domingo, 31 de dezembro de 2017

DA BICICLETA COR DE ROSA AO FEIJÃO DE CORDA: RESUMO 2017


                         

                                                               fonte: https://br.pinterest.com/pin/296885800405213151/?autologin=true



* ao som de Midnight Waltz, por David Garrett



Inicio este texto sem saber por onde começá-lo ou terminá-lo. Quando o Sofia de Buteco era mais visualizado, costumava sempre fazer uma espécie de retrospectiva do meu ano, costume que carrego desde os cinco ou seis anos de idade em meus diários infantis. Hoje, no entanto, o Sofia se tornou o meu diário. Por mais que tente o uso de outras vozes e ficções, a narradora predominante sou eu e qualquer leitor acostumado a minha escrita é apto para reconhecer quando é ou não a minha voz a ser manifestada. Ainda treino para sair de mim mesma, do meu egocentrismo e assim me tornar escritora, um dos sonhos que ainda permanece. Mas é difícil desvencilhar-me de quem sou. É um exercício que me exige uma disciplina que ainda não tenho, portanto, prevejo meu livro para daqui a alguns anos ainda...de cinco a oito. 

2017 para mim foi o primeiro ano punk da minha vida adulta. O último ano em que me senti assim ficou lá atrás em 2004, ou em meados de 2003 para 2004, mas todos os motivos já foram perdoados e entregues ao devir da vida. Há coisas nela que não podemos interferir e essa é a única lei que nos rege. Por mais que exista o livre-arbítrio, e nele acredito, todo livre-arbítrio é limitado e foge do nosso controle, isto é, todo livre-arbítrio é em partes ilusório. 

Mas e se não houvesse ilusão? O que nos difere dos nossos irmãos animais, além da nossa falsa racionalidade, é a nossa fé: seja em Deus, nos santos, orixás, anjos, milagres, vidências e intuições - como no meu caso; ou na força própria de cada ser, na astrologia, no solstício de inverno ou veranil. Não há ninguém no mundo que não acredite em algo, seja esse  dogmático ou irrotulável. 

Na virada de 2016 para 2017 o meu único desejo era o de comprar uma bicicleta cor-de-rosa, dessas de cestinha na qual pudesse carregar livros, flores e artigos comestíveis. Não tinha nenhuma ambição além. Quando criança, talvez aos sete, meus pais me presentearam com uma bicicleta caloi rosa, a que me deu uma felicidade inominável. Ainda que só a usasse no quintal de casa, às vezes nas ruas do meu bairro de São Paulo e frequentemente no parque Ibirapuera, quando lá vivia, era minha inesgotável fonte de alegria. Ao encontrar uma foto dela (só tenho uma ou duas fotos desse presente), senti a necessidade de comprar outra. Não se trata da piada "casar ou comprar uma bicicleta" - eu realmente queria uma e os motivos psicanalíticos para tal não nos interessam. Adoro a Psicanálise, mas desconfio de suas verdades absolutas. Meu amado terapeuta sabe disso ou hoje não seria quem sou, 

- quem sou?

Como morava com meu companheiro em Viçosa e ainda por cima também sozinha em Belo Horizonte para trabalhar e estudar, além da casa dos meus pai (porque pais...serão sempre pais), meu plano era deixá-la na casa de meu companheiro para usá-la nas retas da Universidade Federal de Viçosa quando vontade tivesse. Tenho medo de rodovias, por isso não a deixaria na casa do meu núcleo familiar, que vive em Viçosa, mas em um bairro distante do Centro, onde teria de "pilotá-la" nas curvas das estradas de Silvestre até a cidade. Comprá-la em Belo Horizonte seria impossível, pois não podemos usá-la nos parques perto de onde resido. Portanto, a casa que compartilhava com meu companheiro seria o esconderijo ideal: perto da Universidade com suas retas previsíveis e lineares.

Mas o devir me surpreendeu.

