Às senhoras mais amadas
(Chega a matriarca)
Veja bem mamãe:
Não me interessam esmaltes,
Não me interessam esmaltes,
Não gosto de fazer unhas,
Gosto é de comê-las todas
(O estômago é meu),
Finas, finíssimas, pontiagudas,
Despontadas, quebradas, encravadas.
Não gosto de manicures,
Não gasto dinheiro em salão;
Já são tantas as dores da carne,
Que evito-as sem grande embaraço.
- Homem nenhum quer mulher assim -
Desalinhada,
Desatinada,
Desvairada,
Descaprichada,
Desasseada,
Destrambelhada,
Desnorteada,
Desmaquiada,
Des-mulher,
Des-feminina,
Des-florificada.
(Chega a tia)
Veja bem tia:
Não gosto de chapinhas e alisamentos,
Gosto é de cabelo natural
(Como o meu, sem falsa modéstia),
Crespos, encaracolados, aninhados,
armados, bifurcados, triplicados.
Não gosto de cabeleireiros,
Não gasto dinheiro em salão,
Uso shampoo barato (Colorama)
à base de água e sabão.
Ainda assim, dizem as más línguas
Que caminho flutuando pelas ruas,
Que meu pelo brilha como estrela,
Que meu cabelo odoriza coco e espuma.
Inconformada, retrucou-me:
- Homem nenhum quer mulher assim -
Quando acordares tarde será,
Passa uma base nessa unha,
Agenda um horário no One Day Spa,
Compra uma saia dessas da moda,
Verás que linda há de ficar.
(Chega a consultora Mary Kay
e a paciência se esgota)
Veja bem, moça bonita:
Não tenho dinheiro hoje,
Nem amanhã, tampouco depois.
Volte no início do mês,
Com revista, maquiagem e agrado,
Prometo escolher alguma prenda barata,
Se é que existe.
Inconformada, retrucou-me (em pensamento):
- Mão de vaca!
Não tenho dinheiro hoje,
Nem amanhã, tampouco depois.
Volte no início do mês,
Com revista, maquiagem e agrado,
Prometo escolher alguma prenda barata,
Se é que existe.
Inconformada, retrucou-me (em pensamento):
- Mão de vaca!
FIM
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