fato. Inconformada por natureza, minha influência materna; conformada por parte de pai - tudo me é desconfortável ultimamente - até o meu próprio corpo.
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Voltando?
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Alguns desejos se realizaram....Mas já sinto o preço destas escolhas, um pouco das transformações que nos serão necessárias; e, sobretudo - o péssimo hábito da hipocrisia que precisa ser cultivado. Já passou, Sofia, a época em que era bonito ser criança. É preciso entardecer.
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Estou triste, não minto, não disfarço. Não está sendo como pensei, como esperava. Sinto-me presa numa camisa de força. Sinto-me obrigada. Sinto-me mais adulta do que nunca e com a certeza de que não o sou em outros contextos, para outras pessoas.
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Sinto ódio doentio por algumas mulheres, homens e situações. É como se meu fígado estivesse se despedaçando aos pouquinhos. Não chega a ser um desejo de morte; quiçá de inexistência ou desencontro. Vontade de ter escolhido outro caminho - melhor ou pior, não é o ponto - diferente caminho. Mas sim....Fiz de novo o que não devia, o que se faz quando é fraco ou preguiçoso ou os dois.
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- Mas, se houvesse sido assim, você não teria me conhecido.
- Teria conhecido uma série de outras pessoas e você me seria apenas um nome.
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Trata-se de uma série de acontecimentos, não um nome em especial, mas uma dezena deles. E a sensação de liberdade podada. Como se estivesse condenada a vagar em círculos, aceitando sempre as mesmas situações, sempre os mesmos medos e a mesma mediocridade, aquela sensação de...."e se".
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Queria não estar aqui hoje. Queria estar lá; mas já foram criados vínculos e responsabilidades...Sou mãe e pai de uma série de gentes, além de um cachorro que chora todas as noites quando não me vê.
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Sinto-me sufocada. Hoje, por exemplo, passei mal e não fui trabalhar. Não por escolha. Se fosse por escolha teria passado mal amanhã e viajado para outras bandas. Não, foi hoje. Mas como explicar um mal que só depende de mim mesma, que só eu posso enxergar? Como dizer...."Foi um desencanto muito forte que me adormeceu e então não pude vir aqui". Como provar que encanto, e por consequencia o desencanto - podem ser, em certos contextos, doenças terminais? Não há o que dizer; preparo-me para ouvir....Amanhã.
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É um desconforto. Como se todos estivessem mentindo ou rindo pelas minhas costas. Como se não passasse de um nome, uma representação, não uma pessoa que trabalha, que tem força. Não tenho força. Esqueci as regras de acentuação da minha própria língua. A verdade é que nunca as aprendi. Era mentira.
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Quando despertei hoje de madrugada, senti um segundo de liberdade. Até me dar conta do que me havia levado a tal escolha. A tal submissão amnésica que só me faz mal. Que importa alguns segundos de liberdade? A angustia se repete...E gira...gira ...Como um carrossel humano.
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A sensação de estar presa numa camisa de força. Acompanhada e só.
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Já não me reconheço mais.
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Estou pronta: para a reforma ortográfica. Quando?
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Boa Noite!

segunda-feira, 12 de março de 2012

Sem face


Sem facebook.
O próprio sistema me bloqueou devido a um vírus desconhecido; tentei abrir outra conta, com outro email e o mesmo se sucedeu...
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Aproveitarei essa maré de azar para repensar minha vida virtual.....(piada interna).
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Boa Noite!

sexta-feira, 9 de março de 2012

Sou Loser, mas sou bamba!

