quarta-feira, 31 de agosto de 2011
Eu em agosto de 1936.
- Pois eu sei! - gritou Emília. - Verdade é uma espécie de mentira bem pregada, das que ninguém desconfia. Só isso.
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("Minhas" memórias - Monteiro Lobato).
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Trabalho
Trabalho-aula-livro-corredor-espera-livro-fila-carteirinha-corredor-ops-corredor-livro-ufa...- fome-leitura desconfiadíssima-trabalho-trabalho-trabalho-felicidade-sono.
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porque a utilidade edifica o homem.
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...e a utilidade bem remunerada edifica ainda mais!
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Bem avneturança
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AMOR FEINHO
"Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado, é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho."
(Adélia Prado)
Fala...
*Mais um casal. Foto de Cristina Bento.
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"Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá, lá, lá
Fala
Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Fala"
(Fala - Secos e Molhados)
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
Exclamações!
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Namorados
O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
-Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê uma lagarta listrada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listrada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-"Amanda", você é engraçada! Você parece louca.
(Manuel Bandeira)
Pega fogo CABARET!
*Dança do Fogo. Enhigma.
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Pega fogo CABARET!
...na verdade, Senhor, queima ele todinho!
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Conclusões festivas:
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2) Quando eu tiver a idade da Rita Cadillac (175 anos?), quero estar por aí, tranquila, fazendo "shows adultos" para um bando de universitários que nunca "viram" uma mulher;
3) Rita Cadillac já pegou o Rodrigo Santoro;
4) Se prometeres um artigo para um amigo, faça-o no prazo certo, pois ,você há de inventar uma desculpa esfarrapada, a que cairá por terra quando ambos se encontrarem no: CABARET!
5) Alguns homens me surpreendem pelo excesso de beleza, equivalente à ausência de cérebro;
6) O melhor pão com linguiça da cidade!
7) Preciso de um namorado: já estou velha pra essa coisa de beijar além, sem olhar a quem...(apesar de que "velha" é muito subjetivo, não é Dona Rita???);
8) - Pai e Mãe: vou fazer um pornô!!
9) Eu seria uma ótima pole dancer!
10) A melhor cerveja quente da cidade!
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Bom dia!
sábado, 27 de agosto de 2011
Sob(re) o espaço: tempo...
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Meu pai não gosta de futebol, estranhamente. Não sei se não gosta, mas pelo menos não demonstra paixão por time algum. Quando criança, meu primeiro "grande-amor-mirim" era (é) São Paulino, e a partir de então resolvi também sê-lo, apenas para impressioná-lo e ter mais possibilidades de assunto. Permeneci firme com essa escolha, de modo que aos 13, 14, eu realmente vestia a camisa do São Paulo (literalmente, ganhei uma oficial de meu pai em um aniversário, ainda que ele me proibisse de vesti-la em público...rs), assistia a todos os jogos via TV, rádio - aliás, acompanhar os jogos pelo rádio era o que mais gostava na época, como um fermento para a imaginação. Sofria quando meu time perdia, regozijava-me quando vencia, mas nunca, nunca mesmo, avancei para o segundo verso do hino "Salve o Tricolor paulista".
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Um dia, entendi que apesar dos amores são paulinos (...muitas pessoas fingem interesse por certos times como arma de conquista, eu sei e isso tem me preocupado...) alguma coisa em mim, meu coração?, era corinthiano. A verdade é que sempre gostei mais do Corinthians, não pelo time em si ou pelos jogadores, mas pelo mito, pela paixão que uma bandeira consegue evocar num bando de marmanjos, alguns, admito, trogloditas ao extremo, mas ainda assim, meninos que se desarmam com o ouvir da estrofe (sim, eu sei o hino todo de cor):
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"Salve o Corinthians,
O campeão dos campeões,
Eternamente dentro dos nossos corações
Salve o Corinthians de tradições e glórias mil
Tu és orgulho
Dos desportistas do Brasil"
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Esse texto pretende falar da experiência tempo e espaço.