Há muitos anos estava em uma zona de conforto acreditando que meu destino estava já traçado e que as mudanças subsequentes seriam vividas a dois, sem muitas novidades. 

Ledo engano.

2017 tirou o meu sonho de bicicleta (Risos). Tirou as minhas três casas. A primeira por conta de um rompimento amoroso até hoje não resolvido (continuo comprometida, mas não sei até que ponto); a casa dos meus pais, após quatro anos não habitando nela diariamente, já não é a minha casa, senão a casa deles, com todo o direito que eles têm por terem lutado uma vida toda para conquistá-la. Chego aqui para as férias, fins de semana e aniversários familiares e me sinto uma estrangeira. A casa de Belo Horizonte é minha, contudo, com o aumento absurdo do aluguel já não a considero um lar, senão um lugar de passagem. Hoje não habito Viçosa, Belo Horizonte e tampouco São Paulo, minha terra natal. Embora os amigos de uma vida toda ainda vivam lá e me amem como sou, finalmente me dei conta de que nossos destinos nunca mais seriam os mesmos desde que de lá parti em 2004. Trata-se de uma Pasárgada, lugar das minhas memórias, mas não posso mais voltar a uma cidade que não sou mais. 

Meu lar é o meu corpo e espírito. Seja lá o próximo espaço físico que me espera, aprendi em 2017 que lar é muito mais do que uma casa: é você mesmo, com seus cômodos inóspitos, desconhecidos e assombrados.

Perdi a bicicleta, três casas, alguns amigos, alguns não amigos,  alguns sonhos, alguns projetos, não porque quisesse, mas a vida se teceu assim. Foi um ano triste e só o suportei porque descobri em mim mesma uma força fraquinha como a luz de uma vela que teima em resistir, mas também se apaga em algum momento por falta de parafina ou cera (não entendo a mecânica das velas, mas, exausta em revisar esse texto, combinemos assim).

Decidi ser eu mesma a parafina (ou cera). Quando se apaga uma vela, acendo outra, e outra, e outra, até me forçar a ir ao mercado e comprar mais três caixinhas baratas.

Decepcionei-me com inúmeras pessoas: amigos que me deixaram á mercê quando mais precisava; amigos que não fizeram por mal, mas optaram pela neutralidade à coragem da cara ao tapa. Conhecidos que não pouparam em emitir opiniões inverdadeiras sobre a minha vida, sem ao menos sequer me conhecer ou analisar o contexto das coisas. Não quero me vitimizar, isso seria um erro, porém o fato é de que certas pessoas sentem um gozo pela desgraça alheia e não me excluo disso. Porém, aprendi neste ano a ser mais empática e não julgar as loucuras alheias pelas aparências.

Condenamos as loucuras de nossos irmãos e irmãs, no entanto lemos Don Quijote como o primeiro romance moderno, mas pouca gente entende o que ele revela em suas linhas. O mesmo se dá com a Bíblia e todos os livros fundamentais da nossa cultura Ocidental. A violência, a depressão, o egoísmo, a tristeza, as redes sociais, os noticiários televisivos e a crise política em que estamos imersos  fizeram de nós seres mais individualistas e centrados apenas nos prazeres supérfluos. Uma noite regada a vinho vale mais do que a escuta de um choro sincero.

Choremos então. 

Senti-me como o próprio Jó do Velho Testamento em muitos dias deste ano: sozinha, sem amigos,  buscando apoio em remédios, cigarros, vinho, pessoas de pouca confiança. Creio que só tenha conseguido finalizar as disciplinas do meu Doutorado graças a uma espécie de dom que possuo em escrever e a existência da música. Quando não havia sons em minha casa, vozes ou estímulos, era na música que buscava a força necessária para escrever, respirar, reescrever e prosseguir. 

Não acredito em um Deus que não seja música. 

