"De onde viera tanta coisa? Onde estavam os donos daquilo? Do relógio fechado ali dentro, dos vestidos guardados naquele armário? Do imenso leque de tartaruga que um dia vira na gaveta?"
"OLHINHOS DE GATO pousava então a vista no espelho, procurando, procurando. Todos aqueles rostos deviam ter passado por ali. . . Mas o espelho ainda é mais infiel do que a memória humana. . ."
(Olhinhos de gato - Cecília Meireles)
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Conheci Alenir por meio de uma amiga em comum, Iara. Curiosamente, embora não me recorde do exato momento em que meus olhos se depararam com a figura aleniriana, ainda posso sentir o que tal encontro me provocou: uma profunda curiosidade curiosíssima. Isto porque Alenir é , ao mesmo tempo, uma pessoa igual e diferente do meu referente humano, que sou eu. "Todas as pessosas são diferentes" - uma frase que muito bem caracteriza a generosidade dessa mulher.
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Alenir é diferente. Não! ela é igual! Minto...ela é humana. E tudo o que é humano é evidentemente complexo, surpreendente, passível de descoberta e encantamento. A começar pelo nome: Alenir. Embora ela não saiba, uma de minhas obsessões humanas diz respeito ao nome alheio: nunca conheci uma pessoa sequer que levasse esse nome na certidão, Alenir, o que me faz conjecturar - de maneiras distintas e irrealizáveis - o que será que seus pais e avós quiseram-nos transmitir com esse vocativo tão simbólico: Alenir.....além.....fluir....seguir...luz.....alma. Ou, talvez, seus pais se chamem Alessandra e Odair; Alex e Lenira...só ela nos poderá dizer! (porque até o sagrado e complexo tem o charme de ser casual).
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Alenir é casual...
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Casual e elegante. Nunca vi essa mulher desarrumada, despenteada. Gosta do clássico e o clássico lhe cai bem: branco, verde, preto, marrom. Todas as cores do mundo combinam com seus olhinhos de gato, tez clara e serena que nos fazem lembrar as bonecas infantis. Alenir é extremamente bela, extremamente ítalo-brasileira. Não caminha, flutua; não grita, eleva o tom de voz de acordo com as intenções comunicativas; está quase sempre calma...talvez a tenha visto irritadíssima duas ou três vezes na vida ou pode ter sido um sonho...Alenir é também sílfide.
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Gosto de conversar com ela. Apenas duas vezes na vida tivemos um encontro marcado; os restantes foram casuais, embora bem engendrados pela lógica da vida. Sempre encontrava Alenir em meus dias difíceis e ouvi-la era como balsamo. Ela é a pessoa certa para se conversar coisas como religião e política, sem cair no clichê, no fundamentalismo ou no fanatismo - o que hoje em dia é tão raro. Apesar das nossas divergências ideológicas, Alenir sabe respeitar o próximo, o diferente, o igual, o elegante, o casual, o comum, o exótico, o central e o periférico. De todas as conversas que tivemos, não houve uma em que não me sentisse um pouco mais próxima de Deus e isso , afirmo, só é possível porque Alenir tem uma coisa um tanto "exótica" hoje em dia: acolhida. Ela acolhe como mãe, pai, irmã, irmão e facebook.
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Alenir canta, toca violão, fala italiano, hebraico, grego, conhece as tradições judaico-cristãs como ninguém, é pedagoga, é culta, é divertidíssima (quem não conhece o humor aleniriano não sabe o que é humor), sarcástica e, como se não bastasse, não é pedante! Todas os predicativos anteriores demonstram não só a minha admiração por essa mulher, mas como me sinto estasiada em conhecer alguém que estudou todas as línguas que eu desejo conhecer!!! Exceto pelo "-lão", porque sou mais"-lino", somos iguais no gosto pelo "vio". Colecionadora de histórias, gosta dos italianos, cantores, músicos, atores e atrizes, santos e não santos, guardando-os em suas redes socias. Lembro-me de no momento ocioso passar horas a fio observando as fotografias alenirianas de seus ídolos. A propósito, ela também fotográfa!!! (Sim, querido leitor...Alenir irrita por ser perfeita).
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Mas o que mais gosto nela é exatamente o imperfeito. Alenir tem duvidas, erra caminhos, desconfia. Quando a conheci, já não sabia - Alenir - se virar à esquerda era o melhor caminho, ou continuar em frente. Não sei o que você escolheu, escolherá - mas a certeza de que temos todos os caminhos nas mãos e de que Deus saberá nos conduzir por qualquer um deles (o qual nosso livre arbítrio eleger), da-me consolo e paz como talvez dê a você. Todos os caminhos são certos e errados ao mesmo tempo.
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Alenir já se apaixonou. E mesmo apaixonada, manteve o paradoxal comportamento aleniriano de todo-sempre: uma calmaria turva e desconfiada; ou, desconsolo doce e iluminado.
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Um dos acontecimentos mais emocionantes de minha vida deu-se ao lado de Alenir, quando conhecemos pessoalmente o Frei Betto. Minha alegria e entusiasmo era tamanho, como se estivesse ante uma boy band, sendo eu adolescente de quinze anos. Alenir, casual e discreta, ítalo-brasileira, apenas sorriu elegantemente, porque não passa vergonha à toa.
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Há tempos nossa amizade se configurou em xícara de café imaginária. Mas o carinho que sinto por ela está além desses detalhes da vida cotidiana. Mesmo ausente, ela se faz concreta como personagem surreal-encarnada...(isto porque Alenir é o próprio paradoxo):
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Alenir é uma espécie de Sophia Loren tupiniquim.
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Não sei se o peso da dúvida ainda te assombra (se é que já te assombrou); não sei quais as suas reais motivações, desejos e sonhos, mas o fato é que você é tantos caminhos em si mesma que tenho a certeza de que esta formatura, este diploma, será apenas um passo a mais em sua trajetória e com a delícia de sê-lo. Você é uma pessoa de fato admirável e me sinto afortunada por tê-la conhecido!
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A você, Alenir, toda felicidade de todos os mundos por onde habita!