segunda-feira, 12 de maio de 2014

Ode ao Amor



Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã não beija,
depois de amanhã é domingo
e segunda-feira ninguém sabe
o que será.

Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate,
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão,
se é que virão.

O amor, Carlos, você telúrico,
a noite passou em você,
e os recalques se sublimando,
lá dentro um barulho inefável,
rezas,
vitrolas,
santos que se persignam,
anúncios do melhor sabão,
barulho que ninguém sabe
de quê, praquê.

Entretanto você caminha
melancólico e vertical.
Você é a palmeira, você é o grito
que ninguém ouviu no teatro
e as luzes todas se apagam.
O amor no escuro, não, no claro,
é sempre triste, meu filho, Carlos,
mas não diga nada a ninguém,
ninguém sabe nem saberá.
Não se mate
(Carlos Drummond de Andrade - Não se mate)

domingo, 11 de maio de 2014

dezesseis- desejos - para - doismilequatorze

*Os Gêmeos.
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1) Voltar para São Paulo.

2) Conseguir um trabalho fora de sala de aula (fundamental/médio/cursinho/....), opções:

i) Português para estrangeiros;
ii) Literatura comparada - Professora Universitária;
iii) Revisora de Texto/ Tradutora (Inglês/Espanhol);
iv) Médica;
v) Enfermeira;
vi) Dona de Cerimonial de festas de aniversário.

3) Aprender a nadar;

4) Aprender a dirigir;

5) Passar no próximo edital para formação de professores na terra em formato-jacaré.... (uma segunda chance).

6) Ou Argentina (como leitora de português);

7) Desaparecer no próximo junho, após o dia 11. (Como? Assaltar a um banco e fugir do país).

8) ou voltar para São Paulo;

9) Voltar a dançar;

10) Começar a escrever um livro;

11)  Atar de-vez ou des-atar eternamente;

12) Escrever em letras garrafais FODA-SE, a pelo menos três pessoas;

13) Conhecer um pedaço da Europa em dezembro ou quado me der na telha;

14) Não surtar;

15) Criar vergonha na cara;

16) Voltar para São Paulo.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Pré-texto