*Loser. Sara Gomes.
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Poderia começar o seguinte texto parodiando aquela magnífica canção...."...eu não sei dizer nada por dizer, então eu me f*****". Mas, como agora sou uma dama em estágio probatório, começa-lo-ei assim: "Eu não sei fazer nada por fazer, então eu desisto".
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Após o meu retorno de Boi nos Ares, iniciei uma odisséia pessoal a fim de reorganizar a minha vida - a que continua uma tragicomédia; contudo, confesso que estou numa fase feliz, rindo à toa, experimentando coisas novas, dessas que explodem nas nossas veias, vértebras e corações (esta vai para R e F). Após um dito pelo des-dito, porque sim...."então eu escuto", cansei-me de uma situação que já há tempos perdurava e decidi....falar. Livrei-me de uma semana terrível de sintomas psicossomáticos, os quais ainda insistem em darem as caras pela manhã; mas, resolvi o "pobrema", apenas com uma boa lavada de roupas sujas, olhos lacrimejantes e uma fineza impecável.
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Bem, após a resolução, eis o demônio da dúvida.
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Porque não acredito em Diabo, senão em sua mitificação, aliás, um dos meus objetos de estudo. Porém, caso houvesse que eleger uma representação real do Diabo, esta seria a dúvida. Enquanto Deus se manifesta no SIM ou no NÃO, vomitando as pessoas mornas ou algo do gênero, Satã trabalha com a ótica da dúvida. E sim: conheço Satã pessoalmente há vinte e seis anos.
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Eu quis, eu queria, eu quero, nós queremos, vós não entendeis, eles não imaginam - Tu sabes, eu desisti antes de tentar.
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Tentei até a metade, na verdade, mas dei-me conta de que ...falta alguma coisa. Poderia ter sido a oportunidade da minha vida, mas hoje, neste instante, falta alguma coisa. Alguma coisa que não coragem, quiçá um pouquinho de medo acrescido por fatores práticos...Ás vezes não se pode mais trocar o certo pelo incerto, conformando-se assim com uma única pomba-gira na mão ao invés de duas voando. Não cabe aqui o fator fácil ou difícil; mas sim custo-benefício. E neste momento, (suspiro) eu desisti.
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Mas percebo um certo charme nas pessoas que desistem de seus objetivos, não acham? Aliás, acho super sexy a ideia de desistência. É como dizer a si mesma "Desisto porque sei que a felicidade plena não me satisfaz, 'eu gosto é do estrago' ".
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Este texto é apenas um desabafo, infelizmente, por motivo de forças menores, maiores e equivalentes, não posso entrar em detalhes a respeito do que se sucedeu. O fato é que esta perda me dói o estômago, a coluna; chateia-me. Mas o medo que tenho é de que ela me conduza a uma perda ainda maior (eu não queria perder....você me adivinha? vê?)....o que provavelmente há de acontecer, por quê?
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Porque TODOS SOMOS LOSEEEEEEEEEEEEERSSSSSSSSS, certas vezes na vida, e daí?
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Felicidade é coisa de novela!! Estudar o regimento do ensino público no Brasil é que é legalssss! Tudo estará, a partir de então, nas mãos do Deus que habita o Μόντε Capes...
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Bom dia! = (

Marisa Monte, Rodrigo Amarante e Devendra Banhart - Nu Com A Minha Música

Morena dos olhos d'água - Monica Salmaso

quinta-feira, 8 de março de 2012

Quando me vi mulher (para minha mãe e "Tia" Isaura).


