sábado, 22 de junho de 2013

MÉTODO CATÁRTICO

*Domínio Público.
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Fluxo de consciência, cura pela fala. Após noites mal dormidas em um hospital, acordei em sobressalto por haver sonhado assistir a uma aula sobre Progressão Geométrica e Aritmética. Pus-me a pensar no que tais símbolos condensam e deslocam - porque sou freudiana até a medula e esta discussão de que ele foi machista e misógino....por favor, deixemos para outro post! Então, desde muito criança, trabalho com a cura pela escrita; a escrita é o meu-amor-maior nesta encarnação, dentro dos objetos palpáveis que tenho  em vida, objetos construídos por minhas inábeis mãos. Mas há sim os amores inconscientes, estes revelados apenas em lampejos oníricos, atos falhos ou desejos inexplicáveis. Este post é sobre isso. Impossível libertar-me da censura que, como num gozo duplicado, tem lá sua função: sinto prazer quando sou lida, porque assim vos leio através de mim, passando horas a imaginar as reações do que fora escrito entre mim e ti. Mas tentarei, a fim de matar tempo e indecisão, criar uma lista livre, sem  pensamentos pré-programados, utilizando o método catártico de Freud, porém através da escrita. Escreverei lo que me sale de los cojones. Quem sabe uma coisa aqui e ali não se realiza? A vida é um pequeno mistério envolto em caixinhas de presentes. O que vi acontecer a meu pai nestes dias (a meus pais...) é um mistério em miniatura que nos passa pela vida sem dizer nada, a menos que, se atentos, enxergamos os detalhes sobre a mesa, como se deixados por uma enfermeira em pequenos e pobres saquinhos plásticos, porém cujo interior, doce ou amargo,  é saboroso como nuvem de algodão. Ás vezes, uma noite de insônia é mola impulsora para um sonho reprimido.
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Presentes da vida 
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1. Quero ser médica. Hematologista. Cuidar de doenças sanguíneas e pesquisas relacionadas ao sangue humano. Quero trabalhar em hospital. Poucos sabem, mas meu primeiro vestibular, em 2003, foi para Medicina na USP. Fiz por fazê-lo, nem havia estudado. Em seguida, mudei-me para Minas. Foi quando meu "namoradinho" e irmão faleceram, fazendo-me desistir em tentar qualquer coisa que me exigisse esforço. Como sou apaixonada por letras, história, literatura, teologia e filosofia - encontrei todas essas disciplinas no curso qual me formei e hoje sou mestranda. Mas quero ser médica. Ofereço-me à família como acompanhante de qualquer enfermo. Estudo na internet casos que me interessam. Sou sócia da ABRALE (Associação Brasileira de leucemia e linfoma). Em São Paulo, ia a palestras sobre cura psicossomática, cura espiritual (cirurgia espírita). Fui ao GRAACC (Grupo de Apoio ao adolescente e criança com câncer) - mas, ao ver uma jovem, da minha idade, fazendo sua quimioterapia percebi que talvez não gostassem - os pacientes do GRAACC - em serem exibidos como cobaias, ainda que por causa nobre.  Tenho recortes em casa de inúmeras doenças sanguíneas, enquanto meninas da minha idade colecionavam fotos de artistas (bem, eu fazia os dois....). Mas a preguiça fez de mim um sorriso falso, uma vida falsa, uma profissão que não a que sonhei. Fiz teste  para doutora da alegria, em Viçosa, e passei. Mas depois me dei conta de que não há nada mais insuportável no mundo que se fingir de palhaço. Eu não.

2. Escrever um livro. Sobre o quê? Não faço ideia.... Mas escrever. Viver de escrita, se médica ou não. Primeiro, um livrinho de crônicas; depois, um conto, alguns contos; e, por fim, um romance, mas já na velhice. Adoraria trabalhar como colunista em algum jornal, ou freelancer....(estou à espera de uma proposta que me veio por amiga, mas não "boto fé" em papo de japonesa, RISOS). Fiz Letras porque queria aprender a escrever. Aprender a Literatura da minha língua. Que me perdoem os professores de língua estrangeira, mas eu, Sofia, só tenho vontade de ensinar a minha língua e  aprender linguística sem a Literatura de Língua Portuguesa é como amputar o braço do corpo. Já traduções eu gosto; e também aulas para estrangeiros. Mas exatamente pelo raciocínio inverso: levar à alguém a minha língua. O Espanhol é sexy, o Inglês é o Inglês, mas a Língua Portuguesa, flor do lácio, é uma flor nascida no deserto. Portanto, quero ser escritora.