*As cores do tempo. Ayla.
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Estes dias, participando de um  evento acadêmico, conheci alguns escritores e editores bastante interessantes. Alguns deles, inclusive, bem jovens, levando em conta a produção literária já tida em mãos, o sopro de vida, alcance de alma e todas essas coisas.  Um em especial, cujo nome não lembro, talvez para efeito retórico ou verdade-certeza, disse à plateia que o escritor é aquele cuja alma o incita a escrever, não como finalidade em si, mas necessidade pura. Não quem tenha o que dizer somente, mas sim os que necessitam dizer - sim, esses tornar-se-ão escritores, caso a disciplina lhes seja regular, o sentar ante o horizonte e as mãos no teclado ou na máquina de escrever (para os mais sofisticados) não chegar a peso, mas exercício contínuo.
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Pois bem. Sinto a mesma necessidade, mas existe a falta de disciplina ou até perseverança. A mesma que me impede de ser médica, mesmo sabendo que tenho para tal estômago e alma. Não sei  burilar palavras, opto quase-sempre pelo recurso "fluxo de consciência", efeito literário dos escritores que mais respirei ao longo da vida, os de cabeceira. Mas o que dizer...está, atrás da facilidade que é, no meu caso, postergação.
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Sempre quis publicar um livro de crônicas ou até escrever para um jornal, regularmente. Mas não sei já por onde começar, haja vista que todos os estudantes de letras têm as mesmas habilidades que as minhas, não sou original, não sou povo, sou cigarra-não-formiga (por preguiça, não talento).
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Uma das novidades da vida, agradável ou quase-nada, é o meu novo trabalho. Possivelmente daqui a um mês, relendo este pré-texto, meu trabalho seja a única coisa que me mova. Pode-se perder tudo na vida, mas é preciso trabalhar....sustentar-se, produzir e consumir. Vive-se sem amor, afeto ou família, mas mediante a necessidade da vida, é preciso trabalhar, com ou sem vida, paradoxalmente.
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Das coisas mágicas do meu trabalho só posso falar de um cão que encontro todos os dias no intervalo de aulas, quando me dirijo ao fumódromo dos professores. Claro, há a instituição, a hierarquia, os alunos e professores tão curiosos, mas no andar da carruagem em que me encontro não posso, nunca-jamais, correr o risco de um processo. Falar dessas pessoas é sem dizer usar nomes e não metáforas, fazer-se de espelho. Quando iniciei este Blog, ante o término de um relacionamento, quase fui processada certa vez e tudo era apenas metáfora imagina então se fossem as letras pedra ou pó ou realidade. Restou-me o cão.
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Apago o quadro. Pego o apagador. Assopro o giz. Coloco-o sobre o estojo. Assopro o giz. Ponho-o dentro da bolsa. Assopro o giz. Caminho enquanto assopro o giz das mãos e do corpo e da gargante já rota. Chego à sala de professores. Como bolacha. Tomo café. Assopro o giz. Pego a bolsa. Abro a bolsa. Retiro o maço. Pego um cigarro. Fecho a bolsa. Esqueço o esqueiro. Abro a bolsa. Pego o esqueiro. Assopro o giz. Arrependo-me. Caminho. Arrependo-me. Sorrio. Assopro o giz. Dobro à esquerda. Assopro o giz. Caminho. Acendo o cigarro. Três passos: o cão.
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Um desgraçado animal. Feio, medonho, abandonado. E triste. É o que me pareceu nas primeiras semanas. Ao bater do "sinal" (ou sirene, o que há nos colégios e escolas para marcar o trocar de aulas e passagem do tempo) aproxima-se o cão do portão central à espera. Contudo, foi engraçado notar que apesar do esforço, medroso é o cão, ressentido de contato humano, fugindo sempre dos professores que se dirigem ao fumódromo, evitando o toque, contato físico, não ouvindo o estalar de-dedos-de um ou outro alguém que por obrigação o cumprimenta (semelhante ao que fazemos com alguns parentes, vizinhos ou pessoas de quem des-gostamos mas somos obrigados a conviver).
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Um ou outro alguém. Geralmente ninguém. A mulher alta de cabelos longos-negros grita: "sai daqui cão fedorento"....e lá se vai, cão-medonho, carniça viva, buscar a própria solidão.
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Certa vez fui surpreendida ao notar que uma colega professora doava ao cão restos de comida. Sempre que essa mulher, loira-loira, dá o ar da graça e das asas no pátio-fumódromo, o cão surge dentre o mato malacabado que cerca o espaço todo, com um pouco de coragem. Porque também os cães vivem sem amor, afeto ou família, mas mediante às necessidades caninas, é preciso comer, com ou sem apetite, paradoxalmente. Bem, em se tratando de um cão, o apetite quase nunca será impedimento.
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Hoje estive no fumódromo.
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Depois de... apagar o quadro. Pegar o apagador. Assoprar o giz. Colocá-lo sobre o estojo. Assoprar o giz. Pô-lo dentro da bolsa. Assoprar o giz. Caminhar enquanto assoprava o giz das mãos e do corpo e da gargante já rota. Chegar à sala de professores. Tomar meio café. Assoprar o giz. Pegar a bolsa. Abrir a bolsa. Procurar o maço. Notar o esquecimento. Do maço. Do esqueiro. Da vida. Da Bolsa... e arrepender-me. Puxar papo com o professor azul. Implorar um cigarro. Recebê-lo, sem riso.  Caminhar. Arrepender-me. Sorrir. Assoprar o giz. Dobrar à esquerda. Assoprar o giz. Caminhar. Ver o professor azul. Pedir esqueiro. Recebê-lo. Ver o professor riso e a loira-loira que se aproximava, sempre viva.  Tês piscadelas: o cão.
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Sentou-se no meio do semi-círculo formado pelo professor azul, o riso, a loira-loira e eu. Nem tão perto nem tão longe de sua única amiga, sentou-se, fez-se  até agradável e, pela primeira vez desde que atravessei os portões e matosmalacabados daquele colégio, fixou o olhar em mim. E
...
Eu nele
....
Eu nele
....
Eu nele
...
Eu nele.
....
Foi quando o cigarro findou, o sinal bateu e fui obrigada a levantar-me de onde estava para sujar-me mais duas vezes de giz branco pela metade. 
.....
Depois de...levantar-me de onde estava....Três suspiros: o vão da sala ainda vazia.
....
Mas 
Eu [ainda]  nele
....
Eu nele
...
Eu nele
...
Eu nele
.
Pretexto para voar.


