domingo, 30 de maio de 2010

Prece das Marias.


Hoje é o último dia que eu me cozinho.
Que eu me cozinho em Banho, Maria!
Maria, levai as nossas preces até o alto.
Até o alto daquele morro.
Morro de raiva, Maria, mas você viu.
Viu você em Banho, Maria! Mariando. E agora José?
José, que era bobo, não foi amigo de Marta, nem de Madalena, nem da outra Maria, porque antes disso morreu.
Morreu de morte morrida, para não ter que morrer de raiva.
Raiva eu tenho....como tenho.... do Banho, Maria!
Marianamente de todos os dias, mas hoje não mais.
Mais uma prece, Maria: rogai por nós, do alto daquele morro distante.
Distante, morro de raiva, mas não de Banho, Maria!
Maria! Recordai o sofrimento de vossa melhor amiga, Santa Luzia.
Luzia, que não era Maria, jogou os olhos fora para não enxergar o que não queria.
Queria Deus, que era homem, castigá-la pela audácia de menina:
Meninamente, porque nasceu Deus, devolveu a Luzia os olhos perdidos, agora para todo sempre.
Sempre que Luzia enxergava, depois do castigo, Luzia virava Maria por causa dos olhos.
Olhos maiores, mais bonitos, e que passaram a enxergar sete vezes mais.
Mas se Deus fosse mulher, isso não teria acontecido.
Sido, teria, diferente: Luzia haveria de ser cega e feliz, sem Banho, Maria, sem prece e sem alto de morro.
Morro de raiva, Maria, só de pensar.
Pensar que sete vezes mais é muita coisa, é muita oração pra gente sem fé como eu.
Eu me cozinho em Banho, Maria! Mas hoje é o último dia.
O último dia da minha trinzena aos santos das causas sem efeito.
Amém.

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