sábado, 24 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL! Ele(s) não sabe(m) o que faz(em)?

*Vela que flutua. Igor Ayres.
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I could make you happy
Make your dreams come true
Nothing that I wouldn't do
Go to the ends
Of the Earth for you
To make you feel my love
(To make you feel my love - ?)
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Independente das controvérsias, é Natal. Finalmente, 2011 deixa-nos suas dores e alegrias e se esvai na memória coletiva, a começar por essa data mítica, que, apesar dos gostares e desgostares, "amares" e "odiares", perpetua a mais de dois mil anos (?).
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Mitra, Horus, Buda e Krishna. A História do primeiro precede a de Jesus em quase 600 anos; Mitra era o Deus Sol da Pérsia e, seu nascimento também era comemorado no dia 25 de dezembro....A mesma data cuja Igreja se apropriou para que se desse maior adesão ao Catolicismo por parte dos pagãos. Mitra teve doze discípulos, realizava milagres, fora enterrado numa tumba que, ressuscitando ao terceiro dia, passou a ser celebrado como o "Caminho, a Verdade e a Luz, o Redentor, o Salvador, o Messias". Horus, egípcio, tem sua história a datar dois mil anos anteriores a de Cristo. Nasceu de uma virgem, foi batizado e caminhou sobre as águas... Foi crucificado e também ressuscitou. Khrisnna ascendeu ao paraíso, operou mortos, mãe virgem, pai carpinteiro. Buda fez milagres, nasceu de uma virgem, foi crucificado, desceu três dias ao inferno antes de ressuscitar.... E assim as Histórias se mesclam, realizam-se, mitificam-se
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A dúvida também é sinal de Fé:
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"Pai, perdoa-lhes, eles não sabem o que fazem" (LC, 23,24).
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Atualmente, já não me considero Católica; porém, Cristã. Como já disse, em posts anteriores, a Igreja Católica me interessa como objeto de estudo Histórico/Literário, e por isso que, mesmo à distância, mantenho respeito para com ela e também para com o Espiritismo, o Umbandismo, o Candomblé, o Judaísmo e outras crenças apócrifas - tantas que mal nos damos conta. Mas, o que ainda me move a adentrar por uma Igreja vazia, quanto mais pobre mais bela, é um sentimento particular e universal: A Esperança.
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Não lembro quando ouvi pela primeira vez o nome de Deus; tampouco quando me dei conta de que havia um tal menino Jesus no presépio de nossa casa: certamente o fora com minha mãe que, católica-alternativa (mesmo que não se dê conta), preserva essas tradições: árvores, presépios, missas, luzinhas (as preferidas de meu pai), orações. Entretanto, há alguma coisa superior que, embora me faça odiar e duvidar do Natal, leva-me a escrever cartõezinhos e tentar contato com as pessoas que mais amo, como se Natal fosse nada mais que o dia de uma declaração de amor mais profunda; fazer o outro sentir o meu amor, encarnadamente.
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A mesma avó "má" quem me noticiou o fato da inexistência do Papai Noel fora a mesma que um dia, em uma roçazinha apócrifa das Minas Gerais, deixara-me um presente escondido por de trás da porta do quarto onde dormia, para que pudesse recebê-lo assim que acordasse e adivinhasse estar posto alí tal qual mágica. Era um quebra-cabeça; mas, por ter vindo dela, em tais circunstâncias, digamos....Uma surpresa, fora-me o melhor presente de Natal de toda uma vida.
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Há muitos anos, reuníamo-nos todos sob o teto desta avó, Dona Maria - a avó materna, e enquanto os adultos bebiam, cantavam, assavam carnes, nós, as crianças, brincávamos como se o dia não possuísse fim. Cleiton e eu ficávamos à janela, aquela do quarto que mais se assemelhava a um santuário (santos por todos os lados), esperando à chegada de nossos primos que víamos com menos frequência. E a vida seguiu assim durante dez anos...Antes de que todos os tios brigassem entre eles. Alguns nunca mais se falaram; outros, romperam contato com minha avó (mesmo ante a morte dela). Já os primos, estes seguiram seus caminhos: alguns em Universidades, outros com seus próprios empreendimentos; alguns fugidos de casa....Outros, infelizmente, já mortos.
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Mas havia uma espécie de relicário sob o qual me debruçava. Anualmente. Um relicário de vovó onde ficava a Virgem do Cristo ( não a de Mitra, Horus, Buda e Krishnna). Passava horas a observá-lo, como se houvesse um feitiço alí, um encantamento. Enfeitada com luzinhas, fazia-se linda a Virgem, que sem o relicário seria apenas mais uma. Essa relíquia ainda existe na casa de uma tia - a que me ensinou a ser criança, jogar peteca, futebol, cartas; também a usar batom e maquiagem, a ser mimada e amada. Havia também um carneirinho do presépio de vovó, o que ela deu a Cleiton pelo tamanho da adoração do menino para com o animalzinho, na época. Hoje, tal carneirinho não está em presépio algum, está comigo dentro de uma caixinha de Dona Maria, a única lembrança física que me permiti roubar de seu arsenal post mortem.
