terça-feira, 25 de abril de 2017

Tentativa de crônica: Meu lugar no mundo

*Carros em Cuba. Bol Fotos



Além de tema desta temporada de Malhação, creio, o título acima poderia muito bem ser o do meu futuro livro, acrescido pelo meu número de azar, 630 (piada interníssima, a que somente um novo amigo entenderá). Mas não tratarei do tal seriado adolescente, embora reconheça que muitas vezes viva situações semelhantes e trago em mim certa imaturidade. 
Meu tema será Viçosa.


Nunca gostei de Viçosa e hoje temo que o meu vaticínio infantil estivesse certo; de que não fosse apenas amor pela minha cidade natal, senão intuição feminina - infantil. Sempre falo disso com muito respeito, por medo de ser taxada como prepotente (sim, sou humana e o julgamento alheio me amedronta).

Nasci em São Paulo, capital, onde vivi os quase dezenove melhores anos da minha vida. Mas minha família é mineira e, portanto, desde que nasci venho a Minas Gerais anualmente: antes em maio, dezembro e janeiro; depois, dezembro e janeiro; ainda, julho, dezembro e janeiro, e...Finalmente, ora julho, ora dezembro, ora janeiro. Contudo, nunca estive em Viçosa, ao longo daqueles anos todos, apenas de passagem. Íamos, minha mãe e eu sozinhas (meu pai às vezes, devido ao trabalho), ao Tombo da Cachoeira, roça da minha avó que fica no município de Canaã; a Ervália, onde tenho tios que lá ainda vivem e a São Miguel do Anta, onde tenho tia, parente, além de ser esta a cidade a que minha avó viveu por muitos anos, após se mudar de Canaã (em minha opinião, um grande erro). Primos em todas essas cidades tive e tenho. Há outras também, as que não "fediam ou cheiravam", e por lá muito estive para os eventuais casamentos, velórios e obrigações familiares. As cidades supracitadas, porém, sempre as amei. Em sua pequenez, em sua gente sábia, em suas cachoeiras, em suas igrejinhas, em minha família - em todos os nossos erros e acertos. Mas Viçosa - não.

Desde muito criança, meus pais me diziam..."quando papai aposentar, vamos morar lá em Viçosa, perto da casa de vó. Você vai estudar lá". Já muito pequena, aquilo me trazia certa ansiedade. Adolescente então, imaginava-me casada com algum fazendeiro rico e vivendo eternamente ali, indo logicamente à Semana do Fazendeiro (não sabia da existência do Leão e do Moreiras, os que certamente me salvaram da infelicidade).

Meus pais se mudaram para Viçosa no início de julho de 2004. Eu me mantive em São Paulo ao longo daquele semestre todo, fazendo somente Ballet (não era uma "patricinha", mas pouco sabia do que queria da vida...). Saia com meus amigos do Colégio União Brasileira, com as amigas da "minha" rua e do Ballet e com os amigos da Sociedade São Vicente de Paulo. E por fim, cerca de seis ou sete meses antes da mudança fatídica, também realizei algumas experiências "religiosas" (por muito pouco não me tornei missionária ou freira... Por pouco mesmo. Nisso foi BH o que me "salvou", com todo respeito aos meus amigos religiosos, no ano de 2005. Bem, isso seria tema para outro causo).

Lembro-me de que coloquei os pés em Viçosa no dia 02 de agosto de 2004. Ao descer na rodoviária, meu pai me esperava e sabia que nada poderia fazer além de escutar (sim, escutar) o meu choro adolescente. Em nossa nova casa, um quarto de cor azul - minha então cor preferida - decorado com ursos de pelúcia, os que sobraram das doações que sempre fazia. Nunca gostei de bichinhos de pelúcia. Mudei tudo de lugar. Tranquei-me no quarto, sentei-me na cama e chorei durante um mês: já estava feito.

Exatamente duas semanas depois, meu melhor amigo mineiro (não de Viçosa) foi urgentemente levado a São Paulo a fim de tentar um transplante cardíaco. Por sorte, estive com ele em seus últimos dias. Meu amigo e também primo.

Retornando a Canaã para seu velório e depois a Viçosa, para o "resto" da vida, restara-me nada. Nenhuma palavra, nenhuma ideia ("ah! vou tentar Letras em São Paulo" - pois é preciso lembrar de que Letras nunca foi minha primeira opção, mas hoje gosto muito dela, mesmo que não me dê emprego algum, no momento....deu-me uma vida mais viva). Nenhum riso, nenhuma alegria, nenhum amigo. Aos poucos, conheci gente no cursinho pré-vestibular. Em meu primeiro aniversário ali, triste e só, por intuição fui à Igreja de Fátima quando conheci a um padre que, mesmo hoje não nos falando, apresentou-me à Pastoral da Juventude. E assim.... A vida certo rumo tomou. Depois, os três primos virgens do cursinho G***.... E então a coisa melhorava: já tinha amigos e uma república para me agregar. Enfim a graduação em Letras na UFV e os amores terminados. O mestrado também na UFV e os amores recomeçados. Até que em abril de 2015, mudei-me para Belo Horizonte. Mas, o causo ainda é sobre Viçosa.

