sábado, 20 de maio de 2017

WHEN EVERYBODY LOVES YOU (ou big big stars)

       Fonte: http://centralanitta.com/anitta-no-ferdinando-show/




Aos quinze anos, tive um "namoradinho" (o diminutivo não é depreciativo. É porque não se tratou de um namorado conforme o termo define... Mas foi a primeira pessoa não platônica importante na minha vida - durou três meses o nosso... Enfim, o que na época não tinha nome).  

Recomeçando.

Havia esse menino, que se tornou um amigo muito querido, hoje casado e com uma esposa linda. Não me lembro bem o porquê, mas ouvíamos juntos "Mr. Jones" do Counting Crows e era essa, então, a nossa música tema. Outra versão é a de que já gostasse eu da música e ele passou a lembrar de mim através dela. Não sei. O que lembro com precisão é que em nosso primeiro encontro, no cinema, levou-me o garoto uma caixinha de bombons Sonho de Valsa. Achei aquilo tão fofinho que, mesmo na rememoração, ainda é um poema do Manuel Bandeira: 

"Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas...

- O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada."

(Porquinho-da-Índia)


Não deveria escrever hoje, pois tenho muita coisa a fazer e visita em casa. Mas o lúdico gratuito tido por hora é divagar aqui. Então pensei em uma crônica rápida. Entre coisa e outra, hoje ouvi a tal canção de Counting Crows (amo essa banda) e meu pensamento me levou longe. 

Muita gente que conheço gosta de estar sob a mira dos holofotes da vida. No palco. E não falo aqui de grandes grandes estrelas, mas - embora também delas - falo de gente normal, como você e eu. Todo mundo gostaria de ser reconhecido e valorizado em tudo o que faz. Mais: Todo mundo gostaria de ser amado, paparicado, querido, lembrado, um semi-pop-star, adequando essa imagem ao nosso contexto diário, claro.

"We all wanna be big big stars, yeah, but
We've got different reasons for that..."

No meu contexto, para dar um exemplo, já estive no palco e hoje nas coxias. Há muito nas coxias, a propósito. Então, empaticamente compreendo a sensação daqueles que antes ratos se tornaram gatos, antes gatos se tornaram leões, antes leões voltaram à condição gatos e vivem na inconformidade de estarem entre o primeiro e o último. É aquela história da medalha de prata, a qual poucos desejam. Ou bronze ou ouro. Lembrou-me também daqueles atores mirins aclamados pela crítica mas, quando crescem, ou por não se adequarem a certos padrões ou por azar, são completamente esquecidos. Com a ascensão das redes sociais esse perigo é mais visível. O número de likes no Facebook pode ser a euforia ou a depressão de alguém, principalmente dos adolescentes.

De modo geral, sentimos medo da solidão e quando todos amam você, parafraseando a música que agora ouço, nunca nos sentimos sozinhos. Há quem lide com isso tranquilamente; há, contudo, pessoas que de fato sofrem com o vazio do abandono midiático, popular - do palco à coxia. Conseguem entender? Você pode negar, leitor, mas no fundo do seu coração, não seria legal ser uma espécie de Bob Dylan? Ah... Eu adoraria!

Pensei na Anitta. Que mulher inteligente se tornou aquela garotinha, Larissa, que cantava nos cultos evangélicos com o pai. Não nego em dizer que gosto dela. Seria uma boa amiga para as baladas e resenhas, como se diz por aqui. Alavancou a carreira aos pouquinhos, de ratinha a gatinha a leoa. Em uma de suas primeiras entrevistas, dada a minha musa Marília Gabriela, ao ser questionada sobre sua "primeira vez" (sexo, claro), a garota ficou vermelha e não respondeu, possivelmente por respeito ao pai. Ora? Mas não é essa Anitta a que desce até o chão e seduz séries de marmanjos por aí? Pois é...

"I wanna be a lion
Eh, everybody wants to pass as cats
We all wanna be big big stars, yeah, but
We've got different reasons for that..."

Isso faz alguns anos. Hoje ela se tornou um mulherão e uma pergunta dessas já não seria tabu. Mas achei curioso notar que aquela garota não era absolutamente o que parecia ser. É aquele ditado, leitores "Nem tudo o que reluz é ouro" - mas aqui o provérbio adquiriu um sentido positivo. Acompanho pouco a carreia dela, não ouço suas músicas em casa (quero dizer, danço-as e canto quando a situação é pra tal), porém sua evolução é visível, também intelectual e humana. Enfim. É uma menina que admiro.

Uma menina de sorte. Mas e o resto da humanidade? Nós que trabalhamos em jornadas de vinte ou quarenta horas semanais e temos metade de nossos salários descontados pelo Governo? Aliás, isso quando estamos empregados. Sem contar a reforma previdenciária! Em que momento de nossas vidas seremos gatos ou leões? Quando seremos amados por todo mundo e ovacionados nas redes sociais? No meu contexto, quando serei convidada para uma banca de graduação ou mestrado? Nunca, talvez.