quinta-feira, 1 de maio de 2014

DO OUTRO LADO DA FAMA

Cegonha em contra cruz. Foto de Jcb.Pardal

Há uma série de textos sobre os quais pretendo escrever em breve; crônicas, digamos. O triste fim de Cláudia Silva Ferreira, "arrastada" por uma viatura da polícia militar no Rio de Janeiro; a desventura do dançarino e de sua mãe - Douglas Rafael da Silva Pereira e Dona Maria de Fátima, a mãe que poderia ser a minha ou a sua. Também sobre o midiático "protesto das bananas", em ocasião da "pacoba" jogada em direção ao lateral Daniel Alves do Barcelona; e, por fim, o misterioso caso das quatro jovens assassinadas em Goiânia, no morro do Mendanha, no dia "Internacional da Mulher": Mylleide Morgana, Sinara Monteiro, Rayane Kellry (sobre a última não há dados concretos) - todas entre 14 e 16 anos de idade. Outra história que me interessa muito é a do assassinato do funkeiro MC DALESTE - "casualmente" esquecido pela mídia.... Outros Amarildos e Amarildas.

Escreverei sobre todas essas questões, a seu tempo, modo, pessoa e voz. Por hora e cansaço, escreverei sobre minhas atuais (des)escolhas, lembrando que, de qualquer modo, trata-se de um diário ficcional tudo o que for aqui escrito. Sem nomes  ou referências do mundo cotidiano. Ao leitor interessado cabe imaginar o que é real ou fantástico; o que é monótono ou excessivo; o maravilhoso ou o sádico. A palavra e o silêncio que  acompanha as entrelinhas. Sobre os nomes citados, destacarei aqueles que me interessarem - pois cada nome é um destino, uma certidão de vida sobre a terra, o que não é pouco, pois somos todos gentes. Aqui ou do outro lado da fama.

Perdi a oportunidade de trabalho comentada no último post pseudo-fictício. Escrevi à agência de fomento, mas já haviam contactado uma suplente. Chorei compulsivamente por duas semanas, até que as lágrimas secaram, insistindo cair vez ou outra, quando encontro com desavisados ou interessados de plantão ao me perguntarem sobre... (as pessoas não têm culpa da curiosidade-natural. A vida moderna está tão exposta às redes sociais que se criam laços invisíveis e inóspitos, ainda mais para os que trabalham com Blog´s). Resolvi tirar férias de mim mesma, buscando o único lugar dessa cidade em que me sinto confortável para ser quem sou - melancólica, colérica, e - por que não? - corajosa. O não também é um ato de coragem.

Arrependi-me amargamente e pretendo tentar o próximo edital. Para não sofrer de loucura ou tristeza excessiva, iniciei alguns projetos: consegui um trabalho em um colégio público-estadual da região; "engatei"- com marcha cinco - a tardia volta às aulas de direção e resolvi aprender a nadar. Esse último item, aprender a nadar, é a minha retaliação, ou castigo, por haver desistido da minha viagem à terra dos jacarés. Aos interessados, a dica está dada: meu destino ligou-se por alguns meses à terra nova-formato-de jacaré. Pois bem. Para meu auto-flagelo, acordo duas vezes por semana para ir às aulas de natação. Vou aprender, ainda que custe, ainda que com medo d'água, ainda que com o frio absurdo do maio que se apresenta, a nadar. Hoje foi minha primeira aula e consegui - finalmente - prender a respiração por longos segundos e tocar os pés com as mãos, concomitantemente, dentro da piscina. Apenas isso, leitor! Mas o necessário para que uma profunda alegria me viesse, dessas de criança com seu ovo de Páscoa.

Distribuí ovos de Páscoa aos meus pais, companheiro e a alguns amigos. Aqueles que cruzaram o meu caminho no ano passado presencialmente. Estava muito carente de amigos e acredito no poder do chocolate (principalmente o do branco, meu preferido): o de adocicar as almas e as dores.

Sobre o colégio novo, uma graça: o anterior também o era, mas agora...sinto-me mais preparada e, de alguma forma, amada. Gostei muito da estrutura da escola e de todos os alunos, sem exceções. Enquanto sujeitos em formação são dóceis, amáveis, leais. Enquanto grupo, "algazarrantes": mal consigo controlar a sala de aula mas, cá entre nós, não creio que seja essa a minha principal função. Aliás, não passa de um teste: desconfio de que não tenha vocação para professora, se isso significar expulsões da sala de aula, ocorrências e xingamentos explícitos. Quero lecionar para quem tenha a vontade e a liberdade de aprender.  Com relação ao salário, não consideraram meu título de mestre, o que me deixou bastante apreensiva e frustrada. Dois anos turbulentos que, até então, não me valeram de nada. Por essa razão, continuo enviando currículos para alguns lugares, buscando informações sobre leitorados, sobre a verdade ou semi-verdade referente às punições daqueles que desistiram da viagem em quase última hora. 