Sofri. Não nego (risos). Sofro ainda. Desloquei meu sofrimento pessoal para o sofrimento universal e passei noites em claro pensando em seres desconhecidos mas que penavam penas muito piores que as minhas. Fiz desses desconhecidos os irmãos  biológicos que a vida não me deu. 

Adoeci, perdi quilos, perdi saúde. Perdi minha bicicleta, único desejo para este ano. 

Mas chegou ao fim. E seria leviano da minha parte não agradecer aos pequenos milagres que a vida me proporcionou neste tempo sombrio.

A música. O Doutorado. A concretização da viagem dos meus sonhos que está por vir, caso a agência de intercâmbio pare de me enrolar com os documentos que preciso e a imigração britânica não me barre. Estou contente porque realizarei um projeto muito bem pensado e  poupado há dois anos para tal. 

Permaneço desempregada desde julho. Há um ano exato, certa instituição para qual trabalhei e cujo nome não posso pronunciar me deve um expressivo montante de dinheiro que por negligência ainda não recebi. Além dos problemas do coração, dos lares levados ao vento, aprendi que não devemos confiar sequer nos contratos que assinamos, pois a lei da vida é a lei do mais forte e das hierarquias que detêm o poder de seus serviçais.

Perdoar, perdoar, sempre perdoar! Mas uma coisa é certa: ano que vem entro com um processo caso não receba esse dinheiro e registro aqui para que todos o saibam.

Voltando,

a vida, que não é de todo má, trouxe-me amigas mulheres que me ensinaram o valor da sororidade, eu quem sempre fui um pouco feminista, mas com raízes de um machismo patriarcal herdado de gerações. A essas amigas, presentes, virtuais, diárias - a elas, todo o meu amor mais honesto. 

A minha família. Como a amo. Apesar dos desentendimentos normais, ainda mais depois de anos fora de casa, a gente sente o que é família quando dela precisamos. Não importa se com três dias de vida ou 11680 aproximadamente. Família não é sangue, família é força. 

Outro presente foi passar o Natal na casa dos meus tios. Já imaginava as perguntinhas indevidas as quais teria que responder e que me irritariam profundamente. Trata-se da minha família paterna que há mais de cinco anos não os visitava. Não sei, sinceramente, se meu pai antes de nossa partida a Ipanema Minas Gerais enviou no grupo de Whatsaap familiar um aviso do tipo "não perguntem nada a Amanda, ela está mais chata do que nunca", mas o fato é que fui tão respeitada, amada e bem acolhida, que agradeço a Deus e a vida por ainda ter uma família com quem partilhar o Natal. É aquela história: amor não morre. Ele fica latente em algum canto da memória, mas basta uma boa refeição com pequenas doses de cachaça artesanais para se manifestar nos mais calorosos abraços e declarações de amor sinceras. Estou muito contente pela família que me emprestaram. Conheci uma priminha linda que se fosse espírita (não o sou), diria que já nos conhecíamos de muitas e muitas outras vidas. 

Passar o meu aniversário no Rio de Janeiro também foi um desejo realizado. Sair às ruas da Lapa sozinha em um sábado à noite, não sei traduzir...Mas em cada bar, cada roda de samba, cada brasileiro ou estrangeiro que lá encontrei sentia-me completamente em casa. Será o Rio de Janeiro o meu próximo lar? Acredito que não, porém espero lá voltar, como também a minha terra natal, SAMPA, todos os anos daqui em diante. 

Ah e claro: rever o Taylor Hanson e bater papo com ele pela terceira vez na vida!

Planos?

Apenas um: decidi por vez e sem desculpas de que em 2018 voltarei a dançar. Reuni por destino as condições necessárias e agradeço a Deus por essa benesse natalina recebida dos céus graças ao telefonema de uma amiga.

Fiz as pazes com Deus, por isso já o nomeei aqui inúmeras vezes e não por erro coesivo. Não pelo regalo natalino, mas por me dar conta de que em todos esses doze meses, eu não estive só. Digamos que até excessivamente acompanhada eu estava, mesmo sem saber, mas já encaminhei as visitas inesperadas as suas verdadeiras e legítimas moradas. Não precisam compreender, leitores, trata-se de um segredo  invisível.

