Havia certa expectativa diante dos sinais de cotidiano que a cidade projetava em seus transeuntes. Expectativa não tão capitalista quanto se imaginava; vivia-se a doce espera de um não sei o quê, surgida nos corações desavisados dos que estavam perto da rodoviária velha, assistindo a cidade nascer de camarote. Estávamos lá, eu e o mundo.
Nascia-se com a cidade, para um mundo comum, que de tantos dias iguais fazia-se diferente naquela manhã cinza e ensimesmada de claridade cotidiana: As luzes. O lixo espalhado pelas calçadas, esquinas, sarjetas: As luzes; O cansaço dos camelôs, montando tendas de sonhos baratos e consumíveis: As luzes; o ponto de ônibus vazio: As luzes; O novo homem sempre-amado, sério atrás dos óculos novos, apressado para estar junto de minha saudade: As luzes; pequena cidade-elefante onde já existi: As luzes; O messias enfeitiçado ornamentava o templo de sua mãe, no seio da Castelo Branco com flores mortas, garrafas, delírios, transgressões e infância - As luzes.
Eu sonhava luzes. Luzes que manipulavam os meus desejos, ainda que fossem tão meus (meus e de toda aquela gente que sofre, que é mortal, mas que ornamentava a imagem de Nossa Senhora junto do messias transgressor na Castelo Branco).
Tenho preguiça de ver o que as pessoas vêem; eu olhava para a rodoviária em busca de qualquer sinal de morte, mas só havia vida....e eu já não queria estar ali porque sentia saudades do útero materno. Eu estava sendo parida, e doía saber que nasceria para aquele mundo tão humano, tão cheio de gente à espera de partidas.
Vencia a morte o menino Deus: Nós nascíamos mais um dia, e de tanto insistir, viveríamos mais um Natal.
Em qualquer parte da rodoviária, percebiam-se desejos diferentes emanados dos corações das pessoas. Os bêbados, os loucos, os marginalizados, os obscuros – toda essa gama de gente, da qual eu era excluída, incumbia-se de iluminar às vidas de todas as outras pessoas adormecidas, com um encanto místico e profético: os pobres, os bêbados, os loucos, as crianças, os velhos, os sofredores, os esquecidos, os imundos e os abandonados – os místicos.
Há sete anos que o Natal me fala de um menino Jesus tão lindo que ficou lá longe, guardado numa história de carochinha. Esse menino Jesus tinha os olhos verdes que de tão claros refletiam o céu daquela roça esquecida no meu sonho. Tombo.
Da Cachoeira, eu o via: Moreno. Sorria de fazer inveja a qualquer esboço de felicidade. O menino Jesus do qual me recordo sentiu medo de sua paixão mas a viveu até o fim, ressuscitando em minha memória, no limite do terceiro dia. Nunca o esqueci, trago-o comigo, como uma fotografia velha de sete faces que me guardam e velam nos dias tristes. Um delicado patuá.
Nunca esqueci aquela despedia: eu, o menino Jesus e o anjo; eu, a capela velha e o abraço.
Estas recordações me surgiam enquanto esperava qualquer coisa acontecer na rodoviária velha. Observava lentamente os passantes e imaginava as lembranças que traziam consigo para este natal, bem como as esperanças que nutriam de um futuro bom.
Encarnava em cada uma daquelas vidas e recordações o menino Cristo, no dia de Natal.
O Natal nada mais é que um mistério cotidiano inventado pelos místicos do meu tempo, enfeitiçados por uma saudade de não sei o quê: os pobres, os bêbados, os loucos, as crianças, os velhos, os sofredores, os esquecidos, os imundos e os abandonados.
Deus menino que se apresenta como encarnação permanente, renovando-se em cada amanhecer e despedida, como a mais miserável vida humana, misteriosamente compreendida em início, eternidade e fim.
