domingo, 12 de setembro de 2010

ANÁLISE DE CASO: O MEU!

*Romeu e Julieta! Foto de Jordana.


“Quando tomamos consciência de nosso papel, mesmo o mais obscuro, só então somos felizes. Só então podemos viver em paz e morrer em paz, pois o que dá um sentido a vida dá um sentido à morte”.

(Antonie de Saint Exupery. Terra dos Homens)

Querido Leitor,

Observem a Julieta: ela é capaz de nos passar, pelo movimento perfeito, a dor e sofrimento de sua alma, apesar do penteado impecável...só as mulheres sabem como fazer isso.

Homens são idiotas: falam uma coisa com você, mas, depois, quando os convem, mudam as falas da água para o vinho. Apagam informações de seus cérebros em certas circunstâncias, retomando-as quando lhes é interessante!! São dotados de um mecanismo cerebral que os possibilita selecionar e afirmar certas coisas como se sempre tivessem acreditado nelas.

Mulheres são fiéis; homens, não.

Não é acaso que mesmo sendo o melhor amigo de Pedro, Jesus concedeu a Madalena, e não a ele, a sua primeira aparição pós-mortem ou pós-ressureição. Pedro, aquele que o amou tanto...foi também aquele que o negou três vezes.... Ok, leitor: ele se arrependeu amargamente tornando-se um dos disseminadores do Cristianismo mais importantes na humanidade... mas...e daí?

Quando eu tinha dezesseis, me apaixonei perdidamente por um rapaz portador de Leucemia (do tipo Leucemia Linfóide Aguda). Eu o conhecia desde criança, na verdade; afilhado de minha mãe, ele era nove anos mais velho do que eu e foi um dos meus primeiros amores platônicos, concomitantemente com o japonezinho dos posts anteriores.

Ele era lindo. De fato, o homem mais lindo que já vi na vida. Acreditem: O mais lindo!

Rodolfo é o seu nome....a história do Girassol e eu vem daí....(mas não parou lá).

Quando ele entrou em estado terminal, minha mãe optou por não me contar para que eu não enlouquecesse e viesse atrás dele a todo custo...(porque ele estava em Juiz de Fora e eu em São Paulo).

Ele, não sei o porquê, se distanciou de mim naquelas últimas semanas...não respondendo as minhas cartas e telefonemas. Talvez eu saiba a razão.

Mas o fato é que após receber a notícia de sua morte, e da omissão da minha mãe e da minha avó...aí sim eu enlouqueci: pensei sim em me matar.

Porque as mulheres, mesmo as mais belas e inteligentes, pensam, uma vez na vida, em se matar. Faz parte de alguma coisa que eu não sei... uma herança coletiva que herdamos de alguma deusa da Grécia, acho.

Mas eu era muito medrosa. Talvez, se essa história tivesse me ocorrido depois de 2006, eu, quem sabe, se não morrido, pelo menos teria dado um grande susto em meus pais.... mas deixa isso pra lá!

Bebi shampoo tentando me matar. Foi aí que me dei conta de que eu teria que engolir a vontade de morrer, simplesmente porque viver ainda era necessário.

Mas...morri em muitos aspectos. Tornei-me uma pessoa triste. Aprendi que felicidade não existe, mas sim momentos de felicidade. É impossível ser feliz sabendo que o outro sofre, não é? Imaginem....você feliz, numa festa....enquanto a pessoa que você ama...sofre...ainda que por uma unha encravada! Eu, não podendo estar com "ele", no mínimo ficaria em casa pesquisando todos os remédios contra dor de unha encravada para enviar a meu amado por email.

Foi o que fiz: Tornei-me uma especialista em Doenças sanguineas mesmo sendo leiga, de tal forma que mesmo após a morte do rapaz, e ainda hoje, gosto de pesquisar essas coisas. Só não douo mais sangue porque o Lítio não me permite....mas já doei muitas vezes.

Sofri desgraçadamente...durante....dois anos. Vocês vão achar ridículo, mas eu queria me tornar freira.

É porque há muitas coisas, de verdade, na vida religiosa que me atraem... e na época, eu acreditava que nunca mais amaria novamente, e que eu precisava doar aquele amor engolido para alguém.....alguém tipo a humanidade, entendem?

Comecei a participar de um grupo missionário italiano, Comunidade Missionária de Villaregia, com quem aprendi muito....conheci pessoas tão importantes naquela época! E sim: alguns deles diziam que eu devia me consagrar, isto é, virar freira....porque eu tinha alguma coisa especial. (AMANDA, A ESPECIAL!).

Aliás, eu cheguei a terminar um namoro...(porque sim...mesmo sofrendo por amor eu quis arrumar um namoradinho, porque não sou tão burra!) com um menino MARAVILHOSO para pensar nessa coisa de ser freira com mais clareza. Ele, porque é homem, e homem é burro, deve ter pensado que era mentira...

Mas, de qualquer forma, havia sim uma dúvida. Mulheres duvidam, mas tentam; Homens? Tentam nunca duvidar.

E foi assim que passei sete meses acreditando que seria freira. Foi quando o destino, mais uma vez....

