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De acordo com BAKHTIN (2008), Literatura carnavalizada é aquela que transpõe elementos do carnaval pagão ou medievo para a linguagem literária. O carnaval é a festa do destronamento em que todo mundo é ninguém e ninguém é todo mundo. Tudo destrói e Tudo renova: o livre contato familiar, as mesalliances, as profanações, as excentrincidades aludem à cultura popular da qual a carnavalização emerge; estas são algumas de suas características. Assim como o grotesco e o baixo corporal, isto é, a valorização simbólica, por exemplo, dos orifícios, dos excrementos, da linguagem "chula" que recebem uma acepção ambivalente e biunívoca: o excremento que provem do grotesco é aquele que simultanemanete fertiliza, gerando um movimento contínuo de morte e ressurreição. A idéia é essa: morrer para renascer, de modo que toda cosmovisão carnavalesca traz em si esse sentido...desde a profanação, passando pelo destronamento do Rei, chegando às fezes que também fertilizam à vida e o renascimento, obrigando o reviver do REI destronado.
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"Entra, entra no Batel que ao inferno hás de ir: a representação do Mal na sociedade vicentina de quinhentos" - foi o meu título de monografia enfim entregue! Sim, estou formada, mas formada eu já estava, já vivia a carnavalização desde os seis anos de idade e hei de explicar o porquê.
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Só para constar, a idéia era analisar o Diabo de Gil Vicente a partir da carnavalização: para tal, fiz uma puta pesquisa sobre o demônio, das Sagradas Escrituras à contemporaneidade. De que valeu? 1. Formei, finalmente: como exigira meus pais e meu tempo psicológico de UFV (embora eu ainda continue lá até o próximo semestre, decisivo para meu futuro profissional). 2. Conhecimento pessoal: amei fazer a pesquisa, aprendi muita coisa sobre História, Teologia, Literatura e claro: o meu queridinho diabo. 3. Para nada: Apesar de todos os esforços, passei com uma nota medíocre, 80, porque ultrapassei o limite padrão de monografia....(fiz 113 páginas...não me dei conta quando o coordenador da disciplina postulou um limite de páginas e como em anos anteriores não o havia, fui escrevendo de acordo com o meu "não tempo" e excesso de vontade) e,também, pelo desrespeito às normas da ABNT, por errinhos de crase, regência (meus pecados de sempre).
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Segundo meu orientador, se não fossem tais detalhes eu teria passado com 100....(sei...).
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4. Para ser destronada: passei por TODOS os elementos da carnavalização supracitados no primeiro parágrafo: da profanação ao baixo corporal (este numa festa do Cursinho Popular do DCE, em que também trabalho, mas não posso dizer mais que isso...rs). E claro, o principal elemento, razão da minha atual apatia para com o mundo extracarnavalesco: o destronamento do Rei. 5. Para me dar conta de que dificilmente passo num mestrado: também não posso explicar o porquê...mas vamos aos fatos:
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"Entra, entra no Batel que ao inferno hás de ir: a representação do Mal na sociedade vicentina de quinhentos" - foi o meu título de monografia enfim entregue! Sim, estou formada, mas formada eu já estava, já vivia a carnavalização desde os seis anos de idade e hei de explicar o porquê.
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Só para constar, a idéia era analisar o Diabo de Gil Vicente a partir da carnavalização: para tal, fiz uma puta pesquisa sobre o demônio, das Sagradas Escrituras à contemporaneidade. De que valeu? 1. Formei, finalmente: como exigira meus pais e meu tempo psicológico de UFV (embora eu ainda continue lá até o próximo semestre, decisivo para meu futuro profissional). 2. Conhecimento pessoal: amei fazer a pesquisa, aprendi muita coisa sobre História, Teologia, Literatura e claro: o meu queridinho diabo. 3. Para nada: Apesar de todos os esforços, passei com uma nota medíocre, 80, porque ultrapassei o limite padrão de monografia....(fiz 113 páginas...não me dei conta quando o coordenador da disciplina postulou um limite de páginas e como em anos anteriores não o havia, fui escrevendo de acordo com o meu "não tempo" e excesso de vontade) e,também, pelo desrespeito às normas da ABNT, por errinhos de crase, regência (meus pecados de sempre).
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Segundo meu orientador, se não fossem tais detalhes eu teria passado com 100....(sei...).
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4. Para ser destronada: passei por TODOS os elementos da carnavalização supracitados no primeiro parágrafo: da profanação ao baixo corporal (este numa festa do Cursinho Popular do DCE, em que também trabalho, mas não posso dizer mais que isso...rs). E claro, o principal elemento, razão da minha atual apatia para com o mundo extracarnavalesco: o destronamento do Rei. 5. Para me dar conta de que dificilmente passo num mestrado: também não posso explicar o porquê...mas vamos aos fatos:
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Eu era uma menina de seis anos. Em minhas vindas a Minas Gerais, terra dos meus pais, quando maio, participava do rito católico de coroação à Virgem Maria. Desde os três anos o fazia, com muito gosto, adorava decorar as musiquinhas e me exibir como gracinha de criança que um dia fui, vestida de anjo e cheia de firulas: asas, coroas, luvas de fada - tudo branco, tudo puro.
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Até que um dia, aos seis, ele estava lá: grandes olhos azuis que me fitavam, enquanto estávamos ainda no corredor da igreja, prestes a dar início à cerimônia (na qual eu seria a protagonista do rito). Tal homem, muito alto, muito branco, de olhos muito azuis, assustou-me de tal forma, de tal maldosa forma, quando disse: "Daqui a pouco você já pode entrar, tá bom?". Fora apenas isso, mas para mim é como se ele, o Padre, houvesse dito: "Daqui a pouco você entra, tá bom? Não ouse errar em nada, porque se você destronar Nossa Senhora, eu expulso você, medíocre menina, desta igreja".
