segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Monólogo de um Peixe Neurastênico


Hoje estou como Peixe Neurastênico.
As coisas não evoluem....sinto uma imensa vontade de pular desse aquário e procurar um pouco de Mar.
Mar de qualquer coisa, apesar de que há meses estou com vontade de praia e cachoeira.
Estou perdendo melanina.
Há uma Lagartixa no alto da parede azul. Ela olha meus olhos, pés, boca e diz:
- Ainda bem que nasci Lagartixa e tão pouco sei o que é Mar.
Vítimas.
Odeio pessoas que se fazem vítimas das circunstâncias. Muito do que escrevo é puro disfarce: nem sofro tanto assim. Gosto mesmo é de ver as coisas como elas são. Efêmeras e distorcidas.
Carnavalização.
Mas é preciso um pouco de fragilidade para os dias de aquário...para os dias artificiais.
Acho que desaprendi a fumar de novo, e isto é bom: posso usar esse trocado comprando coisas mais úteis à humanidade, postais cuja renda será revertida à Associação Das Mães Dos Filhos Desaparecidos Durante A Ditadura Militar. (ADMDFDDADM).
Quem espera sempre alcança, disse-nos Renato.
¡Estou toda Peixe, toda!
A gente faz coisas das quais se arrepende. Mas é preciso fazê-las, não? Imaginem só o sofrimento daqueles que nunca padecem. Não vivem. Não sentem o passar do tempo. Acredite nisso ainda amanhã, como Peixe que inveja a Lagartixa mas foge do aquário em vão. Não se conforma com a sorte de ter nascido belo e essencialmente Mar. Foge do aquário na esperança de querê-lo, já coisificado.
Não...não falo de mim...falo de qualquer um. Odeio o jeito como escrevo quando estou triste: parece que falo em código verdades que são óbvias, didáticas, esperadas.
- Ah sim! A gente já esperava. Você não surpreende nem um tiquinho! Está presa ao nosso aquário! Foge para ser encontrada, mas cansa e finge que tentou.
Cansei de não tentar. Mas é difícil ser aquilo-não-é. Alguém aqui sabe aquilo-o-é?
- Sou uma Lagartixa no alto da parede. Inofensiva até que me aproxime de você, amedrontando-te com minha gelosidade. Eu sei aquilo que sou.
Não fico feliz com o óbvio. O óbvio não me interessa. Hoje quando peguei aquele texto, tão elogiado apesar daquelas marcações, senti-me extremamente inútil diante do meu esforço preguiçoso.
Eu queria ser preguiçosa de verdade; mas não sou. Eu tenho medo, é diferente.
- Talvez se você quebrasse o aquário da próxima vez...talvez seja a solução.
Saber que poderia fazer algo melhor é como ter a certeza da inutilidade. Poderia é sinônimo de não fiz. Qual a diferença?
Nossa...como estou triste...acho que cheguei ao limite finalmente.
O problema é que nunca há limite. A manhã atenua a escuridão da noite. Eu sou como um poço sem fundo: sempre há mais um pouco, mais caminho quando se pensava fim.
Sou muito eterna.
Odeio meu excesso de olhar....saber que vida é isso mesmo. Não! eu preciso de um qualquer, menos sabedoria, mais dúvidez e mentira.
Talvez seja só sono. Lagartixas dormem?
Amor não é aquilo que sufoca, mas sim o que traz a manhã. Ausência de amor é o que causa dano, quando confundida com excesso; no fundo é só falta...só solidão.
Amar o tempo todo é chato e irreversível. Devo prender. Sufocar.Transformar o grande em medíocre, o belo em grotesco, passível de aquário quando se é mar.
O que você seria se não fosse eu? Peixe ou Lagartixa?
Meu Deus, estou tão triste! Não há nada mais a ser feito. Embora eu desconfie de que são nesses momentos, diante do impossível, que o milagre vem; no entanto, finjo não enxergá-lo, deixando com que se revele com o passar das horas, dias e paciência.
- Talvez eu consiga nadar um dia...confesso que tenho vontade - disse a Lagartixa, invejando minha possibilidade de aprender.
Que bonito moça...tudo é saudade e finitude; nada que realidade não cure.
A saudade do Mar ainda é aquário - escreveu um Peixe em letras garrafais.
- Você não surpreende a ninguém. Só a você mesma. Acha que não sei?
Estou olhando uma Lagartixa na parede azul enquanto des-fumo, des-pero, des-crevo: Peixe Neurastênico.
Eu sabia que não tinha vocação pra Mar. Gosto mesmo é de alto de parede e fundo de aquário.
Tudo é tão óbvio, que chega a irritar esse meu excesso de palavra.
¿Saudade?
Como Peixe Neurastênico hoje no jantar.

4 comentários:

  1. inspirastes-me..depois leia la meu poema bjim!

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  2. Rebeca....acho que a gente precisa é de um fumar um back...kkk (brincadeira, leitores! hehehe)

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  3. Ai, Amanda...
    "...nunca há limite..." talvez haja outros espaços, outras possibilidades, outros acontecimentos que nos dão a sensação de que o poço não tem fundo ou de que conseguimos sair dele.
    Mas... na verdade estamos vivendo outras dimensões, outros aspectos desse mesmo sem limite.

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  4. Cléo...vamos fumar um back? BENTO XVI não precisa ficar sabendo...hehehe (MENTIRINHA POVO DE DEUS...mentirinha....)

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