sábado, 26 de março de 2011

Lítio (Louvada seja a dança!).

*Dança da Menina Moça. Foto de Paulo Amorim.
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Louvada seja a dança

porque ela liberta o homem
do peso das coisas materiais,
e une os solitários
para formar sociedade.

Louvada seja a dança,
que tudo exige e fortalece,
saúde, mente serena
e uma alma encantada.

A dança significa transformar
o espaço, o tempo e a pessoa,
que sempre corre perigo
de se desfazer e ser ou somente cérebro,
ou só vontade ou só sentimento.

A dança porém exige
o ser humano inteiro
ancorado no seu centro,
e que não conhece
a obsessão da vontade de dominar
gente ou coisas, e que não sente
a demonia de estar perdido
no seu próprio ser.

A dança exige o homem livre e aberto
vibrando na harmonia de todas as forças.

Ò homem, ò mulher, aprenda a dançar
senão os anjos do céu
não saberão o que fazer contigo.

(Santo Agostinho - 354 -430).


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Eu era mais feliz quando dançava. Também mais equilibrada - mas disso não tenho certeza, talvez fosse falta de oportunidade.
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Pra mim, dentre as coisas mais prazerosas do universo está a dança. Tal como um forte alucinógeno, ou sexo ou chocolate ou amor ou paixão, foi-nos dada a dança como fuga do desencanto. Quando danço, sinto uma substância que, produzida pelo meu cérebro, é capaz de me dar felicidade pura, dessas que dependem exclusivamente de mim, do meu corpo, pés, pulmões, labirinto; felicidade plena. Nada falta, nada sobra. Nada sofro, sozinha.
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Após uma noite dançante, acordo às 9:30 da manhã (o que é relativamente cedo, tendo em vista a minha falta de horário, apesar do excesso de obrigação) ainda feliz, ainda viva, ainda anestesiada, ainda dançando. Até que meu humor volte ao normal, o intermediário, permanecerei nesse estado divino até que os pés parem de doer, até lembrar de que hoje é dia de trabalho, até o início da minha neurose quase diária, a que se dilui nas coisas pequanas,quando danço. Música, gente, literatura - a que se dilui nas coisas pequenas, quando danço.
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Nem mesmo a morte das coisas.
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Tudo o que é puro - nascer, morrer, amar - o homem inventou enquanto dançava: respiração, ritmo (o que se altera quando é vida, morte ou amor) e vontade.
Uma professora de Ballet me disse a seguinte frase, há alguns anos, por motivo d'eu estar insegura para desenvolver uma dada sequência de passos. Ela disse:
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- Respira e vai.
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Não sei quanto tempo depois, trago comigo a voz daquela mulher em todos os meus momentos mais decisivos. Lembro da música prestes a ter início, e da voz: Respira e vai. Respiro e vou.
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A dança é o meu lítio.
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Feliz do homem que tem alma e pode dançar.

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Bom Dia!

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