A pena que hoje sinto não foi descoberta, mas sim reconhecida, ouvida, o que é bastante pior... Disse-me uma amiga, enquanto lhe fazia uma recente confissão: "....Até aqui não vejo muito problema. A não ser o fato de você ter passado esses anos todos rodeada de gente ruim!".

Como dói o reconhecimento! Mais triste quando dito por outrem!

E olha que fiz muitos amigos e amores nessa cidade. Vivi momentos fantásticos.... Conheci seres humanos extraordinários e aqui aprendi a beber (em alguns anos, saberemos se essa será a minha causa mortis). Aprendi a ler o mundo, a ter consciência política (modéstia à parte, já era bem crítica antes, em São Paulo). Nunca fui uma pessoa "cult" e conhecedora do mundo, sabe aquele tipo interessante? Só saí do Brasil duas vezes - sendo uma delas a dois países, o que me leva a dizer que conheci três países ou sete cidades. Mas também devo isso a Viçosa. Ao empenho de uma grana juntada certa vez (e com a ajuda do meu pai, dinheiro que depois lhe paguei) e também ao empenho doutra grana juntada, acrescida pela ajuda do meu atual "não sei o que somos" - dinheiro que também lhe paguei, em parte.

Uma única vez, aos vinte, extremamente apaixonada por um rapaz, disse-lhe que viveria em Viçosa eternamente por ele. Graças a Deus era só paixão!

Já com o atual "não sei o que somos", sempre lhe o dizia... "posso ficar mais um ano, mais um ano e meio aqui, mas tentemos concursos juntos em outros lugares, esse não é o meu lar, o meu lugar, sabes disso, e como para ti tanto faz, por favor, tente comigo".


(Silêncio)

Então, há alguns dias venho descobrindo que estava rodeada de pessoas ruins e que de mim pouco gostavam. Já o tinha notado....um ou outro na vizinhança (a de meus pais); um ou outro na vida acadêmica; alguns e outros do entorno religioso, que me abandonaram quando mais precisei. Mas nada se compara aos últimos acontecimentos. E mirem: não falo de assuntos do coração, não falo de uma pessoa em especial, falo de uma cadeia de acontecimentos maldosos que me trouxeram até aqui.

(Embora, se não por Viçosa, meus textos não existiriam)

.1. Amo São Paulo, com toda a minha alma, mas penso que já se tornaste uma Pasárgada: "[...] E quando eu estiver mais triste/ Mas triste de não ter jeito/ Quando de noite me der/ Vontade de me matar/ - Lá sou amigo do rei — / Terei a mulher que eu quero/ Na cama que escolherei / Vou-me embora pra Pasárgada." Meus melhores amigos ainda vivem lá, mas como seria eu - amiga desses, após tantos anos? Quem me tornei?
2. Adoro Belo Horizonte e suas luzes. Botecos, cinemas, arte - É a minha mini São Paulo. Tive um bom trabalho e hoje um Doutorado. Alguns colegas e uma amiga ou duas talvez. Mas era um lugar estratégico para estar em Viçosa sem não estar. Já não significam tanto as luzes e os botecos.
3. Não fui a Timor Leste. Não por medo da "violência de gênero", um risco mas que, poderia acontecer em qualquer lugar e hora no mundo. Os medos eram de três dias de avião (exatamente na época dos desaparecimentos daqueles chineses), um tsunami ou terremoto (Timor fica ao lado da Indonésia) e uma malária incurável. Se fosse hoje, iria. E tenho uma amiga que vive em Cingapura... Logo, já não teria medo da Malaysia Airlines, companhia aérea a que lá me levaria.


                                                       (mentira)



Mas sim, queria outra chance.


4. E Viçosa? Bem.. Há muita gente querida por lá, as quais não poderei abandonar. 
5. Queria era me mudar para Buenos Aires. Mas sempre me emocionei ouvindo Albeniz, Sarasate e Danse Bohéme (Bizet), minha música preferida. Mas isso não quer dizer nada, pois além do Gardel, gosto do Paganini e também da Anitta e do Noel.
...

Bem, em termos de religião a tudo já presenciei, compareci e frequentei. De certo, não a tudo, faltam-me o judaísmo e o islamismo. Mas espero ter tempo (não pretendo morrer muito velha, ainda quero ver coisas antes não vistas). O que pretendo realmente dizer (e me perco em minhas linhas), é que hoje sou "apenas" Cristã. Mas se fosse da umbanda, do kardecismo ou do candomblé (não estou segura dessa informação), teria que acreditar em karma e assim diria:

- Viçosa é o meu karma!! (com k mesmo, para enfatizar).


Tenho uma amiga espírita que concorda, mas tento não me influenciar, pois aí já seria sina.


Por fim:
1.Sempre deem ouvidos às intuições das crianças;
2. Temporariamente sem lar, sigo, ouvindo Cuba no repeat, Cuba de Albeniz.

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