Não sei quando me dei conta de que era mulher. Não foi quando nasci, tampouco quando tive a menarca ou o primeiro amor. Fui um menino gay por muito tempo, daqueles quem colecionava papel de carta, mas preferia os jogos de "lutinha" no Atari 1930 e comprava os bonecos e mangás dos Cavaleiros do Zodíaco. Não tenho paciência para comprar roupas, odeio frescura de mulher (embora seja uma fresca enrrustida), alimento-me ainda hoje com um "prato de pedreiro" - fato que horroriza as minhas amigas mais damas; sou desorganizada, gosto de cerveja, do gosto da cerveja - falo palavrões em excesso e confesso que algumas mulheres são gostosas sim (isso não é de modo algum machismo. Sou louca pela Penélope Cruz, Ana Paula Arósio e Scarlett Johansson). Entendo certos comportamentos masculinos - desde que não cometidos para comigo....E, sobretudo, preservo mais amizades com homens (embora esse quadro tenha se modificado com o tempo).
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Não consigo, como a maioria das mulheres, fazer duas coisas ao mesmo tempo. Não uso cremes (mas passarei a usá-los em breve, os anti rugas), meus cadernos escolares nunca foram os da Hello Kitty e detesto - sim, detesto! - ir à manicure e ao cabelereiro, só o fazendo quando em situações extremas, tipo: casamentos, formaturas, ou quando a unha do dedo mínimo do pé esquerdo já está a ponto de cair.
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Só me dei conta de que era mulher no dia em que percebi que não precisaria corresponder à lista acima para sê-lo. Dei-me conta de que sou mulher quando notei que havia em mim - mais que um útero - um desejo universal pela maternidade. Não a maternidade prática (porque não é preciso ser mãe para legitimar-se mulher), mas uma maternidade instintiva, como quando se vê um cachorro na rua e tens vontade de dar-lhe a vida por um instante.
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Dei-me conta, por fim, quando um dia falei a meu pai: " É...Pai, me ajuda a escolher um anticoncepcional?".
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Porque ser mulher...não é um fado, senão um dom, independente das orientações e estereótipos.
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Sou mulher até debaixo d'água.
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Parabéns a nós mulheres que menstruamos e ainda assim sobrevivemos.....Que levamos pés na bundas, somos chifradas por filhos da puta que trocam de namorada como roupa, e ainda assim trabalhamos com bom humor. Que temos câncer de mama, câncer de colo de útero e, AINDA ASSIM, lutamos, caminhamos, amamos: geramos vida.
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Um beijo a todas as minhas amigas mulheres. Principalmente a minha mãe que, na falta de opção, escolheu por me dar a vida. E à "tia" Isaura, por ensinar-me a etiqueta das ladies. Amém

XV: Como no céu vai sumindo...

Como todas las cosas están llenas de mi alma
emerges de las cosas, llena del alma mía.
Mariposa de sueño, te pareces a mi alma,
y te pareces a la palabra melancolía.
[...]
Distante y dolorosa como si hubieras muerto.
Una palabra entonces, una sonrisa bastan.
Y estoy alegre, alegre de que no sea cierto.
(Poema XV - Pablo Neruda)
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"Não permita Deus que eu morra

Sem que volte pra São Paulo

Sem que veja a Rua XV

E o progresso de São Paulo."

(Canção do Exílio - Oswald de Andrade).


segunda-feira, 5 de março de 2012

A Ogra adormecida

*domínio público
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"Já até sei sonhar,
Já sei beijar de língua,
Agora só me resta namorar....
[...]
Não sei onde ficar,
Não sei aonde ir,
Mas f**, tenho que recomeçar".
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- É tempo de despertar, Ogra adormecida!
A vida recomeça.... Tudo de novo!
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Boa sorte pra mim!

Boa Noite!

A minha espada é a pena.