3. Odeio dar aulas. Nunca mais quero dar aulas em escola, a menos que seja para ganhar uma "graninha" extra, como preciso neste momento para a poupança a que pretendo. Aula só em Universidade ou curso para estrangeiro. Mas então precisaria fazer um doutorado ou sair do país. Faço ambos com maior alegria. Tenho vontade de estudar na USP ou na UERJ e morar um tempo em Buenos Aires. Quanto ao namorado, havendo amor é possível conciliar. O que não se pode conciliar é o primeiro e mais forte desejo - a Medicina.

4. Quero ter um filho com meu namorado. Em breve.

5. Quero fazer uma poupança, seja médica, professora universitária, escritora, tradutora, professora em escola mesmo - a fim de poder viajar sempre. Em 2012 tive a possibilidade de viajar só - e com meu dinheiro - a Buenos Aires, onde além de turismo estudei espanhol intensivo. Nunca me senti tão viva. Lembro-me de uma noite num café, sozinha, comendo empanadas e vinho....Um mozo tentando flertar...mas eu, pobre, era coração e mente apenas em meu namorado hispanobrasileiro, embora nem houvéssemos oficializado ainda (apesar dos quase quatro anos de relação...). Sentou-se um hippie a meu lado. Um senhor. Eu respirava, respirava, respirava com tanta profundidade sentindo o valer a pena estar ali. Este dia fora o mais feliz da minha vida, mas não entendo por quê. Ainda, contudo, quero conhecer mais da América Latina, Península Ibérica, Grécia e Itália. Também partes do Brasil. 
Mas, sobretudo, voltar a Buenos Aires.

6.Gostaria de casar com meu namorado na igreja. Recentemente, passamos por uma situação um pouco traumática...Ele sabe. Gostaria de selar nosso compromisso vestida de branco. Ele, como ateu, não quererá um padre jamais; todavia, não precisa ser um sacerdote. Podemos convidar a algum amigo de confiança que nos  faça um discurso bonito. Amo discursos e , pretensiosa que sou, posso muito bem escrevê-lo sozinha. O importante é receber nossas famílias, unidas - também a espanhola.
Quem sabe ano que vem?

7.Que meu namoro dê certo! Mas para tal, ajustes sejam feitos: Que ele seja menos grosso; que permita minha intervenção em sua vida, quando para ajudá-lo; Que brigue menos comigo (falo quanto ao tom de voz, às vezes me é insuportável). E que  me siga daqui, porque antes do trinta vou-me embora de Viçosa, como dois e dois são quatro. (A menos que passe em Medicina. Aí vou até o inferno).

8. Que meus pais vivam para sempre. Menos que sempre não permito. Eu não barganho com a força divina. Pode até ser que eles mal se orgulhem de mim que, ao contrário das minhas amigas e das colegas "mulherzinhas" com quem convivo, não tenha nada, apenas sonhos. Mas não permito que eles morram. Eu daria literalmente a minha vida pela deles. Não quero morar eternamente com eles, mas, quando assumir meu "casamento" (o que eu chamo de casamento e não essa bosta da papel), visita-los-ei pelo menos a cada quinze dias.

9. Ter grana suficiente para quando meus quatro priminhos crescerem porque pretendo adotá-los de alguma forma. Financeiramente ou mesmo trazendo-os para minha casa. Também quero cuidar da mãe deles, que é uma das melhores pessoas que conheci, apesar do estrago (mas só em parte financeira). Quanto a meu tio,  isto é, o pai das crianças, levaria-os todos os finais de semana para visitá-lo. Poderíamos revesar, uma semana ficam com ele; noutra, comigo. Mas isso para o futuro...Quando o caçula, meu afilhado, tiver seus vinte e três; eu, quarenta e três.

