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"Sonhei com a Dani". Estranho, sinto que sonhei com tal amiga paulistana, mãe, mulher e psicóloga. Não me recordo do sonho, mas a imagem é nítida: vestia azul, a Dani, grande amiga, grande mulher. Engraçado meu inconsciente tê-la escolhido como primeiro sonho de 2012: mãe e psicóloga, atualmente, duas coisas que não me saem da cabeça, quase como um palpite. O de que toda psicóloga jovem engravidará em 2012; ou, o de que engravidarei. Meu primeiro suspiro consciente pós virada de ano, pós chegar em casa trêbada e dormir como anjo, tal fora: "sonhei com a Dani e chove. Corra, antes que a chuva pare".
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Por quê?
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Aprendemos com minha avó materna a beber da chuva de primeiro de janeiro para nos trazer sorte. Sempre chove, sempre o fazemos. Minha mãe já estava acordada quando, desesperada, subi ao telhado, de pijamas, e lá coloquei um generoso recipiente para nos trazer a sorte necessária. A chuva já havia passado, restando-me a garoa (...como eu amo garoa). Mas, calculei que até o fim desta noite, haverá esperança em bebê-la.
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Desci, dormi, acordei, pensei: "Falta alguma coisa?". Sim! Nicotina. Meus cigarros acabaram e, ontem, talvez por surto de boa vontade-maliciosa, arrisquei parar de fumar este ano, prometê-lo, a fim de conseguir um empréstimo com minha mãe (para alguns detalhes supérfluos da minha viagem). Hoje, após descer, dormir, acordar, pensar e adivinhar, vi nisto tamanha bobagem; contudo, senti-me velha. Vi as fotos do nosso Reveillon - aliás, um dos melhores da minha vida - e senti-me assim. Fora o preto? Não: foram as marcas de expressão que teimam em nascer. Aí sim, tá certo, tá legal, vou parar de fumar esse ano porque cigarro é caro, envelhece....e pode até me render um câncer de pulmão, mas ninguém se preocupa com isso, da mesma forma que as mulheres não pensam no risco das DST´s quando transam, mas sim em gravidezes indesejadas....Ah, como nos perdemos, como somos burros, fome - pensei, tudo junto.
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Bebi água, o mundo sangrou, e voltei a dormir.
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Acordei. Para almoçar, óbvio, seria necessário acordar. Ainda a sensação de que falta alguma coisa, como se TODOS OS PRIMEIROS DE JANEIRO DO MUNDO, DE TODOS OS PAÍSES E GALÁXIAS fossem frágeis e assexuados. Vazios. Não um vazio que dói, mas um desses que....que....anestesiam a alma e o corpo. Havia muita comida sobre a mesa, o que estranhei, pois não soube (agora chove!), ninguém o disse, não vi gente além de nós três e um cão nesta casa enorme e assexuada de janeiro. Disse o patriarca "É por ser dia primeiro". "E só por isso tanta comida?" - respondi.
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Um mosquito morreu enquanto se travou o diálogo entre pai e filha.
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Mamãe, como por milagre, senta conosco. "Vamos rezar?" - perguntei, recebendo a seguinte afirmação do patriarca: "Não. Só por que é primeiro de janeiro temos que rezar?". E por ser primeiro de janeiro precisamos de tanta comida? - pensei, disse, rimos, comemos, rezamos (pra dar sorte, vá saber....Também não tenho o costume de rezar antes das refeições).
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Ainda faltava algo. Todos foram dormir e a chuva parou, quando acordei e senti saudade. Enviei uma mensagem; mas, imaginando que tal pessoa não teria como respondê-la, imaginando onde estaria, com que outras pessoas e situações, minutos depois, liguei. 1. Ligação não atendida. 2. Telefone desligado (ou ocupado). 3. Uma pessoa fria me atendeu e já me estragou a surpresa. Talvez a culpa seja minha, culpa da minha sensibilidade exagerada que se contrapõe, ou complementa...quiçá, a tal dia sem desejo. Foi quando senti a sexta falta do meu dia. (Faltas inconscientes: 1. A de ser mãe; 2. A de ser psicóloga. Há maior complexidade neste esquema, mas resumo-o assim). 3. Chuva; 4. Nicotina; 5. Distribuição igualitária de renda e, automaticamente, comida; 6. De quem amo.
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Foi uma dor tão grande que chegou a romper o silêncio virgem da casa. Vou dormir então, de novo, até vir o amanhã. Insônia precoce. Revirei-me na cama, pensando em minha viagem, pensando "E se justo a minha bagagem for a escolhida por Deus para o extravío?"....e se não me fizer entender em espanhol, inglês, língua do P, e se ficar desalojada durante três dias? E se o avião cair? - Bom, isso não seria tão mal. Mas a bagagem... Não, Deus, por favor!
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A cólica chega aos poucos. Graças a Nossa Senhora! É preciso um pouco de cor nesta parede tão branca.
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Mas ainda falta: A certeza da sorte.
