quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Escrever, dançar, lecionar.

*As mãos seguram a liberdade dos sonhos. Foto de António Costa.
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Um post sobre qualquer coisa.
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Pessoas me perguntam qual seria o gênero ou sub gênero do Sofia de Buteco, na medida em que todo Blog parte do princípio do diário pessoal (claro que atualmente encontramos inúmeras funcionalidades para um Blog, desconstruindo a idéia "bruta" que se tem do gênero). Nestas situações, afirmo que o Sofia nada mais é que um diário pessoal - sim, pessoal - porém ficcionalizado. Há quem se surpreenda com a liberdade adotada pela bloggeira que vos escreve para tratar uma infinidade de temas tão particulares. Pois bem: esse é o barato da coisa, confundir! Todos os posts estão diretamente relacionados a minha vida pessoal, sem dúvida, mas nem tudo o que escrevo é verdade, de modo que com muita frequência utilizo uma lente especial, capaz de ampliar toda e qualquer realidade subjetiva a fim de realizar uma narração mais interessante e também universal. Falar de mim é muitas vezes falar de uma série de outras pessoas. O contrário não deixa de ser verdadeiro: uma música ou fato vivenciado por outrem pode significar mais verdade "intima" que qualquer outro subsídio assindado em meu nome.
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Escrever é o que mais gosto de fazer na vida. Na falta de "dom" para um livro de crônicas (um projeto pessoal da "infância"), inventei o Sofia. A idéia não é a qualidade da escrita, o comprometimento crítico-literário; não! O objetivo maior é o da minha auto satisfação. Escrever essa bagaça me diverte um tanto, e saber que há quem leia toda essa bobagem me diverte ainda mais! A troca entre interlocutores é sempre positiva, independente do tom (MESMO).
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Assim que aprendi a escrever, surgiu-me um calo horroroso no dedo médio da mão direita. Por volta dos sete anos, assistia tranquilamente minha querida Sessão da Tarde, quando num filme que não recordo o nome, ouvi a seguinte fala de uma espécie de feiticeira: "Quem nasce com um calo no dedo médio da mão esquerda é porque tem o dom da escrita: você será um escritor". Pronto! Tudo o que eu precisava para sonhar! Meu calo não é de nascença, tampouco na mão direita; mas, a partir de então, adaptei minha realidade assim-assim e coloquei na cabeça que um dia eu também escreveria um livro, porque havia sido escolhida pelo calo da vida. Tenho uma caixa velha com uma série de textos que fiz ao longo da infância, alguns grotescos, outros bem divertidos; alguns até bem escritos para a idade que tinha. Crônicas, livrinhos de estorinhas dos Cavaleiros do Zodíaco (com minhas próprias ilustrações) e alguns poemas horrendos...rs. Guardo-os todos porque são memória, e toda memória merece o patamar da escrita, da eternidade ante a ação do tempo.
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Tenho uma extensa coleção de cartas que recebi de pessoas muito especiais. Diários, agendas, álbuns de recortes, guardanapos, folhas secas, tudo o que me é simbólico. Não tenho coragem de jogar todo esse passado no lixo; tal caixa me é sagrada como um relicário.
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Depois da escrita, a dança (e por consequência a música). É Santo Agostinho (acho) quem nos disse:
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"
Eu louvo a dança, pois ela liberta o ser humano
do peso das coisas - une o solitário à comunidade.
Eu louvo a dança, que tudo pede e tudo promove:
saúde, mente clara e uma alma alada."
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Danço o tempo todo. Atravesso a rua dançando, tenho comigo um MPX embutido na alma com uma coletânea de músicas que amo. Só a dança/música é capaz de dar vida ao homem, fazendo-nos emegir da mediocridade, da falta de cor, da solidão. A música é a expressão do espírito de Deus; a dança, do corpo.
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Não há um dia sequer em que não pense em voltar a dançar, e ultimamente este pensamento tem se tornado obsessivo. Parece loucura, mas há dias que a coda de Cisne Negro não me sai da mente pra nada; é tão nítida quanto a imagem da Alícia Alonso em seus triplos fouetees. Cada um com suas manias...
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Por fim, lecionar. Nunca me vi professora, nunca sonhei em sê-lo, mas hoje não me imagino fazendo qualquer outra coisa. Confesso que morro de preguiça de preparar aula, detesto acordar cedo, entre outras coisas tão necessárias para se ter disciplina; mas, apesar disso, não há melhor espaço no mundo que a sala de aula, uma espécie de palco circular em que todos dançam, todos protagonizam, com ou sem máscaras.
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Eis o que esta tríade tem em comum: a máscara. Precisamos de máscaras para dançar, mas também para escrever e ser professor. Isso não é sinônimo de falta de transparência, muito pelo contrário. A verdade continua presente mesmo sob o disfarce escolhido, continua clara. Quem nunca deu uma aula sobre um tema chatíssimo como se falasse do sublime?
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Porque lecionar é a arte que move todas as outras.

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