Ah... A noite me embriaga. 

Eu adoraria ter sido uma bailarina famosa ou uma médica oncologista. Uma cantora de choro ou uma jovem cientista. Hoje, gostaria de ser escritora, tradutora e professora universitária. Viajar o mundo. Conhecer pessoas interessantes. Ter um amigo tipo Mr. Jones. Adotar um filho, ter outro biológico e um cachorrinho cuja "espécie" esqueci, mas é aquele que tem carinha de bravo contudo é doce como açúcar. Uma bicicleta. Dinheiro para as viagens e para sair e para voltar a dançar Ballet (O resto eu danço sem grana). Cara, queria fazer muita coisa, casada ou solteira ou casada... Os planos seriam os mesmos, com os ajustes necessários. Sofro para me adaptar às situações, mas conforme outro dito popular, dois aliás:

1. Danço conforme a música.
2. Carro apertado é que canta. (Eu, hoje)

Antes estava mais para "um olho no peixe e outro no gato". Mas não dei conta. Era muito difícil levar a vida com tanta intranquilidade, atenta ao ataque do mundo. Ah... Sinto-me tão simbólica hoje! O que pretendo dizer é que em todas as áreas da minha vida eu estava atenta a tudo... Seja na vida familiar ou laboral. Ninguém muda do dia para noite, exceto os Bipolares. E eu quero acreditar, quero ser uma pessoa que acredita na mudança da vida... Da coxia para o palco.

"Believe in me 'cause I don't believe in anything
And I, I wanna be someone
To believe, to believe, to believe, yeah" 

Eu queria ser uma espécie de Professora Doutora Salma Ferraz (espero em Cristo que ela nunca leia essa bobagem e nunca encontre este Blog), no que tange ao profissional, pois não a conheço pessoalmente. Só pelo Facebook e e-mails trocados, os quais imprimi e enquadrei. Já na vida pessoal, eu queria mesmo ser é a Camila Alves. Brasileira, tem um canal culinário nos States. Mas isso não me importa. A questão seria: Ela é linda, maravilhosa (eu me pareço um pouco com ela, Há!), tem três filhos, é super caseira e  se casou com um carinha aí chamado Matthew McConaughey, relacionamento duradouro para tanto holofote. Apenas.

"Man, I wish I was beautiful"

Por fim, leitores, não soframos por nossas vidas que em nada se parecem com nossas fotos do Instagram ou postagens no Facebook. Mas não deixemos de sonhar.

Ainda teremos nossos cinco minutos. Não acham?
Boa noite!


Mr. Jones (Counting Crows)

Sha-la-la-la-la-la-la
Hmm, uh-huh

I was down at the New Amsterdam
Staring at this yellow-haired girl
Mr. Jones strikes up a conversation
With a black-haired flamenco dancer
You know, she dances while his father plays guitar
She's suddenly beautiful
We all want something beautiful
Man, I wish I was beautiful

So come dance this silence down through the morning
Sha-la-la-la-la-la-la-la, yeah
Uh-huh, yeah
Cut up, Maria!
Show me some of them Spanish dances
Pass me a bottle, Mr. Jones
Believe in me
Help me believe in anything
'Cause I wanna be someone who believes
Yeah

Mr. Jones and me tell each other fairy tales
And we stare at the beautiful women
"She's looking at you", "Ah, no, no, she's looking at me"
Smiling in the bright lights
Coming through in stereo
When everybody loves you
You can never be lonely

Well, Imma paint my picture
Paint myself in blue and red and black and gray
All of the beautiful colors are very, very meaningful
Yeah, well, you know, gray is my favorite color
I felt so symbolic yesterday
If I knew Picasso
I would buy myself a gray guitar and play

Mr. Jones and me look into the future
Yeah, we stare at the beautiful women
"She's looking at you", "I don't think so. She's looking at me"
Standing in the spotlight
I bought myself a gray guitar
When everybody loves me, I'll never be lonely

I'll never be lonely
'Cause I'm never gonna be lonely

I wanna be a lion
Eh, everybody wants to pass as cats
We all wanna be big big stars, yeah, but
We've got different reasons for that
Believe in me 'cause I don't believe in anything
And I, I wanna be someone
To believe, to believe, to believe, yeah

Mr. Jones and me stumbling through the barrio
Yeah, we stare at the beautiful women
"She's perfect for you" "Man, there's got to be somebody for me"
I wanna be Bob Dylan
Mr. Jones wishes he was someone just a little more funky
When everybody loves you, oh, son
That's just about as funky as you can be

Mr. Jones and me staring at the video
When I look at the television, I wanna see me
Staring right back at me
We all wanna be big stars
But we don't know why and we don't know how
But when everybody loves me
I'll be just about as happy as I could be
Mr. Jones and me, we're gonna be big stars




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