*Arquivo pessoal. Dez de novembro de 2000. 17:15
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A Estela, pela cumplicidade
E a Cláudia, por me ensinar a adolescência...
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Certo dia, uma de minhas professoras de Ballet, a que mais amava até então (porque tenho atração por pessoas detestáveis), disse-me no meio de uma aula, repleta de outras garotas (aliás, interrompeu o velho gravador , visto que não tínhamos um piano, para fazê-lo):
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- Amanda. Você tem que entender que é apenas uma menina da periferia do Jardim Apurá e que enquanto está aí, apaixonada por esses meninos, eles estão nos Estados Unidos fazendo dinheiro e você, pobre mortal, nunca os verá na sua vida. Conforme-se."
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Tinha doze anos, talvez treze. Naquela época, era alucinada por uma banda de pop/rock chamada Hanson, sim leitor das antigas, aqueles loirinhos de Oklahoma. Minha paixão não era lá das mais sadias. Lembro-me que comprava tudo o que se vendia sobre eles, de revistas a dvd´s e, houve inclusive um episódio fantástico onde manipulei uma classe de 40 alunos, 40 bons amigos para que escrevessem para mim a seguinte frase "Eu quero conhecer o Hanson", ou algo assim, a fim de que montássemos uma carta quilométrica para uma promoção de uma rádio paulistana. A carta com a maior quilometragem - que não foi a minha - levaria suas vitoriosas escritoras a um encontro com os caras num hotel em Ipanema. Não foi daquela vez, e, como sempre, desfiz-me em lágrimas de dar dó à vizinhança e aos donos do Colégio onde estudei por onze anos.
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Havia também naquela época um programa pieguíssimo do Silvio Santos "Em nome do Amor", em que vez ou outra, a produção do SBT financiava encontros entre fãs e ídolos. Durante quatro ou cinco anos, cultivei o hábito de escrever para o tal programa vinte cartas por mês, explicando a minha necessidade vital de estar perto daqueles meninos, ainda que um abismo linguístico nos separasse.
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Interessei-me por inglês.
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Deixei o cabelo crescer, como o da suposta namorada de um deles.
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Fiz duas melhores amigas naquele período, amigas de uma vida.
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Pois bem. O tempo passava e nada de vencer as promoções. Participava de todas, porém a sorte não tocara, ainda, a minha porta. Até que um dia, simbolicamente, encontro na classe de Ballet um trevo de quatro folhas. Coincidência ou não, as coisas mudaram a partir daquele dia.
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Quando a tal professora me dissera aquilo - a que inclusive cursava psicologia na época (mas devia estar no primeiro período do curso, para dizer a uma menina de doze anos tamanha insensatez), calei-me. Eu, que sempre contara todas as coisas da minha vida a meus pais, amigos, transeuntes, calei-me por vergonha. De quê? Não sei. Éramos de classe média. De certo não tinha dinheiro com o qual pudesse me mudar para Oklahoma e acampar frente à casa do meu futuro marido e cunhados, mas não era só isso: quiçá ódio. Poucas vezes em vida senti tamanho ódio; e, por consequência, minha necessidade de palavra se exilou, limitando-se ao olhar seco, sem lágrima, insônia ou réplica.
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Para resumir, no ano de 2000, minhas duas amigas inseparáveis e outra amiga descobrimos a vinda da tríade gringa para o Brasil e logo não medimos esforços: gravamos um vídeo implorando para conhecê-los pessoalmente e fomos a TODAS as mídias televisivas, e também radiofônicas, a fim de distribuir o tal vídeo. Acampávamos na MTV. Fizemos amigos famosos, Sabrina Paraltore, Bruce Dickson do Iron Maden (meus amigos homens mal acreditaram nisso....). E dessa forma, com nosso charme, choro e ranger de dentes, fomos à luta. Era o meu sonho, o sonho de uma menina bailarina de 14 anos.