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A realização da vida, do desejo, de bens materiais, de alguém a quem chamar de "meu amor" e, por escolha, ter um filho chatinho. É a sorte que me faltou hoje, pensei que fossem cigarros; mas, o vermelho que brota na parede (da mãe) diz:
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Tudo é sexo dos anjos...
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Por quê?
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Aprendemos com minha avó materna a beber da chuva de primeiro de janeiro para nos trazer sorte. Sempre chove, sempre o fazemos. Minha mãe já estava acordada quando, desesperada, subi ao telhado, de pijamas, e lá coloquei um generoso recipiente para nos trazer a sorte necessária. A chuva já havia passado, restando-me a garoa (...como eu amo garoa). Mas, calculei que até o fim desta noite, haverá esperança em bebê-la.
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Desci, dormi, acordei, pensei: "Falta alguma coisa?". Sim! Nicotina. Meus cigarros acabaram e, ontem, talvez por surto de boa vontade-maliciosa, arrisquei parar de fumar este ano, prometê-lo, a fim de conseguir um empréstimo com minha mãe (para alguns detalhes supérfluos da minha viagem). Hoje, após descer, dormir, acordar, pensar e adivinhar, vi nisto tamanha bobagem; contudo, senti-me velha. Vi as fotos do nosso Reveillon - aliás, um dos melhores da minha vida - e senti-me assim. Fora o preto? Não: foram as marcas de expressão que teimam em nascer. Aí sim, tá certo, tá legal, vou parar de fumar esse ano porque cigarro é caro, envelhece....e pode até me render um câncer de pulmão, mas ninguém se preocupa com isso, da mesma forma que as mulheres não pensam no risco das DST´s quando transam, mas sim em gravidezes indesejadas....Ah, como nos perdemos, como somos burros, fome - pensei, tudo junto.
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Bebi água, o mundo sangrou, e voltei a dormir.
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Acordei. Para almoçar, óbvio, seria necessário acordar. Ainda a sensação de que falta alguma coisa, como se TODOS OS PRIMEIROS DE JANEIRO DO MUNDO, DE TODOS OS PAÍSES E GALÁXIAS fossem frágeis e assexuados. Vazios. Não um vazio que dói, mas um desses que....que....anestesiam a alma e o corpo. Havia muita comida sobre a mesa, o que estranhei, pois não soube (agora chove!), ninguém o disse, não vi gente além de nós três e um cão nesta casa enorme e assexuada de janeiro. Disse o patriarca "É por ser dia primeiro". "E só por isso tanta comida?" - respondi.
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Um mosquito morreu enquanto se travou o diálogo entre pai e filha.
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Mamãe, como por milagre, senta conosco. "Vamos rezar?" - perguntei, recebendo a seguinte afirmação do patriarca: "Não. Só por que é primeiro de janeiro temos que rezar?". E por ser primeiro de janeiro precisamos de tanta comida? - pensei, disse, rimos, comemos, rezamos (pra dar sorte, vá saber....Também não tenho o costume de rezar antes das refeições).
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Ainda faltava algo. Todos foram dormir e a chuva parou, quando acordei e senti saudade. Enviei uma mensagem; mas, imaginando que tal pessoa não teria como respondê-la, imaginando onde estaria, com que outras pessoas e situações, minutos depois, liguei. 1. Ligação não atendida. 2. Telefone desligado (ou ocupado). 3. Uma pessoa fria me atendeu e já me estragou a surpresa. Talvez a culpa seja minha, culpa da minha sensibilidade exagerada que se contrapõe, ou complementa...quiçá, a tal dia sem desejo. Foi quando senti a sexta falta do meu dia. (Faltas inconscientes: 1. A de ser mãe; 2. A de ser psicóloga. Há maior complexidade neste esquema, mas resumo-o assim). 3. Chuva; 4. Nicotina; 5. Distribuição igualitária de renda e, automaticamente, comida; 6. De quem amo.
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Foi uma dor tão grande que chegou a romper o silêncio virgem da casa. Vou dormir então, de novo, até vir o amanhã. Insônia precoce. Revirei-me na cama, pensando em minha viagem, pensando "E se justo a minha bagagem for a escolhida por Deus para o extravío?"....e se não me fizer entender em espanhol, inglês, língua do P, e se ficar desalojada durante três dias? E se o avião cair? - Bom, isso não seria tão mal. Mas a bagagem... Não, Deus, por favor!
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A cólica chega aos poucos. Graças a Nossa Senhora! É preciso um pouco de cor nesta parede tão branca.
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Mas ainda falta: A certeza da sorte.
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A realização da vida, do desejo, de bens materiais, de alguém a quem chamar de "meu amor" e, por escolha, ter um filho chatinho. É a sorte que me faltou hoje, pensei que fossem cigarros; mas, o vermelho que brota na parede (da mãe) diz:
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Tudo é sexo dos anjos...
Legal. (os comentários nem sempre atendem às expectativas...rsrsrsrrs)
ResponderExcluirForte, profundo, intenso, como tudo no interior de seus pensamentos. Sonhos... Acaso... Destino... Vida... Doce mistério que nos rodeia. Seja você, ou apenas seja. Mas nunca perca o dom do seu encanto, menina dos olhos de ressaca.
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