domingo, 15 de agosto de 2010

Eu - Larva.

* Semana 15/52 - Hero. Foto de Rui Silva.
Ao recordar minha adolescência, visualizo duas importantes conclusões:
A primeira delas é a de que fui uma adolescente normal, feliz, e, apesar disso, complexada, como tantos outros jovens da minha idade. Como era bailarina, tinha sérios problemas para manter meu peso, sempre instável (porque nunca tive e nunca terei um biotipo de bailarina clássica; nem de dançarina de É o Tchan, por suposto... o que não é totalmente desagradável, ainda que eu tenha nascido no Brasil e muito me orgulhe disso...). Conhecia muita gente; era um pouco popular, embora nunca houvesse pertencido a tribo das "POPULARES" do colégio... (aquelas meninas gatíssimas por quem todos os meninos "mais bonitos" se apaixonavam...); minha tribo era a do eu sozinho; amiga de todo mundo; a louca - simpática - engraçada: COMPANHEIRA.
Como dizia, nessa época, dos meus 12 aos 16, tudo era aborrecentemente bom e perfeito: eu dançava, tinha amigos, era louca pelo Hanson... (Aqueles irmãos loirinhos de Oklahoma...meninos bonitinhos mas que sempre fizeram boa música...ainda gosto dos caras!)... tive a possibilidade de entrevistá-los em maio de 2000, ao lado de outras três amigas; ainda em 2000, em novembro, ganhei uma promoção para passar uma tarde ao lado deles...(graças a um texto que escrevi...) exatamente no dia do meu aniversário de 15 anos! (um dia escrevo sobre isso).
Lia muito....revistas teen: A Capricho era a minha preferida; mas também gostava da Atrevida. Acredito que muito do Sofia de Buteco seja fruto de uma clara influência dessa escrita teen, a qual absorvi de tal forma que ainda não sou capaz de me livrar totalmente dela... (e nem quero, apesar da crítica de meus amigos mais "políticos").
Fui uma adolescente feliz.
Bem...continuando:
A segunda conclusão é a de que tenho emburrecido com o passar do tempo.
Acho que naquela época, apesar dos pesares contextuais da idade, ideologia, universo... eu era um ser humano melhor resolvido.
Nunca esqueço de uma conversa que tive com uma amiga, em que subitamente, após uma decepção com qualquer coisa importante, que hoje já não me lembro mais, entendi um grande mistério da vida:
Podemos estar cercados de amigos... mas, a única pessoa que nos acompanha do nascimento até a morte é você mesmo. É a única pessoa que tem a oportunidade de te conhecer e de estar contigo o tempo todo...ser o seu melhor ouvido-ombro; defender você de uma roubada, por exemplo. Você é o único indivíduo que certamente estará a seu lado no dia em que você morrer, segurando a sua mão.
Doce Solidão.
Após essa reflexão nada marxista, muito tenho emburrecido desde então. Já não consigo mais olhar para tantos mistérios e desvendá-los.
Mas o fato é que a solidão é uma coisa interessante, e necessária.
Estou numa fase de solidão. De "resguardo", como brinco com alguns amigos mais queridos. Não tenho sentido muita vontade de sair, sei que é um comportamento que se dará a curto-médio prazo... (ou seja:não estou doente!), e tenho me respeitado. Tenho me esforçado para lembrar de quem fui, na época dos 15, 16...
Gosto de ficar só. Sempre gostei. E talvez eu goste tanto de ficar só justamente por gostar e valorizar o estar com o outro: os meus amigos, sobretudo.
Gosto de um filme, sozinha.
Quando morava em São Paulo, às vezes me convidava para tomar um Milk Shake e assistir a um filme no cinema, sozinha. Não por falta de companhia, mas por vontade de estar comigo.
Gosto de ler. Gosto de estudar, sozinha.
Não consigo, por exemplo, estudar em grupo: não me concentro! Puxo assunto sobre o tempo, a chuva, o rock... não me ajudo e não ajudo o outro; paradoxalmente, sou uma pessoa que fala demais, quando estou à vontade.
Gosto de caminhar sozinha; viajar sozinha; observar o outro, sozinha...
Gosto do silêncio.
Gosto de rezar sozinha... (por isso não tenho ido às missas....)... Gosto da idéia de estar só.
Gosto de escrever, e quem escreve nunca está realmente sozinho.
O preço pelo dom da solidão é o de se ver sozinha também nos problemas, nas dúvidas, no caos: dificilmente, apesar das tentativas das pessoas que nos amam, somos compreendidos pelo outro. Ainda que em compensação tenhamos facilidade para entender problemas alheios, facilidade literária polifônica Bakthiniana de empatia, às vezes, temos dificuldade de expressar as dores que temos.
É preciso vivê-las também só.
Como saída, optamos por declará-la às pessoas, inúmeras...mas, intimamente, sabemos que a resposta não vem de lá.
Gosto, contudo, de quem sou.
Gosto da minha capacidade de estar comigo e estar com quem amo na mesma intensidade e proporção. Não sou nem de longe narcizista e auto-suficiente; não é isso não! Sou muito carente em muitos aspectos e gosto muito de colo! Mas, acho que aprendi a me valorizar, e a reconhecer a necessidade de solidão que tenho em momentos - chave que precedem grandes mudanças.
Como uma larva.
E você, leitor? Conhece a ti mesmo?
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Um comentário:

  1. Semelhanças assustadoras rsrsrsrs. Será que é mal ou bem de filha única ????
    Bjim

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