Doce de leite com queijo de minas :D. Foto de Marta Bucher.
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Preciso, urgentemente, de um ginecologista.
Preciso, urgentemente, de um oftalmologista.
Preciso, urgentemente, de um cirurgião dentista.
Preciso, urgentemente, de um periodontista.
Preciso, urgentemente, de um otorrinolaringologista.
Preciso, urgentemente, de um dermatologista.
Preciso, urgentemente, de um podólogo.
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Preciso, sem demasia, de um céu acinzentado.
Preciso, sem demasia, de um labirinto humano - pedra ou aço.
Preciso, sem demasia, de uma amnésia súbita - fatal.
Preciso, sem demasia, de vinte e oito noites - num dia.
Preciso, sem demasia, de uma convulsão patológica - crônica ou poética.
Preciso, sem demasia, de um eletrocutamento divinal.
Preciso, sem demasia, de um podólogo.
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Preciso, em diminuto, de uma ponte marginal - viadulto.
Preciso, em diminuto, de uma nova langerie - vinho.
Preciso, em diminuto, de um amor que se esvai - por entre os poros.
Preciso, em diminuto, de uma taça de azeite - Português.
Preciso, em diminuto, de um chão cinza de porto - morto e mal amado.
Preciso, em diminuto, de um alargamento de alma - para os dentes frontais.
Preciso, em diminuto, de um podólogo.
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Preciso, religiosamente, de uma limpeza de pele - seca.
Preciso, religiosamente, de uma chuva que desce - seca.
Preciso, religiosamente, de uma folha que adere - seca.
Preciso, religiosamente, de um vinho sangrado - seco, maduro, raso.
Preciso, religiosamente, de uma versão amarelada de mim - sem o contorno dos lábios.
Preciso, religiosamente, de uma melodia que se repete - castigo, flagelo, som.
Preciso, religiosamente, de um podólogo.
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Vence o desencontro, do que se pode chamar de azar ou necessidade.
O queijo e a faca nas mãos - tínha-se.
As mãos, desalmadas e insatisfeitas, não fizeram mais que o habitual:
Colaterizar o efeito do nada, ausência de pó-do-logos:
O Verbo que não se encarnou.
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