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Hoje de manhã, em meu segundo ou terceiro despertar, li uma notícia no yahoo a respeito da filha Sthéphanie do Bebeto, que recentemente fez um ensaio fotográfico sensualíssimo para uma revista, dessas que não leio. Automaticamente, recordei a Copa de 94, devia ter oito anos, recordei-me do momento mítico em que Bebeto encenou o "embala bebê", como resgatei na foto acima. Eu estava lá, torcendo pelo Brasil e emocionando-me, como qualquer um, com a homenagem que o jogador prestou ao filho com dois dias de vida. Anos depois, a criança eternizada foi convocada, segundo minhas pesquisas, para a seleção Sub-16 e a filha, dois anos mais velha, posa para a "Sexy".
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- E daí? - você me pergunta.
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"E daí" que iniciei uma reflexão inconclusiva sobre a passagem do tempo (e a saudade). Engraçado perceber como as vidas que influenciamos ou pelas quais fomos influenciados vão tomando forma e rumo diferente, mais ousados ou menos ousados que aquilo que imaginávamos, secretamente planejávamos, desconfiávamos. Nossos filhos fazendo as próprias escolhas, ora parecidas com as nossas, ora totalmente ao avesso do que somos, mas ainda assim conectadas com uma história que aconteceu num dado tempo e espaço, em que ainda éramos um. Eu que não tenho filhos substituí o laço materno pelo fraternal relembrando os amigos de São Paulo (sim, vivi 18 anos em Sampa) - entre corinthianos, santistas e são paulinos - e senti um profundo vazio que só a saudade preenche, quando não se tem escolha.
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Há sete anos mudei-me para Viçosa, a contragosto. Deixei uma série de pessoas, sonhos, vontades e dei início a minha juventude por essas bandas de cá. Não sinto falta das baladas paulistanas, porque pouco as vivi, mas sinto falta dos amigos. O azar que tenho na vida relacionamental-amorosa não me aconteceu na vida entre amigos: estes sempre foram os mesmos, desde a infância e pré adolescência, sempre foram parte de mim e do que tenho de melhor. Hoje cada um deles segue um rumo sem mim: alguns já tem filhos, outros estão casados, outros com excelentes trabalhos, perspectivas, etc, etc. A maioria deles ainda vive em São Paulo, o que mantem o meu "elo" com essa cidade ainda vivo, orgânico, apesar do meu sotaque, vícios e costumes não serem mais iguais aos deles.
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Por aqui fiz bons amigos; desses de se levar pelo tempo e espaços afora. Trabalhei durante seis anos na Pastoral da Juventude e em outros trabalhos voluntários, graduei-me em Letras pela Universidade Federal de Viçosa, vi uma série de gentes nascer, morrer, renascer; tive três relacionamentos relevantes, com pessoas muito legais, aprendi muito com a vida, desaprendi muito também, cresci em uma série de aspectos e atrofiei uma série de outros, talvez devido a comodidade em que ainda me encontro....(a de ter 25 anos e viver com meus pais). Encontrei felicidade por aqui, inventando-a algumas vezes ou sentindo-a realmente, mas o fato é que hoje inicio a minha maturidade, a mulher que serei daqui pra frente e tenho dúvidas sobre o que quero, quem sou, qual o espaço a que pertenço.
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Tenho um professor judeu que, entre idas e vindas, é uma das pessoas que mais admiro, além de referência não só acadêmica. Na última aula, uma das melhores desse mês (...em que estou deveras apática para as coisas da vida e do futuro), ele contava sobre o espírito "diáspora" que une a todos os judeus, transfigurando a noção de espaço, de pátria, de amor. A pátria pode ser também móvel, isto é, ela está mais para os valores e crenças que trazemos conosco, possibilitando assim a felicidade em qualquer meio, chão, cidade, país. Conheço pessoas de outros países que, apesar da saudade, conseguem se estabelecer muito bem aqui, o que não me impressiona, visto que o Brasil sofre de um intenso complexo de identidade e baixa auto estima, como o sujeito que sempre aprecia mais o que não é seu. Que seja. Que sejam todos bem vindos, não é esse o foco.
