Se eu fosse homem, eu faria o meu tipo:
Chamaria-me Giuliano e teria uns trinta e cinco,
Entederia de artes, culinária, futebol, cachaça, mulheres, cinema e discos;
Responderia as suas mensagens, emails, cartas de amor e telefonemas - compulsivamente;
Teria um fetiche por palavras, textos verbalizados ou configurados em prosa, poemas, bilhetes em guardanapos, bulas papais ou de remédio - amórficas, originais, desmedidas, coloridas.
Não teria moto.
Não teria facebook.
Tão pouco eu teria, talvez pelo meu excesso de sinceridade, namorada ou amantes.
Teria um cachorro, uma camisa listrada, um cachimbo, um amor medíocre para recordar;
Uma melhor amiga gostosa, um irmão mais novo a quem eu pudesse me espelhar;
A foto da minha mãe na carteira eu teria,
Também o telefone de um bom restaurante , para às quintas-feiras e um aquário.
Teria um amigo padre, um amigo gringo, um amigo rico, um amigo virgem, um amigo ateu, um amigo gay, e um amigo por quem eu nutrisse uma inveja saudável.
Teria um amigo chamado Humberto...
Teria todas as playboys e seria viciado em roer unhas.
Seria a favor da poligamia, dessas textuais, que agregam gêneros tão dispersos, unificando-os, misturando-os.
Leria Kafka, Saramago, Borges, Machado.
Teria todos os filmes do Almodóvar na estante da minha casa;
E brinquedos, muitos, espalhados pelos quartos, para quando meus sobrinhos chegassem do interior.
Não teria filhos, mas teria uma esperança sincera, dessas que não se pode contar a ninguém,
Nem a ti mesmo, porque são capazes de nos desacomodar.
Seria a favor de que as mulheres tomassem a iniciativa,
E, sobretudo, que nunca esperassem nada de mim,
Nenhum tipo de troca sincera,
Porque eu não saberia quem sou, em meio a tantos eu's projetados nos espelhos por onde passo.
Não saberia quem tu és, porque me recuso cuidar da minha míopia congênita.
Tenho muito medo.
Medo da claridade, medo da morte, medo da minha ex.
Giuliano, eu, seria um homem interessante do meu umbigo.
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