Minhas notas no Doutorado foram ótimas. Aprendi muito. Já decidi o meu corpus, só ainda não comuniquei ao meu orientador para poupá-lo da dor de cabeça. 

Não estou doce ou amarga. Mudei muito no último ano, cedi muito, revi muitos dos meus erros e com eles cresci. Mas não aceito mais "responsabilidades" que não são minhas.

Para não dizer que não falei das flores, além das amigas mulheres, houve uns três amigos homens a quem muito devo. E também agradeço por ter me reaproximado de um deles e entendido que o tal do livre-arbítrio...embora seja uma ilusão, é preciso que as pessoas nele acreditem e façam suas próprias escolhas. Não interferirei mais no destino dos que amo (falo de um "pequeno" específico). Mas estarei sempre ao seu lado quando de mim quiser e precisar. 

Agradeço as visitas a minha tia Marli com quem passarei o almoço de Reveillon amanhã. Ensinou-me que somente a loucura nos mantêm vivos. Hoje à noite passarei a virada com a família do meu afilhado e os seus. Se não desmarcarem antes conosco, porque são desses. Se desmarcarem, vou mesmo assim, porque também sou dessas!

Tenho minhas mandingas e para a virada de ano farei uma delas que ensino a vocês: escrevam seus desejos em uma folha sem pautas de preferência (a minha terá pautas, pois minhas linhas são tortas como as de Deus)  e depois queimem o papel em prece no fogo de uma vela branca. Alguém, asseguro, receberá essas preces, desejos e pedidos, pouco importando se realizar-se-ão ou não: valerá é que estarão arquivados em algum lugar e assim poderemos reclamar quando quisermos.

As montanhas é que movem a fé, nunca o contrário. 

Feliz ano novo:
Aos  amigos e seguidores bloggeiros,
Aos amigos de Viçosa,
Aos amigos de São Paulo,
Aos colegas de Belo Horizonte,
Aos amigos de Rio das Ostras,
À amiga de Cachoeiro,
Aos companheiros dos bares da Lapa,
Ao casal amigo do Mato Grosso do Sul e seu bebê,
À amiga de Cingapura,
À amiga do I-Ching,
À amiga que se mudou para Siguinolfi,
Às duas amigas do interior de São Paulo,
Às minhas famílias de São Paulo, Itapecerica da Serra, Canaã, Ervália, São Miguel, Viçosa, Mato Grosso, Belo Horizonte, Itália, Espanha, Abre Campo, Santo Antônio do Grama, Pocrane, Cachoeirão, Juiz de Fora, Espírito Santo (Serra), Ipanema-Minas, Caratinga, Tombo da Cachoeira (meu coração).
Às famílias e amigos de outras dimensões,
Aos amores Espanhóis...
...E às amizades Dinamarquesas também!

E aos colegas invisíveis: Santo Expedito, Sara de Kali, Ogum São Jorge, Nanã, anjos do céu e da terra, Maria and cia, Sr. Daruma, meus tarots, meu anjo da guarda, que vamos combinar: merece o Oscar por 2017! - Assim que gosto: tudo junto e misturado, como feijão de corda! 
(EXPERIMENTEI UM EM IPANEMA NO NATAL, QUE PELO AMOR DE DEUS...ESPETACULAR!)

E a Jesus e Deus que, mesmo na dúvida, disseram com seus botões: "Essa menina é estranha, mas nos diverte...deixem-na nascer de novo".

Também agradeço ao Roberto Carlos, afinal "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi."

VEJO VOCÊS EM 2018?
BEIJOS REVEILLONÍSTICOS!


...chove lá fora
Boa ventura?
Saravá!


texto revisado às 01:52 do dia 02/01/2018

Nenhum comentário:

Postar um comentário