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Não há foco, na verdade.
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Essa semana conheci o Rio, fiz a primeira de muitas viagens que me esperam por lá; passei momentos muito bons...outros nem tanto. Cheguei segunda em casa com uma desorganização ainda pior, mais profunda, uma ligeira depressão: meu quarto (que atualmente tem as cores do Tricolor Paulista) ainda está bagunçado, a mala de viagem sobre o chão, a alma desassossegada como a de quem estava num sonho, ou pesadelo, mas que ainda dorme. Saímos, divertimos-nos, rimos, mas falta um pouco de realidade para as coisas. Estou triste, inconformada, com saudade de outros espaços, não quero mais ficar aqui, porém, só quero ir embora por mim mesma (e não por outrem) e isso exige uma convicção menos apaixonada, mais fria, a que nem sempre está.
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É mas não está. Como o amor que nem sempre é apaixonado.
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Queria ter eu o espírito semita da diáspora, como o daquele homem, mas eu ainda me conecto às pessoas de cada lugar, substituindo, assim, o meu medo do vazio.
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Mas alcanço um limite de qualquer coisa dessa vez. Cada dia dessa semana foi como um susto, um dia que se movimentou por força externa, não por mim mesma, como se chegasse a vez do meu desarranjo (ou arranjo). Quase como se nascessem asas em mim, daí a dor nas costas que me acomete há mais de mês, além de uma tosse absurda que não tem fim (tosse nervosa). Preciso fazer algumas pequenas escolhas, dentro daquilo que já escolheram por mim. Acho que é isso o que me falta agora.
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Olho neste momento o dicionário e escolho uma palavra aleatória: IMPROBIDADE "...qualidade de ímprobo; falta de probidade, desonestidade, fraude.
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Tudo bem, eu sabia que era mentira.
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Na verdade não, eu ainda acredito.
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"O teu amor é uma mentira
Que a minha vaidade quer
E o meu, poesia de cego
Você não pode ver..."
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Ainda acredito que em toda mentira há um princípio de verdade: por de trás da camisa do São Paulo, ela usava um bustiê corinthiano, mas só a melhor amiga e o primeiro namorado souberam disso.
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Bom dia!
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[ Para os curiosos de plantão, a prole bebetiana: ]
Mattheus
Sthéphanie
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Flor de Tamarindo
Noites no Leão (ANO 2)
"...Mantenho o passo alguém me vê
Nada acontece, não sei porque
Se eu não perdi nenhum detalhe
Onde foi que eu errei
Ainda encontro a fórmula do amor..."
...."...É preciso amaaaarr asssssss pessoasssssssss (todas!)
como se não houvesse amanhã
porque se você paraaaaaaar pra pensar
na verdade não há".
...
Fim da noite:
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quinta-feira, 25 de agosto de 2011
Olhos corujosos
...
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Novas idéias me surgem (idéias ainda acentuadas), vontade do novo, deixar o velho sobre o velho, distinguir o velho que se pode reciclar.
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Uma estranha paz me acometeu, depois de uma turbulência interior. Será um sinal?
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Boa Tarde!
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
Metas...
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Revelação: A representação do homem pós moderno em "Deixa acontecer".
Deixa acontecer naturalmente
Eu não quero ver você chorar
Deixa que o amor encontre a gente
Nosso caso vai eternizar...(2x)
Você já disse que me quer
Prá toda a vida, eternidade
Quando está distante de mim
Fica louca de saudade...
Quem a razão do seu viver
Sou eu!
Está tudo bem, eu acredito
Eu não tô duvidando disso...
Só que eu tenho muito medo
De me apaixonar
Esse filme já passou
Na minha vida
E você tá me ajudando a superar
Eu não quero ser um mal
Na sua vida...
(Repete 345 vezes...)
....
