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Querido Leitor,
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Feriado.Quinta-Sexta-Sábado-Domingo-Segunda (a segunda é por minha conta).
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Enquanto todas as pessoas que conheço viajarão com seus amigos, conhecidos, desconhecidos, familiares, namorados - ou irão ao encontro destes em suas respectivas cidades, como uma amiga quem me pediu que a ajudasse a escolher um doce de leite Viçosa para o seu mais novo par - eu permanecerei imóvel, em minha casa, monografando. Sim, carísismo leitor: hei de passar todos esses dias em minha residência, preferencialmente, escrevendo...lendo...pensando na morte da bezerra e comendo quilos e quilos de ovos de páscoa.
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Tamanha tranquilidade não oferece sequer um segundo de paz: tenho a certeza de que grande será a tentação da cama, do devaneio, do Youtube, da cerveja no fim do dia - o que não pode faltar, mas espero que tampouco atrapalhe "o" acordar cedo do dia posterior. Nesse vai-e-vem de nada, algumas coisas me ocorreram no dia de hoje, coisas que não merecem linhas de texto, mas por falta de matéria prima de melhor qualidade, é o que me vale:
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Por que tantos vídeos de música clássica no Sofia? - alguém pergunta. Bem, a verdade é que sou bem eclética, gosto de muita coisa...mas, há alguns dias, encontrei um vídeo da composição "Carmen fantasy" (...uma adaptação da ópera Carmen para violino e orquestra...), pelo qual me apaixonei perdidamente...perdidamente. Pesquisando um pouco mais da tal obra, descobri que ela foi reinventada por um músico chamado Pablo de Sarasate ,no século XIX -XX, cujo repertório virtuoso e romântico inclui músicas do folclore espanhol, russo e "cigano" (uso o termo em aspas por falta de uma classificação melhor).
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Esquecer.
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Todos nós temos na vida alguma capacidade, talento, facilidade que não nos serve de nada, mas que ali permance, guardada no espírito. Eu tenho isso com música. Quando ouço uma dada música - ou melodia, arranjo, nota - que por algum motivo inexplicável me prende atenção, podem passar anos e anos que a "tal" harmonia, latente em mim, revela-se um dia, finalmente e geralmente sem querer. Quantas músicas que ouvi quando criança fui "reencontrar" apenas já adulta, reconhecendo-as em questão de instante.
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Ao ouvir as melodias ciganas do Pablo de Sarasate, encontrei uma composição chamada Zigeunerweisen (Gipsy Airs) que é uma das músicas que mais gosto na vida, e que no entanto só a ouvi uma vez pessoalmente, por volta dos meus cinco ou seis anos de idade, isto é, há praticamente vinte anos.
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Fui bailarina clássica e lembro-me que no ano de 89 ou 90, assisti a uma apresentação de um grupo de bailarinos que interpretavam uma dança cigana, se não me engano, "Alma cigana" ou alguma coisa assim. Lembro-me da coreografia, do vestuário, e sobretudo da música que foi uma das coisas mais fantásticas que já havia ouvido até então, eu estava num sonho. Chegamos a adquirir o vídeo dessa apresentação - o qual se perdeu, como quase todos os meus vídeos de dança e minhas boas fotos. Mas a música permaneceu lá e vez ou outra eu me pegava cantarolando-a, mas nunca imaginaria que um dia eu pudesse vir a entender como ela foi feita, por quem, em que século, a partir de quais parâmetros, movimentos...etc....
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Chegou a ser emocionante assistir os vídeos no Youtube e me dar conta de que "é esta". Como reencontrar um parente ou amigo que não víamos há uma vida. Depois disso, passei a procurar mais músicas desse tal Sarasate e percebi que muitas delas me são conhecidas, não sei como, mas são.