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Além disso, hoje faz exatos nove anos em que vi o rapaz "por quem estava apaixonada" aos dezesseis, sendo então a nossa despedida, mas não podíamos, naquele dia lindo de sol, imaginar. Deu-me um abraço tão apertado, abraço que apenas hoje me faz sentido, já na memória. Quatro meses depois, Rodolfo faleceu aos vinte e seis anos.
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Sou Cristã porque acredito que ele seja o filho de Deus. Mas, da mesma forma que mim e ti também somos. Sou Cristã porque vejo nesse homem um revolucionário, aquele que deu de beber à Samaritana, desafiou a hierarquia de seu tempo, fez da água-vinho, ou seja: Fez das misérias daqueles Judeus a alegria de uma Vida Nova, Vida de Esperança. Vinho é uma metáfora para Alegria, Vida Nova para os Judeus. Portanto, não tenho mais paciência para missas, rezo todos os dias, mas ainda há um laço que me une ao inexplicável. E se tu, leitor ateu, advertir-me: "Mas Jesus não é 'filho de Deus'", ou "Deus não existe"....Eu responderia "E daí?" Talvez até saiba disso, mas opto pela Esperança, a que é um mistério de fé (ou da lei da atração, como nos é dito na pós modernidade).
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Esse prelúdio é para chegar aqui: Odeio Natal. Não só pelo "capitalismo" da data, mas sim, pelo fato de que poucos, em todo o mundo, terão o privilégio de gozar dessa globalização e banalização do Mito. Caso todos os homens e mulheres pudessem passar seus Natais gastando rios de dinheiro em países estrangeiros, duvido de que tal feito desagradaria o "Nosso Senhor Deus". Porém, havendo uma ovelha, havendo um de nós que não pudesse fazê-lo...Perde-se o sentido.
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Não basta ir muito longe, leitor. Todos nós conhecemos um idoso tido como "desvairado", o qual passará sua noite de Natal na sarjeta de uma dessas esquinas frias; sozinho e faminto. Há tantos adolescentes e jovens que ainda serão mortos no dia de hoje, enquanto comemoramos nossas ceias, em nossas casas repletas de luz. Jovens mortos não só pela droga (talvez, esse seja o mal menor...), mortos por policiais, mortos por nunca terem tido uma EDUCAÇÃO digna, DIREITOS GARANTIDOS, mortos porque a política de desarmamento é só mais uma falácia neste país. Jovens de dezesseis, vinte e seis anos, hoje terão o seu último suspirar. Há também as crianças que vagam pelas ruas a fim de ter o que comer: marginalizadas, abusadas, sozinhas, sem pai, mãe, tias, avós ou um cachorrinho (além dos de rua, que também merecem, em segundo plano, um lar). Há as mães que sofrem por verem seus filhos à beira da morte em hospitais; as mães que sofrem por terem perdido seus filhos; as mães REAIS, que NÃO são VIRGENS, mas sofrem pelo destino de seus filhos. Os hospitais sem leitos....As escolas sem vagas....Certos (alguns) representantes do governo sem alma. E esse é o principal ponto que me faz odiar o Natal: o de saber que é apenas uma data. Se Jesus nasceu, existiu de fato, poderia tê-lo feito no dia 10 de novembro, por quê não? Contudo, as grandes lojas ou pequenos comércios vendem mais, massas consomem mais, preparamo-nos para as Copas, Olimpíadas, Diabos...E ainda nossos hospitais não têm leito, nossas escolas não têm vagas.....
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...e nossas mães REAIS QUE NÃO SÃO VIRGENS sofrem pelo destino do mundo. Pelo destindo dos filhos "pecadores" (que também merecem segundas chances, segundos Natais).
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É preciso concretude e gratuidade nos gestos diários (Afinal, ninguém sabe ao certo o dia em que Cristo nasceu).
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De qualquer forma, presenteio às crianças, escrevo cartõezinhos aos amigos mais próximos, também às vezes aos que moram longe; mas, neste ano, fui detida pelo desencanto e pela preguiça. Saudade das minhas avós, primos, irmão, multidões de rostos que se foram e me trazem imensa dor.
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Mas escrevi... E tentei mandar mensagens, as que talvez não serão respondidas.
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Meu Deus, ou seja lá quem receberá esta oração:
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- Neste Natal, Neste 2012, não quero PAZ. Quero o caos dos subversivos; o caos que faz as coisas inimagináveis se moverem, modificarem-se, transformarem-se. Agradeço, ao mesmo tempo, por aqueles que ainda estão: pais, amigos,irmãos, amores; e também por aqueles que hão de fazer a diferença, com o chegar do meio dia.
Amém.
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"Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez". (ESJC. SARAMAGO, 2008,p.444).
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Acenda uma vela...
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Feliz Natal!

Merry Christmas!
¡Feliz Navidad!

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