De acordo com MELLO (2011), pode-se perceber que o discurso elaborado pelo grupo de pagode Revelação, composto por homens brasileiros heterossexuais, metonimicamente reinventa o homem pós moderno a partir de um comportamento padrão. Provavelmente, a faixa etária do homem em questão está situada entre 17 a 77 anos. Trata-se de um homem cuja preocupação central é o próprio umbigo: o quarto verso da primeira estrofe "...nosso caso vai eternizar" metaforicamente tenta convencer a parceira de que a força do amor selará a relação do casal, quando, de fato, temos uma antítese sintomática (ato falho) CASO versus ETERNIDADE, mostrando-nos que o homem exemplo não só teme os arranjos sociais "formais" (relação estável, namoro, casamento), como também pretende enrolar o máximo a parceira até que esta se convença de que é uma idiota e abandone a canoa (furada).
...
Pode-se perceber ainda a tentativa do homem em reverter o foco do discurso: ele se auto caracteriza como sofredor, enganado, encurralado pelas circunstâncias e projeta tal idealização na parceira, caracterizando-a como aquela cujo enorme coração lhe garantirá a paciência e tranquilidade necessária para que ele permaneça no núcleo "cafajeste" da sociedade , sem maiores cobranças. Implicitamente, o homem pós moderno atribui toda culpa disso a mulher "VOCÊ disse que me quer, VOCÊ fica louca de saudade, Já vi esse filme (isto é, já fui enrolado por OUTRA mais esperta que VOCÊ ).
...
Eximindo-se de qualquer responsabilidade enquanto "casal", ele ludibria a mulher (do primeiro ao último verso, em todas as 345 repetições), construindo um texto fraco do ponto de vista formal, apresentando inúmeras incoerências, clichês e tautologias, cuja mensagem final poderia se resumir em:
1) "Não quero ser um mal na sua vida" = Não quero compromisso.
2) "Nosso caso vai eternizar" = Não quero compromisso.
3) "Eu não quero ver você chorar" = Odeio ser cobrado e não quero compromisso.
4) "Deixa que o amor encontre a gente"= Não quero compromisso.
5) "E você tá me ajudando a superar" = Você é gostosa, mas não quero compromisso.
Música de bolso
*Mão no bolso. Foto de Vitor Antunes.
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Qual sua música de bolso, leitor?
Boa Noite!
[...]I never thought you were a fool
But darling, look at you
You gotta stand up straight, carry your own weight
These tears are going nowhere, baby
You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment and now you can't get out of it
Don't say that later will be better now you're stuck in a moment
And you can't get out of it
I will not forsake, the colors that you bring
But the nights you filled with fireworks
They left you with nothing
I am still enchanted by the light you brought to me
I listen through your ears, and through your eyes I can see...
(Stuck in a moment you can´t get out - U2)
Arroz-Feijão
*Felicidade. Por Alex
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quando a gente acordar
quero te dizer que a felicidade vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens, vai
desabar sobre os homens.
(Menina, amanhã de manhã
O Sonho voltou- Tom Zé)
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Voltava para casa na tarde de hoje acompanhada por meus anjos e demônios, quando no ônibus em que me encontrava aproximaram-se três homens e uma mulher, aparentemente amigos, sentando todos perto de mim. Minutos depois, um rapaz um pouco mais jovem entrou no ônibus, sendo "convidado" para se aproximar da turminha da terceira idade..."Vem pra cá, pro fundão".
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Achei curiosa a felicidade daquelas pessoas. Os três senhores, a senhora e o rapaz, juntos, passaram dois trotes para pessoas diferentes...coisa que fazia quando criança e que confesso sentir um pouco de saudade, isto é, a alegria brejeira de fazer o outro de bobo. Riam como se fossem meninos e menina.
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Certo tempo depois, diz a mulher "...Vocês podiam fazer uma vaquinha pra eu comprar um celular novo! Cada um de vocês me dá x reais, menos você, né fulano, que é mais pobrinho...hahaha". Achei a cena engraçada, a felicidade que acontece quando se tem intimidade, entre amigos, é a melhor de todas.