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Um belo dia, minha amiga Cláudia, hoje mamãe, telefonou-me dizendo que nosso vídeo fora selecionado pelo programa Zapping, da TV Record, apresentado na época pela bonitona da Virgínia Novick. Creio que tenha sido um dos dias mais felizes da minha vida, antes mesmo do encontro, apenas pela espera, pela certeza do que estaria por vir...pelo desejo que nascia ali.
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Fomos nós: Estela (minha amiga japa-linda), Cláudia (a mamãe coruja), Raquel (por onde andas?) e eu, Amanda (a mestranda sempre em crise). Levaram-nos ao Programa Livre, no SBT, e depois nos bastidores, fizemos com os rapazes uma curtíssima entrevista, na qual pude exibir o meu limitado inglês (mas que naquela época até tinha certo brio). Fui elogiada, inclusive, mas isso é papo para outro post.
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Questão de minutos, o produtor dos caras, escrotíssimo, entra no "camarim" e ordena que saíssemos, pois estavam atrasados, etc, uma grande confusão. Não houve tempo sequer para fotos, o que me causou meses de frustração. Porém, como escorpiana que sou.....pedi aos meninos, aos meus meninos, que autográfassem uma sapatilha de Ballet recém usada. Queria um autógrafo na sapatilha.
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Semanas depois, quando a notícia se espalhou e - se houvesse naquela época um Big Brother, certamente eu estaria dentro, ainda que com 14 anos - levei minha sapatilha autografada para a aula de Ballet, deixando-a recostada sobre a barra de exercícios. Eis que chega, então, a professora da fala de abertura dessa crônica. Não lhe disse uma palavra. Ela apenas olhou e sorriu, compreendendo o que se passou, alimentada pelo comentário eufórico de minhas amigas.
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Apenas a observei, já aos quatorze anos....no fundo daqueles olhos tão azuis, como se dissesse...."nunca mais me subestime".
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Tempos depois, no meu aniversário de quinze anos, imaginem? Filha única, mamãe sonhando uma super festa de debutantes, papai mão de vaca (ele que não me leia) alegando "não tenho dinheiro, não tenho dinheiro". Que importava? Queria meu pai me presentear com uma viagem....Mas, a única coisa que desejava era estar com eles - com o Hanson. Participei de todas as promoções, dormi na rua, quase fiquei nua num programa de TV....toda a odisséia se repetiu, como num movimento circular, embora ainda não soubesse que voltariam ao Brasil no mês de novembro.
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A minha espada é a pena.
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Havia uma promoção de uma revista - Atrevida Hot - cuja proposta era a de que escrevêssemos uma estória em quadrinhos com o tema "Meu encontro com o Hanson". Nunca fui boa para desenhos, nunca gostei, na realidade....Então, tive o insight da minha vida: uma fotonovela. Convenci a três amigos negros que se vestissem como Hanson, usando perucas feitas por mim e uma amiga com papel crepom amarelo. Criei a história. Era meu aniverário de quinze anos e não me recordo muito bem, mas a ideia era a de que eles voltavam do Rio de Janeiro (...e por isso a corzinha bronzeada) para a minha festa de aniversário. No meio da fotonovela, havia certidão de nascimento e tudo!
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Mobilizei todo o Colégio para fazê-lo: de amigos até o "tio da perua", que se parecia muito com um artista brasileiro deixando meu texto ainda mais verossímil.