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(Amigos
Não gosto muito de Natal...Lembro-me constantemente do meu irmão Cleiton e de tantas outras pessoas neste dia...além de detestar as musiquinhas!! mas, de qualquer forma, desejo a todos vocês um dia muito feliz ao lado daqueles que vocês amam....Um Beijo!).
Nascia-se com a cidade, para um mundo comum, que de tantos dias iguais fazia-se diferente naquela manhã cinza e ensimesmada de claridade cotidiana: As luzes. O lixo espalhado pelas calçadas, esquinas, sarjetas: As luzes; O cansaço dos camelôs, montando tendas de sonhos baratos e consumíveis: As luzes; o ponto de ônibus vazio: As luzes; O novo homem sempre-amado, sério atrás dos óculos novos, apressado para estar junto de minha saudade: As luzes; pequena cidade-elefante onde já existi: As luzes; O messias enfeitiçado ornamentava o templo de sua mãe, no seio da Castelo Branco com flores mortas, garrafas, delírios, transgressões e infância - As luzes.
Eu sonhava luzes. Luzes que manipulavam os meus desejos, ainda que fossem tão meus (meus e de toda aquela gente que sofre, que é mortal, mas que ornamentava a imagem de Nossa Senhora junto do messias transgressor na Castelo Branco).
Tenho preguiça de ver o que as pessoas vêem; eu olhava para a rodoviária em busca de qualquer sinal de morte, mas só havia vida....e eu já não queria estar ali porque sentia saudades do útero materno. Eu estava sendo parida, e doía saber que nasceria para aquele mundo tão humano, tão cheio de gente à espera de partidas.
Vencia a morte o menino Deus: Nós nascíamos mais um dia, e de tanto insistir, viveríamos mais um Natal.
Em qualquer parte da rodoviária, percebiam-se desejos diferentes emanados dos corações das pessoas. Os bêbados, os loucos, os marginalizados, os obscuros – toda essa gama de gente, da qual eu era excluída, incumbia-se de iluminar às vidas de todas as outras pessoas adormecidas, com um encanto místico e profético: os pobres, os bêbados, os loucos, as crianças, os velhos, os sofredores, os esquecidos, os imundos e os abandonados – os místicos.
Há sete anos que o Natal me fala de um menino Jesus tão lindo que ficou lá longe, guardado numa história de carochinha. Esse menino Jesus tinha os olhos verdes que de tão claros refletiam o céu daquela roça esquecida no meu sonho. Tombo.
Da Cachoeira, eu o via: Moreno. Sorria de fazer inveja a qualquer esboço de felicidade. O menino Jesus do qual me recordo sentiu medo de sua paixão mas a viveu até o fim, ressuscitando em minha memória, no limite do terceiro dia. Nunca o esqueci, trago-o comigo, como uma fotografia velha de sete faces que me guardam e velam nos dias tristes. Um delicado patuá.
Nunca esqueci aquela despedia: eu, o menino Jesus e o anjo; eu, a capela velha e o abraço.
Estas recordações me surgiam enquanto esperava qualquer coisa acontecer na rodoviária velha. Observava lentamente os passantes e imaginava as lembranças que traziam consigo para este natal, bem como as esperanças que nutriam de um futuro bom.
Encarnava em cada uma daquelas vidas e recordações o menino Cristo, no dia de Natal.
O Natal nada mais é que um mistério cotidiano inventado pelos místicos do meu tempo, enfeitiçados por uma saudade de não sei o quê: os pobres, os bêbados, os loucos, as crianças, os velhos, os sofredores, os esquecidos, os imundos e os abandonados.
Deus menino que se apresenta como encarnação permanente, renovando-se em cada amanhecer e despedida, como a mais miserável vida humana, misteriosamente compreendida em início, eternidade e fim.
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(Amigos
Não gosto muito de Natal...Lembro-me constantemente do meu irmão Cleiton e de tantas outras pessoas neste dia...além de detestar as musiquinhas!! mas, de qualquer forma, desejo a todos vocês um dia muito feliz ao lado daqueles que vocês amam....Um Beijo!).
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