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Meu dia foi bom. Consegui um trabalho...na verdade são poucas aulas por semana, mas não estou reclamando. Decidi, finalmente, estudar para o mestrado, estudar possibilidades de lugares, projetos, pré projetos, etc. Ontem, uma cervejinha à tarde e outra à noite com uma grande amiga, para atualizar as fofocas dos últimos dias...sim, foram precisos dois encontros para isso.
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Menina, ela mete medo
menina, ela fecha a roda
menina, não tem saída
de cima, de banda ou de lado.
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A felicidade vai desabar sobre os homens e não adianta se enconder de baixo da cama; ela vem, sorrateiramente e te pega de jeito. Possivelmente, ela está mais próxima do que se pensa, como arroz-feijão, música de Tom zé (que adoro) e encontro com os amigos num ônibus lotadíssimo, em horário de pico.
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É preciso segurá-lo: o jogo. Também o de cintura.
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Boa Noite...
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Amor
*Bondinho. Foto de Aleximan Thiengo Zegarra.
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(Leonard Cohen)
Faltava direção a sua vida. Dificilmente distinguia as ruas por onde passava, vivia num mundo paralelo em que a uniformidade dos passos, bondes e desejos desembocava para o mesmo lugar. Não prestava muita atenção ao espaço, preocupava-se por demais com a complexidade do tempo, interno, não enxergava as cores - talvez sofresse de daltonismo congênito, ainda não se conhecia plenamente. Pensou, por um instante, em tomar aulas de direção, havia um pouco de dinheiro guardado, era o momento certo para ultrapassar o medo das coisas.
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Gostava de pessoas e costumes. Passou a observar a avó com mais afinco ao descobrir a doença que lhe acometia, Alzheimer, uma ode à memória. Para ambas, iniciava-se o milagre: depois de tantas perdas, a possibilidade do esquecimento natural da vida, do que já não existia, era sinal de compaixão. Mirava-a com excesso de amor, todas as noites, na expectativa pelo instante em que seu nome, assim como os dos outros netos, tornar-se-ia pó.
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Era orgulhosa e má. Poucos sabiam dessa verdade, poucos a haviam despido até a revelação de que, no fundo, sua humildade era mesmo egoísmo ao avesso. Sentia-se diferente, tinha conhecimento de sua fortuna, mas optava por reduzi-la ainda mais para anular-se. Buscava inconscientemente o sofrimento por medo da vida autêntica, das pessoas autênticas, das ruas autênticas: conformava-se, sempre, com o último lugar, por não suportar o peso das frustrações necessárias, aquelas que levam a certa felicidade.
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Limitava-se por preguiça. Uma vez, quando pensou em ir mas não foi, desistiu de todos os outros encontros. Passou metade da vida à espera de um milagre, qualquer coisa que a mantivesse suficientemente inebriada, até o encontro com a realidade. Era feliz junto do outro, quando se deparava com o encantamento alheio; porém, em si mesma esvaziava-se de qualquer companhia, buscava a solidão como circunstância, permanecendo sempre no mesmo lugar.
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Nascera culpada.
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Ainda assim, sentia-se admirada sem entender o porquê. Conquistava sem dificuldade o carinho das pessoas, penetrava na vida do outro por acidente, mas permanecia por gosto, criando vínculos reais e duradouros, como se seu nome incitasse espécies de amor que ela mesmo não percebia, não sentia. Fazia-o por casualidade: a vida a chamava muitas vezes, ela preferia não estar lá, mas com a mesma distração com que caminhava pelas ruas, encontrava, quase sem querer, as pessoas certas nos momentos igualmente certos.
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Tinha a coragem dos tolos. Sobre o fogo, prostrava suas mãos sem sentir menor sinal de dor. Tinha uma confiança secreta, em si mesma e na vida, confiança que lhe atraía para as situações mais difíceis com uma frequência natural. Orgulhava-se disso, sem perceber, contudo, a funcionalidade de tamanha sorte, sorte que a conduziu por lugares que nunca teria conseguido chegar sozinha. Como lhe disseram certa vez, fora escolhida tantas vezes para acompanhar os que amava para o além morte devido ao conforto e serenidade que também é quando mente.
