fonte: google.
Desde os primórdios da minha humanidade mamãe já dizia "calma, o que é seu tá guardado". Hoje, com um pouco mais de experiência, imagino que seja lá o que há de ser meu deve estar, de facto, muito, mas muito bem guardado.......
Para os desinformados de plantão, o facebook é com toda legitimidade humana não só um local para memes e flertes, senão também um muro das lamentações...Pois bem! hoje quero fazer uso do meu direito humano de me lamentar! Há quem o faça de barriga cheia, semi cheia, semi vazia, vazia, super-vazia...Não sei em que categoria me classifico mas isso tampouco vem ao caso: quero me lamentar e, caro leitor, se não queres um pouco de lamento, passe esta página.
Deu-se que hoje foi o dia das designações estaduais da cidade de Viçosa. Há quase um ano trabalhei na mesma escola, cujo nome não vem ao caso, mas enfim....trabalhei. Muitas vezes quis desistir, muitas vezes fui infeliz, mas muitas vezes fui bastante feliz. Sou professora e apesar do amor, não recebo em "amor", ou seja, recebo em dinheiro, pouco, mas dinheiro, portanto preciso trabalhar.
Aconteceu que cheguei no local onde ocorriam as designações, com toda a documentação necessária, previamente organizada. Esperei que fossem atendidos a princípio meus colegas concursados...muitos deles que não conseguiram trabalhos almejados por falta de documentação ou "lapsos" na documentação. Eis que chega o momento do meu atendimento, como vinculada, por haver trabalhado x tempo em um colégio da cidade, lecionando para o ensino fundamental.
Conforme minha experiência como tutora (alunos de graduação), cursos pré vestibulares (alunos mais velhos), tinha eu o objetivo de conseguir aulas para o ensino médio, experiência essa que me falta no currículo e que, apesar da remuneração e dos problemas que todos sabemos, tenho vontade de exercer: trabalhar com alunos de ensino médio. Ao saber que por ter esse "vinculo" com a escola em questão conseguiria tais aulas, um céu se abriu no meu imaginário "Que legal, conseguirei o trabalho, terei experiência, pagarei minhas dividas, serei feliz no amor, comprarei um carro, ficarei riiiccaaaaa" (mais ou menos).
O problema foi que apesar de toda a minha documentação, corretíssima, havendo o acréscimo de ter concluído um mestrado......em meu atestado médico, escrito por um "médico da família", não constava a palavra "PROFESSORA". Ora, dizia assim o atestado: "fulana de tal [...] apta para executar plenamente suas atividades laborativas". Eu, que sou besta, penso que a palavra professora seria desnecessária, haja vista que o dado atestado comprovava que tenho a consciência física e mental para desenvolver bem o meu trabalho.....Pois não: apenas pela falta da palavra PROFESSORA, me foi negada a oportunidade de trabalho que então esperava.
Lendo a resolução em questão, diz-se dessa forma a exigência: "– comprovante de exame pré-admissional atestando a aptidão para a função pleiteada, observadas as normas estabelecidas pela Secretaria de Estado de Planejamento....". Li a resolução anteriormente e não me dei conta de que a palavra PROFESSORA fizesse tamanha diferença!
Digamos que esteja errada, porque errar é próprio do humano. Pedi a meus superiores que me dessem o prazo de meia hora para "consertar" o atestado, visto que poderia facilmente entrar em contato com meu médico, visto que necessito de trabalho, visto que eu "teoricamente" tinha uma preferência.
Não pude.
Pedi, então, que pudesse entregar outro atestado na segunda-feira, que pudesse ir a Ponte Nova, se fosse o caso, resolver isso.....
Não pude.
Certo. Não fui a primeira nem a última a passar por isso. E as regras valem para todos, de modo que não estou aqui a culpar uma pessoa específica.
Mas estou aqui a falar de HUMANIDADE. Eu, que convivo diariamente com colegas professores de universidades e etc, nunca vi um sistema de distribuição de trabalho tão rígido e desumano. Ainda que esteja errada (talvez outros colegas professores, pacientes para lerem esse post afirmem que a palavra professora faria total diferença....) - ainda assim, trata-se de um sistema desumano, onde um quer "furar" o olho do outro....e não estamos falando de qualquer profissão, ora....estamos falado de professores de Língua Portuguesa, de educadores da área de Humanas.
A partir do momento que um pedaço de papel, uma burocracia, é mais importante que a palavra, a doação, o trabalho físico e mental de um ser humano, de um sujeito, de um formador de pessoas.....o que há de se esperar em nossas escolas?
Estou triste, chateada, inconformada.......errei em não ter pedido ao meu médico que escrevesse "apta para a carreira de professora", mas pensava que meu diploma de graduação, mestre e experiência de alguns poucos anos desse conta disso, subtendesse-se: afinal....somos profissionais das Letras.
Outro dia, após um problema pessoal, fui a um boteco e pedi uma cachaça. Estava só. Os homens do local me olharam como "nossa, uma jovem linda por aqui, bebendo como homem....(o jovem e linda fica por conta da escritora....rs). Ofereceram-me, os jovens do barzinho, um aperitivo tão saboroso......por conta da casa....com tamanha doçura.....que concluo, agora: "somos mais humanos num boteco com desconhecidos que com nossos colegas de trabalho".
Desculpem-me pelo desabafo. Não me refiro aqui a ninguém especificamente e sim a um sistema DESUMANO que, ao final, não faz de nenhum de nós milionários ou bem sucedidos. Mas as relações humanas devem estar acima de qualquer coisa.
Que não fosse comigo; que fosse com a menina anterior a mim; mas que ela pudesse se explicar, conseguir outro atestado, entrar com um recurso....."yo que sé".
O que sei é......nunca vi coisa tão horrível em toda minha curta vida laboral.
Ano passado consegui a mesma designação graças a falha de outrem. Hoje, leio a mesma experiência com outros olhos: será que foi justo? Acho que não...mas espero que aquele senhor esteja hoje bem melhor do que eu.
Um Abraço a todos!
OBS: Ofertas de trabalho nos comentários, por favor!