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Enquanto dormia na rua, na fila do Credicard Hall (revesava com minha amiga "mãe" e a "japa" para obtermos os melhores lugares no show), ligo para casa, de um orelhão, e minha mãe, sem se dar conta do que me esperava, disse: - Amanda...ligou uma mulher aqui de nao sei quê Hot....parece que você ganhou alguma coisa.
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Estremeci.
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Não pude comemorar porque havia a minha espera uma centena de outras meninas a fim de usar o orelhão, as que me linxariam (como depois tentaram), caso soubessem que mais uma vez, fui a ganhadora da promoção. Naquele dia, dormi na rua, até que um dos seguranças com pena levou-nos para um espaço do Credicard Hall onde não chovia, porém estava repleto de borrachudos (sim! sou muito alérgica a qualquer um desses bichos chatísssimos). Uma garota disse ao longe, enquanto eu sonhava acordada:
- Quero ver quem será a sortuda que ganhou a promoção da Atrevida Hot.
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Contei somente a uma amiga, Cláudia; mas, para a minha surpresa, no dia seguinte TODA FILA À ESPERA DO SHOW já sabia sobre minha premiação. Decidimos no "palitinho" quem me acompanharia.....(o que foi extremamente difícil, porque amava as duas amigas com a mesma intensidade), venceu a Clau, mas anos depois nossa querida japa se vingou ao tornar-se correspondente internacional e encontrando os caras cinco milhões de vezes sem nós! (bitch!kkkk).
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O encontro estava marcado para o dia 9 de novembro. Mas, não era o suficiente, visto que meu aniversário é no dia 10. Acaso ou não, lei da atração ou não, ligaram-me da produção da revista avisando-me de um imprevisto..."Ai Amanda! Não fica triste!!! Mas nosso encontro será adiado para amanhã, às 17, ok?"
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Bom, queridos leitores imaturos.....Eu nasci no dia 10 de novembro, exatamente às 17:15. Não preciso dizer o quanto foi maravilhoso! Era aniversário de un dos integrantes além do meu....Deram-me os parabéns, conversaram conosco, e sim! fotos, muitas fotos. Depois, o show pago pela promoção...e no dia seguinte, outro show, agora presente de 15 anos.
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Tudo isso apenas para dizer que....Sou uma pessoa com uma baixa auto estima, confesso. Mas as poucas vezes em que me concentrei em algo...."o fiz". Nunca perdoei aquela educadora por tamanha "humilhação". Na verdade, não me senti humilhada - geralmente não tenho esse tipo de sentimento - mas hoje, sei que se houvesse contado a meus pais a coisa teria sido diferente. E se houvesse tal fato ocorrido com uma filha, minha filha imaginária, processaria aquela mulher, sem mais. Sei que provavelmente nunca lerá esse texto, a professora de Ballet - de lindos olhos azuis - mas adoraria se o fizesse.
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Não perdoei a educadora, mas perdoei a mãe, a amiga, a bailarina. Porque todos erramos quando queremos acertar. Ás vezes.
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Sou uma pessoa naturalmente vingativa, mas minha vingança é a pena, é a escrita. Nos últimos anos passei por situações parecidas, de desconforto e subestimação, e a única coisa que fiz foi escrever.....pequei pelo excesso, reconheço....mas é a única coisa - respondendo a meu amigo Paulo - que me relaxa, sem pretensões literárias ou carnavalescas.
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Escrevo desnudada, como uma criança de seis anos.
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Foi uma aventura feliz. Dos 11 aos 16. Após isso, o mundo real me tocou, as pessoas reais, os relacionamentos reais, as perdas reais. Mas sempre tive - e manterei - um pé no lado de lá....no lado da fantasia.
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E sim.....sou sonsa, tonta, e um tanto inconsequente....
até que me subestimem.