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Grandes olhos azuis fitavam-me enquantro adentrava para minha vida carnavalizada, no corredor de uma igreja mineira.
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Profanei.
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Eu, sempre metida, daquelas crianças exibidas, fiquei tão intimidada pelo Padre, pelas observâncias, pela moral, que pela primeira vez em quatro anos de "coração à Virgem", pouco antes de adentrar pelo extenso corredor, que tudo destrói e tudo renova, esqueci-me de todas as letras das músicas, da ordem do rito (o que fazer primeiro? a coroa ou a palma?)
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Enfim: EU destronei a Virgem e o Padre! Não só isso, ainda tentei gambiarrar a coisa: enquanto aderia ao baixo corporal (sim: fiz xixi em minha roupa e na da santa, de tão nervosa que estava...), eu inventei, mascarei, emendei as músicas, permanecendo lá no altar, de olhos fixos nos olhos azuis do Padre, do início ao fim do ritual.
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Lembro-me que meu supereu já me era maldoso desde os seis. Cheguei em casa chorando, aos prantos, porque errei, porque profanei. Enquanto minha família mal fazia caso disso (...afinal, qual criança de seis anos nunca fez xixi na roupa?), eu, já ao avesso, pensava "fui a única criança de seis anos que fez xixi na Virgem Maria: minhas possibilidades de chegar ao céu se encerram por aqui."
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Havia os doces que recebíamos após a cerimônia, mas até isso perdera o gosto: meu medo de altares de igreja ainda me persegue, exemplo disso é que quando participava dos eventos da Pastoral da Juventude, fazia um tudo para não ter de assistir às missas ou subir no altar (perto do Jesus, da Virgem e do Padre, ainda que este não me fitasse mais com seus olhos assutadoramente azuis).
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Desde então, escrevo sobre o diabo.
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O Padre e a Virgem destronados sempre renascerão.
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E a menina?
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Eis o seu fado: à espera da ressurreição, a menina, de máscara em máscara, faz de suas memórias e frustrações um grande carnaval.
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Voltamos com o Sofia de Buteco: Bom dia!
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Até que um dia, aos seis, ele estava lá: grandes olhos azuis que me fitavam, enquanto estávamos ainda no corredor da igreja, prestes a dar início à cerimônia (na qual eu seria a protagonista do rito). Tal homem, muito alto, muito branco, de olhos muito azuis, assustou-me de tal forma, de tal maldosa forma, quando disse: "Daqui a pouco você já pode entrar, tá bom?". Fora apenas isso, mas para mim é como se ele, o Padre, houvesse dito: "Daqui a pouco você entra, tá bom? Não ouse errar em nada, porque se você destronar Nossa Senhora, eu expulso você, medíocre menina, desta igreja".
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Grandes olhos azuis fitavam-me enquantro adentrava para minha vida carnavalizada, no corredor de uma igreja mineira.
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Profanei.
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Eu, sempre metida, daquelas crianças exibidas, fiquei tão intimidada pelo Padre, pelas observâncias, pela moral, que pela primeira vez em quatro anos de "coração à Virgem", pouco antes de adentrar pelo extenso corredor, que tudo destrói e tudo renova, esqueci-me de todas as letras das músicas, da ordem do rito (o que fazer primeiro? a coroa ou a palma?)
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Enfim: EU destronei a Virgem e o Padre! Não só isso, ainda tentei gambiarrar a coisa: enquanto aderia ao baixo corporal (sim: fiz xixi em minha roupa e na da santa, de tão nervosa que estava...), eu inventei, mascarei, emendei as músicas, permanecendo lá no altar, de olhos fixos nos olhos azuis do Padre, do início ao fim do ritual.
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Lembro-me que meu supereu já me era maldoso desde os seis. Cheguei em casa chorando, aos prantos, porque errei, porque profanei. Enquanto minha família mal fazia caso disso (...afinal, qual criança de seis anos nunca fez xixi na roupa?), eu, já ao avesso, pensava "fui a única criança de seis anos que fez xixi na Virgem Maria: minhas possibilidades de chegar ao céu se encerram por aqui."
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Havia os doces que recebíamos após a cerimônia, mas até isso perdera o gosto: meu medo de altares de igreja ainda me persegue, exemplo disso é que quando participava dos eventos da Pastoral da Juventude, fazia um tudo para não ter de assistir às missas ou subir no altar (perto do Jesus, da Virgem e do Padre, ainda que este não me fitasse mais com seus olhos assutadoramente azuis).
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Desde então, escrevo sobre o diabo.
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O Padre e a Virgem destronados sempre renascerão.
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E a menina?
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Eis o seu fado: à espera da ressurreição, a menina, de máscara em máscara, faz de suas memórias e frustrações um grande carnaval.
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Voltamos com o Sofia de Buteco: Bom dia!
Engoli o orgulho, saltei o pedregulho, resolvi o marulho, comi o sarrabulho, escrevi o bagulho, de beca eu tô em julho: Diário de uma Formanda
Cap. XIII: A Lei do eterno retorno
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Cap. XIII: A Lei do eterno retorno
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OBS:
AS MUDANÇAS NO LAYOUT, COMO PROMETIDO, SERÃO FEITAS GRADUALMENTE, PORQUE PRECISO DE ALGUÉM QUE ME AJUDE A FAZÊ-LAS.... OBRIGADA!
AS MUDANÇAS NO LAYOUT, COMO PROMETIDO, SERÃO FEITAS GRADUALMENTE, PORQUE PRECISO DE ALGUÉM QUE ME AJUDE A FAZÊ-LAS.... OBRIGADA!
Parabéns pelo retorno!
ResponderExcluirVida que segue!
Bjos!