Eu não: calculei tudo em dias para não prejudicar o meu ou minha suplente (cujo nome prefiro não saber, embora desconfie). Isso porque quero tentar de novo. Portanto, dentre as atividades comentadas acima, dedico-me também ao estudo de línguas, por conta própria, e também o da Teoria Literária. Quero melhorar o currículo para um novo leitorado, uma nova chance (porque os seres humanos podem e devem se arrepender de suas más ou boas escolhas, ou a vida não seria vivida). Ao mesmo tempo, esse esforço contribui para um currículo melhor e assim, talvez, um possível doutorado para 2015. Já escolhi a instituição, mas o nome - esse não nos interessa. O que nos vale, neste momento, é que estamos em 2014, portanto: aulas de natação, direção, espanhol, inglês, teoria literária, muito trabalho...e um pouco de doçura nas horas vagas. Certo rapaz disse-me hoje que meu excesso de doçura repentina pode ser uma espécie de compensação patológica. Vejamos o que tal significa:

"Mecanismo de contra-investimento e de harmonização psicológica frente às deficiências reais ou imaginárias, ou seja: de bloqueio do retorno das insatisfações, de sentimentos de inferioridade, de menos valia recalcados no pré-consciente ou no inconsciente  produzindo ações persistentes de contra-investimento para vencer aquilo que afeta de alguma maneira o indivíduo." *


Ok! Compensação ou não, importante é que fiz cinco crianças felizes, cinco adultos acarinhados, três amigas mais gordas (falta uma...a que me deu um bolo nesta semana, mas já a perdoei), um namorado contente, uma senhora-fantástica mais acolhida em minha vida - e um cão mais feliz. Compensação ou não, senti-me compensada foi pelos ovos de chocolate que também ganhei, além de um lindo coelhinho azul, presente de uma amiga e cujo nome, dado por mim, é Bento. Sendo a vida tão amarga, normalmente, penso que um pedaço de chocolate se não preenche o estômago, preenche um pedaço de alma. Nada melhor do que ser lembrado em "tempos de cólera". A psicanálise desconsidera um elemento metafísico superior à ciência: a vontade consciente. Eu, que tenho idade mental infantil, prezo festas de aniversários, ovos de Páscoa e sempre enxerguei uma jiboia ingerindo um elefante em Exupéry (Embora seja apaixonada por Voo Noturno, 1931). Um dia, reescrevo o porquê.

Assim, do outro lado da fama, escassas são as casas muito engraçadas, das que não têm teto ou nada e ninguém podia fazer pipi; tampouco as rosas preferidas pelos beija-flores são assim "esculturais", formadas em tela deslumbrante e bela. Do outro lado da fama, resta-nos apenas  uma boa média que não seja requentada e um cigarro vagabundo para espantar os mosquitos. 

Não foi desta vez, mas tudo bem. Ganhei um globo terrestre do meu pai, a fim de lembrar que o mundo ainda é grande e de que há países cujo nome nem sei.

Amanhã, um almoço na casa dos "amigos casais"; sexta, aniversário de casamento dos meus pais; sábado, corte de cabelo com a mulher que poderia haver sido - mas não foi - minha cunhada. Entre coisa e outra, corrigir a dissertação de mestrado e continuar... para qualquer canto. 

O que reclamo a Deus, diariamente, não é que o príncipe se tornou um chato - que vive dando no meu saco. Eu peço à vida a não mediocridade, a não amargura, o não conformismo. De tantos colegas com quem "cruzei" nestes dias, alguns defendiam veementemente a atuação da polícia militar carioca - no caso do jovem dançarino e em outros citados anteriormente. Ouvir isso de um formador de opiniões é o mesmo que estar de mãos atadas diante do apedrejamento de um inocente...

Não: eu não nasci para isso.

O que peço a Deus, pelo menos até o mês de agosto/setembro - saindo do altruísmo e chegando ao egoísmo - é um pouco de malandragem. Uma segunda chance e um trabalho que valorize a gastrite nervosa desenvolvida nos últimos dois anos de mestrado. 

No mais: Qual foi o resultado do futebol....?
- Viva o Atlético de Madrid e um beijo na testa do Arda Turan, meu preferido!

....
fonte:http://pt.shvoong.com/social-sciences/psychology/2208404-defesa-ps%C3%ADquica-compensa%C3%A7%C3%A3o/