Tenho medo e uma mancha de nascença que se parece com uma nuvem, na perna esquerda. A baixo, próximo de meu tornozelo.
Então, ao senti-lo agora há pouco, tranquei-me no banheiro e fumei um cigarro, pois já não possuo vício que não esse e por hora moderado.
Ao apagá-lo, coloquei-o sobre uma folha em branco de papel higiênico a qual queimou, tenazmente, a mancha de nuvem sobre minha perna. Doeu mas não feriu. Porque a folha estava sobre a perna cruzada, silenciosamente. Entendem? A perna cruzada, a esquerda acima, a folha sobre o tornozelo e o cigarro apagado nela, queimou a mancha mas o medo não.
Nada sei sobre o meu passado gestacional, mas dizem que as manchas de nascença são desejos não realizados das mães, esses que ficam marcados em seus filhos. Naquele instante, pensei que ela deveria sentir um medo-medonho, como o que senti há poucos minutos escondida no banheiro.
Olhou, então, uma nuvem e essa nasceu em mim, a fim de lembrar-me que sou medrosa. Que sinto medo às duas da manhã embora pretenda despertar às cinco. A nuvem acima é idêntica à marca de nascimento.
Talvez alguém com muito medo, antes de dizer o meu sim à vida, olhou uma nuvem parecida com certa ternura, apesar do medo.
Sinto medo de não ser capaz. Medo da provável não afirmação. Medo de não conseguir despertar na hora devida.
Então, de soslaio, olhei a mancha e imaginei por quantas nuvens estive até chegar aqui.
Meu medo não diminuiu uma porcentagem, porém me deu a certeza da insônia. "O medo é uma doença" - minha cena preferida de Apocalypto (2006, Mel Gibson).
Sinto medo da vida, mas não da morte. Talvez por isso já a venha estudando há certo tempo em minhas pesquisas acadêmicas.
Queria um anjo que me dissesse agora ou em sonho "Tudinho vai dar certo". Mas anjos vivem noutras dimensões e na que agora estou, só havia uma nuvem. E insônia.
Apesar delas, tentarei conforme o meu devir.
Ao que há de-vir: Paciência.
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