O amor se desculpa por não amar.
Cansado, ansioso, melancólico e triste,
decidiu hibernar, atrofiar, anoitecer:
Negou a natureza de seus pais e avós,
de todos os seus tios, primos de primeiro e segundo grau:
amar, amar, amar.
O amor se desculpa por ser sem-vergonha.
Passou o carnaval no Rio de Janeiro sem avisar,
cansado que estava de atender um celular:
Negou a natureza de seus pais e avós,
de todos os seus tios, primos de primeiro e segundo grau:
doar, doar, doar.
O amor se desculpa por mentir.
Fez pacto com o ódio, escondido e às avessas,
longe que estava da lucidez, preguiça de presença:
Negou a natureza de seus pais e avós,
de todos os seus tios, primos de primeiro e segundo grau:
perdoar, perdoar, perdoar.
O amor se desculpa por pedir o divórcio.
Achou no dicionário o vocábulo elegante,
solução emergencial para os problemas que muitos de seu sangue viveram:
Negou a natureza de seus pais e avós,
de todos os seus tios, primos de primeiro e segundo grau:
renascer, renascer, renascer.
...
A corda com nó frouxo fez chegar ar novo ao coração do amor.
Mudou-se de cidade, identidade e profissão.
Fugiu, escafedeu-se, partiu (corações):
Aceitou a natureza dos ancestrais de todos os graus,
e de todas as castas e nações:
poemizou-se.