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Buenas Noches!

sábado, 3 de março de 2012

A namorada

*menina sem nome. Foto de Paulo Augusto Patoleia.
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Há tanto tempo não namorava (seriamente), que já havia me esquecido como funcionam os contratos entre casais. Em menos de um mês já me vejo cometendo os mesmos erros e com aquela sensação péssima de "isso não vai dar certo".
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Por quê?
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Porque antes de qualquer coisa, ser meu namorado requer ser meu amigo, o que requer, ainda por cima, paciência de Jó para os tempos coléricos como os da semana que se encerra hoje. Conto tudo a meus namorados - o bom e o ruim - porém, o problema é que me excedo no ruim, torno-me extremamente chata como o sou com meus amigos mais próximos.
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A gente pensa que muda, que cresce com os relacionamentos anteriores - e sim, o fazemos, mas há coisas que sempre ficam.
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Não vou falar aqui abertamente do meu namoro, mas acho que posso escrever sobre algumas coisas que sinto, caso contrário não teria mais serventia essa porcaria de Blog. Sinto-me insegura e com a sensação de que depois de tantas peripécias desaprendi a namorar e a acreditar nas pessoas. Faço planos a longo prazo, família, casa, cachorro, time de futebol, mas no dia a dia continuo a mesma chata, a mesma drumoniana que não sabe o que será.
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Queria levar as coisas com mais tranquilidade, mas o fato é que, se não bastassem as circunstâncias, já tão difíceis, sou uma pessoa difícil.
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Não sou carinhosíssima, mas aprecio companherismo. Se perto, ver a pessoa todos os dias. Se longe, ter a liberdade de ligar todos os dias pra dizer ...."como cozinho essa salada de batatas com cebolas e nao sei quê?".
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Não sou de todo ciumenta. Acho algumas mulheres gostosas e compartilho comentários. Mas, quando cismo com alguém, não há santo a ser esculpido que nos valha: é uma vaca e ponto e deve permanecer aonde está - LONGE.
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Sinto saudades de conversar....gosto de conversar....sobre coisas pequenas e desimportantes, como o melhor método de se organizar uma prateleira de livros. Gosto de contar tudo ao namorado, que se torna assim mártir em vida ao depender dos meus devaneios. Admiro casais cuja cumplicidade converte sacrifícios em projetos comuns.
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A pior coisa do mundo é começar um namoro com prazo datado para o fim. Antes não começar. Há uma seara de gentes interessantes por aí que necessitam amor, enquanto finge-se amor. Não é o caso, mas se fosse, não suportaria.
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Namorar é como um casamento. É compromisso. Se não é pra ser assim, sexo casual e pegação geral estão aí pra isso, namorado não é sinônimo de felicidade.
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Quero que dê certo. Vinícius, o do "seja eterno enquanto dure", teve 11 esposas.....imagina só! Assim é muito fácil escrever um soneto de fidelidade.
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Nada é para sempre. Mas o importante é quando se pensa junto, quando se olha na mesma direção. Qualquer coisa diferente disso não é namoro, mas sim dois corpos que se encontraram fatidicamente por aí e, por excesso de escolha, desistiram de escolher.
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Boa Noite aos namorandos e desnamorados.