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Tudo isso pra dizer que tenho dificuldade para esquecimentos - esquecimento do que me é caro, do que amo, do que me compete. O contrário também é verdadeiro: diariamente, esqueço uma série de coisas, nomes, horários - coisas que não devia esquecer - mas que esqueço porque infelizmente não atribuí aquela circunstância, objeto ou pessoa, afeto suficiente para eternizá-la na memória.
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É por isso que tenho tanto medo dessas coisas: medo da morte, medo de câncer, medo de cair em loucura (novamente), medo de terminar namoro, medo de que terminem comigo, medo de entender que sou nada para certas pessoas de quem relevo uma série de coisas, às vezes tão cansativas, na consciência de que o contrário não se daria nunca, caso fosse necessário. Às vezes a gente acha que faz isso por amor, por apreço, sendo que na verdade, não passa de egoísmo camuflado, uma falta de jeito que temos com relação à idéia de morte. Porque todo o pequeno fim também é morte.
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Tenho medo de ser esquecida.
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As únicas coisas que permanecem intocáveis, do ponto de vista universal, é a arte e a idéia de Deus. A arte que entendo como literatura e música, principalmente... (também a dança, as artes plásticas, o cinema, o teatro).
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Que papo chato, não? Eu sei....rs....
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Ao mesmo tempo, no universo interior, existe além da arte um conjunto de rostos, nomes, sensações, histórias, cheiros, gostos, vozes, números de telefones que nunca serão esquecidos.
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Ainda sei de cor o número de telefone do primeiro menino por quem me apaixonei! Também lembro da placa do carro que a mãe dele tinha, o nome da rua onde moravam, o jeito como ele costumava mexer no cabelo....o jeito como ele chamava o meu nome.
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A memória é o único artifício inventado pelo homem capaz de vencer a pequena morte.
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Ainda assim, é preciso se deixar esquecer: sair de cena, dar de ombros, dar de burros n' água. Transformar em memória o que não passará disso. Ouvir a música, sem mais se preocupar com o trabalho de composição: o detalhe do arranjo ou do sopro, que um dia foi centro, mas hoje não mais nos interessa.
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Enquanto todas as pessoas que conheço viajarão com seus amigos, conhecidos, desconhecidos, familiares, namorados - ou irão ao encontro destes em suas respectivas cidades, como uma amiga quem me pediu que a ajudasse a escolher um doce de leite Viçosa para o seu mais novo par - eu permanecerei imóvel, em minha casa, monografando. Sim, carísismo leitor: hei de passar todos esses dias em minha residência, preferencialmente, escrevendo...lendo...pensando na morte da bezerra e comendo quilos e quilos de ovos de páscoa.
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Tamanha tranquilidade não oferece sequer um segundo de paz: tenho a certeza de que grande será a tentação da cama, do devaneio, do Youtube, da cerveja no fim do dia - o que não pode faltar, mas espero que tampouco atrapalhe "o" acordar cedo do dia posterior. Nesse vai-e-vem de nada, algumas coisas me ocorreram no dia de hoje, coisas que não merecem linhas de texto, mas por falta de matéria prima de melhor qualidade, é o que me vale:
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Por que tantos vídeos de música clássica no Sofia? - alguém pergunta. Bem, a verdade é que sou bem eclética, gosto de muita coisa...mas, há alguns dias, encontrei um vídeo da composição "Carmen fantasy" (...uma adaptação da ópera Carmen para violino e orquestra...), pelo qual me apaixonei perdidamente...perdidamente. Pesquisando um pouco mais da tal obra, descobri que ela foi reinventada por um músico chamado Pablo de Sarasate ,no século XIX -XX, cujo repertório virtuoso e romântico inclui músicas do folclore espanhol, russo e "cigano" (uso o termo em aspas por falta de uma classificação melhor).
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Esquecer.