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Mas não sabia mentir bem. Irritava-se ao ter que fazê-lo, torturando-se. Secretamente, acreditava que sua vida daria um romance ou um pequeno conto...(enfadonho, que ela mesma escreveria ao não ter mais soluções).
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Gostava da sua companhia, das horas imperceptíveis que passava ao seu lado. Gostava do seu jeito de rir, do seu olhar, da sua voz, do modo narcíseo com que ajeitava o cabelo; gostava da chatice e insegurança dele, nas quais ela se reconhecia (ainda que num grau maior). Eram essencialmente diferentes, mas conectavam-se com facilidade, como que por mistério. Talvez ela o amasse, talvez ele a amasse - de um modo estranho e inclassificável. Talvez ele não a amasse, talvez ela houvesse sido um de tantos outros caprichos que ainda o esperam. Talvez ela o odeie.
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Nesta manhã, pretendeu um súbito Alzheimer; não tentou, apenas esqueceu. Atravessou a rua olhando para os lados, buscando uma direção já conhecida. Despencou novamente do sétimo andar. Sentiu-se feliz por estar viva, comprou uma caneta e recomeçou.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Rumo
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Auto ajuda de boteco
O vaso de porcelana e a rosa
O Grande Mestre e o Guardião dividiam a administração de um mosteiro zen. Certo dia, o Guardião morreu e foi preciso substituí-lo.
O Grande Mestre reuniu todos os discípulos para escolher quem teria a honra de trabalhar diretamente ao seu lado.
-Vou apresentar um problema – disse o Grande Mestre. – E aquele que o resolver primeiro, será o novo Guardião do templo.
Terminado o seu curtíssimo discurso, colocou um banquinho no centro da sala. Em cima estava um vaso de porcelana caríssimo, com uma rosa vermelha a enfeitá-lo.
-Eis o problema – disse o Grande Mestre.
Os discípulos contemplavam, perplexos, o que viam: os desenhos sofisticados e raros da porcelana, a frescura e a elegância da flor. O que representava aquilo? O que fazer? Qual seria o enigma?
Depois de alguns minutos, um dos discípulos levantou-se, olhou o mestre e os alunos a sua volta. Depois, caminhou resolutamente até o vaso, e atirou-o no chão, destruíndo-o.
-Você é o novo Guardião – disse o Grande Mestre para o aluno.
Assim que ele voltou ao seu lugar, explicou:
-Eu fui bem claro: disse que vocês estavam diante de um problema. Não importa quão belo e fascinante seja, um problema tem que ser eliminado.
“Um problema é um problema; pode ser um vaso de porcelana muito raro, um lindo amor que já não faz mais sentido, um caminho que precisa ser abandonado – mas que insistimos em percorrê-lo porque nos traz conforto”.
“Só existe uma maneira de lidar com um problema: atacando-o de frente”.
Nessas horas, não se pode ter piedade, nem ser tentado pelo lado fascinante que qualquer conflito carrega consigo”.
domingo, 14 de agosto de 2011
Mural
Quando chegar em casa, prometo escrever um pouco sobre a experiência hospitatar.
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Gosto de hospitais. Já estive dos dois lados, de familiar em desespero a paciente inconsciente, e penso que os dois momentos podem trazer aspectos positivos, quando bem experimentados.
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Essa noite, presenciei uma cena mística: um senhor, pastor evangélico, orava para um jovem vítima de um acidente de carro. Foi uma das cenas mais bonitas que pude presenciar.Embora não tenha muito jeito pra essas coisas que só a fé resgata, gosto de observar a presença de Deus nas coisas triviais, como se o milagre fosse o detalhe imperceptível.
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Bom dia e Feliz dia dos pais!
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Sem amor, só a loucura*
* Caio Fernando Abreu
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"Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro- e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data."