AMOR, CAFÉS e ÁRVORES




*A sombra de um sonho. Foto de Isabel Nunes.
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Sobre Felicidade.
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Estava em Buenos Aires. Por que? Porque era um sonho e sou o tipo de pessoa cuja ideia de morte me faz muito caso, isto é, tento estar preparada para o dia que a moça de capuz (porque é uma moça, certamente, e de capuz) bater a minha porta). Não tinha dinheiro, porém não queria mais esperar para realizar o sonho de passar um mês em terras estrangeiras, estudando espanhol, conhecendo pessoas e, ainda que por "boludice" da minha parte não tenha ido à casa Borges, fui à casa Gardel e já me foi o suficiente para as recordações de uma vida. Aos poucos postarei algumas fotos, mas o fato é que este post de abertura do terceiro ano do nosso Sofia de Buteco não é especificamente sobre Buenos Aires, mas sim sobre a tal da felicidade, a inexistência dela, exceto em pequenos momentos quase despistados, singelos, como ratinhos que se escondem de nossas miradas durante o dia para fazerem-se donos de nós mesmos ao longo da noite. Não vou bancar a estrangeira, mas, depois de um mês tentando escrever apenas em espanhol, sinto um desconforto com minha própria língua, o que é natural, afinal de contas: todas são línguas, mas cada uma delas com suas devidas particularidades...ora mais charmosas, oras menos, por isso perdoem-me, novos leitores!
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Não sei quando fui fisgada - por aquela cidade. Não fui à "naturaleza", não escalei montanhas, não conheci à Patagônia. Certo dia, sentei-me sozinha num café, o "Café del Árbol", em San Telmo, pedi um litro de Quilmes e três empanadas - todas as três de carne, minhas preferidas. Perto de mim havia um grupo de jazz, na praça que reúne todos os cafés, e, um pouco mais ao longe, um rapaz com uma flauta. Uma espécie de bicho grilo porteño pediu para que compartilhássemos a mesa, não o impedi, conversamos em meu escasso portuñol...até que se deu conta de que não lhe pagaria bebida alguma e tampouco iria para a cama com ele. Havia também um lindo garçom , quiçá flertando comigo, quiçá não, e, o mais importante, senão essencial: árvores por todos os cantos, pessoas de todos os cantos do globo....e tango em todos os cantos da praça (porque era uma praça que tinha cantos, leitores, não me questionem).
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E foi ali, sozinha, sem minhas amigas holandesas e meus amigos brasileiros, venezuelanos, porteños, alemães, norte americanos, que senti pela primeira vez em muito tempo o tocar da felicidade em minha vida. Fora tão fugaz como uma folha de árvore que nos acaricia as costas delicadamente e depois se esvai com o vento, mas - a sensação de liberdade, de se estar só no mundo sem dever nada a ninguém , de poder escolher aonde ir, a que hora chegar...a quem compartilhar a vida....a vida que não passa de um momento e uma empanada....observar o pequeno universo ao meu redor e perceber que Deus também existe ali, quando criou a torre de babel obrigando-nos a nos adentrar pela cultura do outro a fim de lhes tocar a vida por curiosidade, a alma - isso é felicidade. Sentar num café, pedir uma cerveja com três empanadas de carne, seja em Buenos Aires, seja em Viçosa, seja na Rocinha, seja no "Buteco" do zé (o que fica ao lado da minha casa).
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Estou completamente apaixonada por Buenos Aires, como uma criança que nunca viu o mar. Aliás, nunca me interessei pelo mar - nunca soube nadar. Há pouco, fui a Miraí passar o carnaval com amigos e eis que me sucede o desastre: a cachoeira....tenho medo de água. Não tenho medo da morte, mas tenho medo de morrer afogada e sim, não é necessário nadar em cachoeiras, mas a sensação é a mesma de estar próxima a um abismo aquático infindo.
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O bem mais valioso que trouxe de Buenos Aires, além dos amigos, foi a língua. Do pouco que aprendi, como uma preciosista, quero conservá-lo, quero que não se estrague, como uma série de conchinhas que guardamos numa dessas caixas de avó até que o tempo nos faça adultos. Quero estudar. Quero ter um espanhol fluente, não por outrem, senão por mim mesma quem me apaixonei profundamente por esta língua, esta cultura, literatura e por aquela gente....
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Uma gente que sai às ruas de segunda a segunda protestando por suas vidas...pelo preço do metrô, pelo direito de ser um "mantero", pelo direito de não ter os seus filhos mortos por policiais em uma passeata - isto em frente da imponente Casa Rosada do Governo "Peron"....a casa que devo ter visitado cinco mil vezes devido a falta nata de referência que tenho pras coisas práticas (em qualquer parte do mundo...).
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Cheguei ao Brasil e decidi morar sozinha. Em república. Mas que trabalho isso tem me dado.....Também comecei um relacionamento sério, sim , um namoro - mas já sinto o prelúdio do trabalho que isso nos dará. É uma pessoa ótima...talvez a melhor que já tenha conhecido. O mestrado inicia e já sinto nas vertebras, no intestino, nas articulações, no estômago, em todas as partes do corpo o trabalho que isso também dará. Hoje tenho diarréia e vômito; ontem, dor de cabeça; antes de ontem, febre....e por aí vai minha primeira semana de mestranda! E por fim, a escolha, a tal de ecolha: manter tudo isso ou jogar todas las cosas por terra, a fim da tal felicidade?
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(telefone)
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(era a minha chefe que quase por equívoco me demitiu por ser - o meu nome - tão trivial).
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Sou ninguém.
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O que é felicidade?
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Para mim, depois de tanta procura....descobri como numa revelação biblíca, epifânica, ser nada mais que um conjunto de árvores numa praça, com uma série de artistas-pedintes-de rua, pessoas de todos os cantos...e eu, sozinha, imersa em meus devaneios, bebendo um litro de Quilmes - mas poderia ser água ou Brahma - e três empanadas de carne - que poderiam ser coxinhas ou kibes.
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Felicidade pra mim é estar só. É ter alguém a quem amar, mas poder estar só, ao mesmo tempo. É ser respeitada. É ter um "bom dia!" retribuído ao invés de ser tratada com um número numa empresa.
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(Pausa para o banheiro).
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Eu me demitiria de partes da minha vida, caso não necessitasse tanto delas nesse momento.
...e viveria de amor, cafés e árvores.
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Estamos de volta!
Bom dia!
(e desculpem o vocabulário escasso)

OBS: O layout terrível será mudado no mês de maio, quando completarmos 3 anos de Sofia de Buteco!

La loca de mierda 12 (un día de furia)