10. Quero ter o direito de ser triste. Desde que Cleiton faleceu (e também o Rodolfo, um "namoradinho" de adolescência) nunca mais fui a mesma. Cleiton é meu primo, porém como filho único, fomos criados como irmãos. Faleceu em decorrência de um vírus vegetal, o qual enfraqueceu sua válvula cardíaca. A relação que tenho hoje com minha mãe me lembra muito a nossa história, um misto de amor e irritação - ele foi a pessoa no mundo que mais me irritou. Ás vezes o peço conselhos sobre minha vida atual. Não creio em muitas coisas, mas se pudesse revê-lo um dia......(e também ao Rodolfo, à Dona Ruth, a Julya Victor, à vovó Maria, à vovó Apolônia, ao tio Dário, ao tio Carlos japonês, ao tio Wada japonês........) seria bonito. Quero dizer: se existe esta absurdidade de que nos buscam à beira da morte, é você que quero Cleiton. Sinto falta do seu riso, da sua leseira mental, do modo idiota como eras apaixonado por mim e que, ao mesmo tempo, impulsionava-me à felicidade.

11. Quero comprar todas as terras do Tombo da Cachoeira do meu tio (um dos tios mais queridos) Como?  Não sei.

12. Voltar a São Paulo. Já disse? Só por pouco tempo.

13. Quero morrer no Tombo da Cachoeira e, minhas cinzas, serão jogadas na cachoeira de lá, o rio Casca.

14. Quero fazer meu mestrado sobre Gil Vicente, com orientador e coorientador. APENAS sobre Gil Vicente. Se o tema não era bom, que não houvessem me aprovado. Não tenho dinheiro para ressarcir à CAPES, ou seja, FAREI MINHA DISSERTAÇÃO SOBRE GIL VICENTE: AS MORALIDADES VICENTINAS. Farei um resgate histórico do gênero na Europa; um capítulo sobre o pensamento medieval embasado na ideia de morte que se tinha na época. Um pouco da política portuguesa. Análise de duas moralidades e "ecos" póstumos com autores contemporâneos. Ou isso ou isso. E, se conseguir quem me financie, vou a Coimbra trazer material. Caso continuem a me encher o saco com isso, saio deste Mestrado.

15. Voltar a dançar Ballet clássico.

16. Fazer mais amigos. Meus amigos de São Paulo têm suas vidas lá; os daqui, uma grávida, outra militante, outra casada, outra cujo senso de humor está nos níveis mais baixos (a ela dediquei o post "Liberdade ainda que tardia). Sinto-me sozinha. Sinto-me pequena e triste, encolhendo. Não saio muito, mas gosto de um "buteco", jogar conversa fora. Meu melhor amigo tem lá sua vida com os seus e nem ao menos me telefona. Preciso conhecer gente nova.

17.Estudar Francês.

18. Aprender a montar bem a cavalo, eu amo cavalos.

19. Quero voltar a ser amiga de uma pessoa cujo nome não citarei.

20. Mesmo casada, ter meu apartamento com a minha decoração e viver com meu marido em casas separadas. 

21. Tirar carteira de habilitação para "calar a boca" desse povo que me julga incapaz.

22. Comprar um globo terrestre enoooooooooorme e que brilhe no escuro. (sonho de infância).

23. Sublimar em algo ainda desconhecido esta minha vontade em ser freira/ irmã/ missionária.

24. Poder ouvir, até o fim dos meus dias, todas as músicas que ame: clássica, erudita, MPB, samba, chorinho, pagode, pop rock e até le lek lek lek (adoro essa música e os meninos dançando, que coisa linda!). Axé e música eletrônica jamais!

25. Ter alguns bons momentos de alegria: 
A única morfina capaz de nos salvar da silenciosa morte cotidiana.
Um dos dias mais felizes da minha vida....

A vocês, queridos leitores, o meu presente para este dia recém nascido. Trata-se de Emmanel Pahud - Andantino

Um comentário:

  1. Então vai fazer medicina... aqui? A vontade de ser irmã será sublimada nisso, pois. Good luck!

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