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Todos nós temos na vida alguma capacidade, talento, facilidade que não nos serve de nada, mas que ali permance, guardada no espírito. Eu tenho isso com música. Quando ouço uma dada música - ou melodia, arranjo, nota - que por algum motivo inexplicável me prende atenção, podem passar anos e anos que a "tal" harmonia, latente em mim, revela-se um dia, finalmente e geralmente sem querer. Quantas músicas que ouvi quando criança fui "reencontrar" apenas já adulta, reconhecendo-as em questão de instante.
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Ao ouvir as melodias ciganas do Pablo de Sarasate, encontrei uma composição chamada Zigeunerweisen (Gipsy Airs) que é uma das músicas que mais gosto na vida, e que no entanto só a ouvi uma vez pessoalmente, por volta dos meus cinco ou seis anos de idade, isto é, há praticamente vinte anos.
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Fui bailarina clássica e lembro-me que no ano de 89 ou 90, assisti a uma apresentação de um grupo de bailarinos que interpretavam uma dança cigana, se não me engano, "Alma cigana" ou alguma coisa assim. Lembro-me da coreografia, do vestuário, e sobretudo da música que foi uma das coisas mais fantásticas que já havia ouvido até então, eu estava num sonho. Chegamos a adquirir o vídeo dessa apresentação - o qual se perdeu, como quase todos os meus vídeos de dança e minhas boas fotos. Mas a música permaneceu lá e vez ou outra eu me pegava cantarolando-a, mas nunca imaginaria que um dia eu pudesse vir a entender como ela foi feita, por quem, em que século, a partir de quais parâmetros, movimentos...etc....
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Chegou a ser emocionante assistir os vídeos no Youtube e me dar conta de que "é esta". Como reencontrar um parente ou amigo que não víamos há uma vida. Depois disso, passei a procurar mais músicas desse tal Sarasate e percebi que muitas delas me são conhecidas, não sei como, mas são.
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Tudo isso pra dizer que tenho dificuldade para esquecimentos - esquecimento do que me é caro, do que amo, do que me compete. O contrário também é verdadeiro: diariamente, esqueço uma série de coisas, nomes, horários - coisas que não devia esquecer - mas que esqueço porque infelizmente não atribuí aquela circunstância, objeto ou pessoa, afeto suficiente para eternizá-la na memória.
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É por isso que tenho tanto medo dessas coisas: medo da morte, medo de câncer, medo de cair em loucura (novamente), medo de terminar namoro, medo de que terminem comigo, medo de entender que sou nada para certas pessoas de quem relevo uma série de coisas, às vezes tão cansativas, na consciência de que o contrário não se daria nunca, caso fosse necessário. Às vezes a gente acha que faz isso por amor, por apreço, sendo que na verdade, não passa de egoísmo camuflado, uma falta de jeito que temos com relação à idéia de morte. Porque todo o pequeno fim também é morte.
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Tenho medo de ser esquecida.
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As únicas coisas que permanecem intocáveis, do ponto de vista universal, é a arte e a idéia de Deus. A arte que entendo como literatura e música, principalmente... (também a dança, as artes plásticas, o cinema, o teatro).
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Que papo chato, não? Eu sei....rs....
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Ao mesmo tempo, no universo interior, existe além da arte um conjunto de rostos, nomes, sensações, histórias, cheiros, gostos, vozes, números de telefones que nunca serão esquecidos.
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Ainda sei de cor o número de telefone do primeiro menino por quem me apaixonei! Também lembro da placa do carro que a mãe dele tinha, o nome da rua onde moravam, o jeito como ele costumava mexer no cabelo....o jeito como ele chamava o meu nome.
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A memória é o único artifício inventado pelo homem capaz de vencer a pequena morte.
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Ainda assim, é preciso se deixar esquecer: sair de cena, dar de ombros, dar de burros n' água. Transformar em memória o que não passará disso. Ouvir a música, sem mais se preocupar com o trabalho de composição: o detalhe do arranjo ou do sopro, que um dia foi centro, mas hoje não mais nos interessa.
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