Meu pai aposenta. Sou obrigada a vir para Minas. Deixo tudo: GRANDES AMIGOS, Ballet, Grupo Missonário, Sociedade São Vicente de Paulo, Vida. Chego aqui. Cleiton vai para São Paulo devido a complicações de saúde. Ele precisa de um transplante. Eu perdidazinha da vida.....perdidazinha....sem rumo nenhum.....Minha mãe, sempre, omitindo...omitindo....Mas aí eu já ficara esperta.....sonho......vou atrás dele......ele morre......e aí sim eu pirei.

Gente....eu pirei. Se alguma vez eu havia querido ser freira, naquele momento, a única coisa que eu queria era entrar para alguma seita satãnica, mesmo.

Entrei num estado deplorável de depressão e minha vida perdeu todo o sentido. Todinho. Foi quando mais uma vez...o destino....

No dia 10 de novembro de 2004, meu aniversário de 19 anos....(e todo esse caos começara nos meus 16...lembrem-se....porque só as mulheres são fiéis, de fato, ao longo dos anos e da distância)....fui a uma igreja.

Não para rezar...mas porque era a igreja de um bairro em Viçosa que sempre quisera conhecer. Minha mãe, antes de se mudar para São Paulo, frequentava-a com seu namorado....que, estranhamente, é tio do rapaz que faleceu com leucemia. Por coincidência, a família toda do rapaz ainda mora nesse tal bairro...e sendo assim, no meu pior aniversário de todos, quis sentir-me um pouco mais próxima e fui lá...para conhecê-la.

É quando sou surpreendia com dois encontros:

Um padre de quem muito já ouvira falar. Uma colega de cursinho disse-me uma vez..."Amanda...você que acabou de chegar em Viçosa precisa conhecer o x. Ele se ordenou padre na semana passada, 11 de setembro, e é muito legal...pode ser que ele te ajude a se arranjar por aqui".

Além do padre, conheci um primo distante: "Amanda...aquele alí é o nosso primo Leandro....ele tem uma irmã que se chama Leandra....não é uma falta de criatividade dos pais deles??" rsrsrs , disse-me Cleiton uma vez.

No ano seguinte, 2005, retomaria os encontros com essas duas figuras que foram as responsáveis pela minha...digamos, volta à juventude, à vida....à alegria....

Por causa do padre, que depois virou amigo, também nas discordâncias que são muitas, conheci a Pastoral da Juventude. Por causa da Pastoral da Juventude, conheci pessoas, fiz amigos, conheci aquele namorado dos dois anos e quase quatro meses - o grande amor - e uma infinidade de novos valores....Descobri que para ser Cristã não é necessário ser santa, e isso fez toda a diferença. Conheci a Teologia da Libertação....o que fez ainda mais diferença. Descobri que Viçosa poderia ser suportável e que eu nunca vou ser freira.

Por causa do primo, que depois virou amigo, que agora já é irmão...descobri que Viçosa, além de suportável, poderia ser boa. Conheci o Bar do Leão, as festas nas repúblicas, minha prima e amiga Paty; conheci o cursinho GAMA e passei no vestibular para Letras em 2006! Passei, ao longo dos anos de 2005 e 2006, por todas as melhores situações que se podia viver naquela idade, as quais eu havia deixado de viver ao longo daqueles anos de tristeza....

Descobri o sentido da vida.

E foi assim....

Hoje, sou o avesso de tudo o que fui. Mas, se não tivesse passado por tudo aquilo, não seria, nem estaria o que sou, o que certamente não se finalizou ainda; vai mudar mais sete vezes em sete outros ciclos de sete.

Hoje, por exemplo, continuo Cristã, continuo na Pastoral esporadicamente, né? hehe...Mas, sobretudo, aprendi a não ter medo das minhas convicções religiosas, e nem vergonha delas.

A religião é tão importante em minha vida, justamente pelo fato d'eu não ter uma. É preciso dizer isso. Eu não sou católica, de fato, nem espírita ou judia: Eu me sinto ligada a Deus por meio das relações que tenho com as pessoas, e só nisso encontro paz, mesmo no desassossego.

Não insistam: não vou a uma missa nunca mais; apesar disso, me sinto numa harmonia com Deus, neste momento, como nunca sentira antes...em todos aqueles anos....

...simplesmente porque creio num Deus que não age. Não acredito em milagres, não acho sequer que Deus tenha mãos, tão pouco divinas. Deus é o que vive nos homens e o que nos une. Ele é feito de pó de alma como a nossa.

Eu creio em Jesus como messias, mas pode ser que isso mude com o tempo. De qualquer forma, gosto mais dele como líder político revolucionário.

Eu acredito no destino sim. Depois de tudo o que disse, se não acreditasse eu estaria mentindo. Mas, acho que o destino é tecido de encontro, dúvida e escolha - livre arbítrio.

Se eu realmente quisesse ter me matado naquele abril de 2003, eu o teria feito.

Mas, ao invés disso, eu sai para caminhar...

Tudo por causa de Julieta, tão bela e sofredora, porém astuta e inteligentíssima.

E o burro do Romeu? o que ele fez????

Estragou tudo, claro, como sempre....

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