(Caio Fernando Abreu)
Sorrateiramente
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- Só a verdade libertará! - disse o galo à galinha.
- Que é a verdade? - perguntou a galinha, instigada pelo demônio da dúvida.
- Coricó! - respondeu o galo, que desconhecia a existência dos urubus e a funcionalidade do céu.
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Enquanto isso, algumas "milhas" dali, uma galinha d'angola tomava aulas de vôo com um jacu, sorrateiramente.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Solucionando problemas
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Maturidade é encarar com objetividade e realismo os desafios do dia a dia, sem perder o otimismo: é o assumir da vida tal qual ela se apresenta, modificando-a a partir do esforço pessoal e do trabalho coletivo.
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A maturidade é contrária ao escapismo: ao solucionar problemas, devemos abrir mão de nossas crenças fantasiosas, superstições inconsequentes, utilizando o bom senso e equilíbrio para o cumprimento de nossas tarefas, alcançando, dessa forma, nossos objetivos e metas através da razão e do trabalho.
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Maturidade de c* é r*l*: Como organizo um despacho?
Para todos aqueles cujo inferno astral sofreu um adiantamento de 3 meses:
BOM DIA!
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Cá entre nós...
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Noites no Leão (ANO 2)
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Afinal de contas, é preciso muito charme e encanto para ser escolhido como convidado VIP em meio a "milhares" de pessoas...("milhares" de pessoas sem sex appeal!PIADA INTERNA).
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Por fim, os dias têm sido bons: a procura por trabalho continua. Com experiência ou não (porque o ponto de vista é a vista de 1 ponto), sei que de fome não morro: jogando Tarot para uma amiga, percebi que na pior das hipóteses mudo-me para o Pará e dou início a algum empreendimento místico na "terra do meio".
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Pergunta: em que espaço do meu Lattes acrescento "Taróloga há mais de 15 anos?".
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Boa Tarde!
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Ah, claro: Diálogos "destaques da noite" (Para I,D, M, Re e Jo):
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x: - Oi!! Nossa, quanto tempo, tudo bem?? Como você tá?
y: - Oi!! Tudo bem...estou muito bem, só sem esperança!
x: - Então tá!
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x: - E essa chuva negra, hein?? Vou me resfriar...
y: - Dilúvio negro, você quis dizer!
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Uma puta...
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Pior que isso, apenas isto: estou desempregada e com uma puta preguiça de qualquer coisa além de mim mesma.
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Tive um professor no ensino médio (...daqueles professores que nos marcam pela vida afora, seja por bem ou por mal, como todos nós almejamos na vida docente) que nos disse certa vez, em uma aula de matemática: "Imagine o que vocês querem ser daqui a cinco anos. Imaginaram? Pois bem, vocês nunca chegarão lá se não começarem hoje as mudanças necessárias para os próximos cinco anos".
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Lembrei-me desse dia com uma nitidez quase profética, senão assustadora. Sei o que gostaria de ser em cinco anos; porém, estou adiando toda e qualquer mudança simplesmente por falta de fé nas coisas. Reduzi o meu rítmo, também mental, ao nulo; tenho dormido dez horas por dia - eu que sou mestra em virar noites e noites, sem o mínimo sinal de sono e cansaço; não tenho saído, não vejo meus amigos desde a formatura, não gostaria de viajar tão cedo, não vou mudar meu corte de cabelo, à la Jackson´s style.
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Ontem, quase me rendi à Tela Quente.
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A verdade é que não sei brincar o jogo da vida! Sempre gostei mais da realidade nonsense, para o jogo e para o amor.
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Será preciso poucos dias para que entreguem o Jogo da Vida da família moderna, depois d'eu fazer o pedido, obviamente. Para o jogo das coisas superiores que nos move e molda, é preciso, primeiramente, que eu abra o tabuleiro sobre a mesa; depois, jogue os dados, escolha a personagem e caminhe, caminhe, caminhe ...sete casas, até que a morte separe a pessoa que serei daquilo que fui buscar.
...
Quanto a Pedro, ele há de se encontrar.