Quando criança, queria um desses globos de plástico. Porque me lembravam bolas gigantes onde se representa o mundo, bolas coloridas. Nunca o ganhei.
Já maior, um de meus ex´s namorados, a quem confidenciei o caso, deu-me de presente um desses pequeninos. Era a coisa mais linda o globo, embora confesse que não saiba onde foi parar - a pelota de plástico - com passar de tempo e volta de mundo.
O encantamento era por conta do azul e acrescimo de cor; a fragilidade dos traços e sentimento de imensidão. A vontade não era a de conhecer o exterior ; apenas, o globo em minhas mãos, cujo significado não sei bem explicar, significado interior e fetal.
Hoje sinto inveja de tantos estrangeiros que conheço. Pessoas que carregam consigo céu, coro, pátria - fazendo de cada chão raíz de afeto, lar, identidade.
Como João de Barro.
Quando mudei-me para essa cidade, disse-me uma aniga italiana:
- Você precisa pegar a sua terra nas mãos!
O fato é que não me sentia daqui. Buscava sempre o exterior das coisas - pessoas e casas - de modo que nunca me reconhecia, não era espelho de ninguém. A medida em que envelheço, entretanto, e abro mão - forçosamente - de tantos devaneios, reconheço-me neste interior, na semente de cada fruta que nasce por aqui. Olho para o interior, para dentro do meu útero, e vejo marcas que agora estão e me organizam.
...
Sinto-me num cárcere.
...
Um confortável e organizado cárcere. Queria mesmo era ver as pessoas e casas daqui - só que em outras peles e cascas. Experimentar o velho e o novo, viajar. Encontrar o pequeno globo de plástico que, dentro das nossas mãos, abrigava pares e pares de alma silenciosamente, numa leve desorganização chamada mundo.
Meu mundo é este lugar. Também
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