quinta-feira, 31 de maio de 2012

AWAY NILZER - PROFESSORES DO BRASIL

Bruna Caram - Cantorices - n.18 "Último Desejo"

POEMAS RECITADOS POR JORGE LUIS BORGES

Remordimiento por cualquier muerte


REMORDIMIENTO POR CUALQUIER
MUERTE
Libre de la memoria y de la esperanza,
ilimitado, abstracto, casi futuro,
el muerto no es un muerto: es la muerte.
Como el Dios de los místicos,
de Quien deben negarse todos los predicados,
el muerto ubicuamente ajeno
no es sino la perdición y ausencia del mundo.
Todo se lo robamos,
no le dejamos ni un color ni una sílaba:
aquí está el patio que ya no comparten sus ojos,
allí la acera donde acechó la esperanza.
Hasta lo que pensamos podía estarlo pensando él también;
nos hemos repartido como ladrones
el caudal de las noches y de los días.
(Fervor en Buenos Aires, 1923)

terça-feira, 29 de maio de 2012

ARREGOU!


Há poucos dias, uma jovem educadora de um colégio particular foi encontrada viva, perambulando pelas ruas da cidade, vestida com uma camisa do Chapolin (camisa que ganhara da melhor amiga da épooca de dança clássica) e fumando um cigarro barato. Ao ser flagrada por uma de suas chefes, a menina joga o cigarro no chão e sorri um risinho amarelo como se dissesse: "juro que sou uma boa influência para os filhos da nação!".
...
Há uma grande diferença entre "educadora" e "professora", embora ambas as denominações tragam em si certa carga de padecimento. Padecimento maternal, desses de doer estomago, rins, útero, aura e perispírito. Também há poucos dias, puxei papo com um "amor" das antigas - provavelmente o primeiro amor - que ao saber da minha atual profissão (SIM! PROFESSORA), disse-me: "Nossa, você escolheu a carreira certa! Lembro-me que desde criancinha você escrevia muito bem e era apaixonada por isso".
...
Foi quando senti uma imensa vontade de chorar: é muito bom se sentir viva, mas demasiado "viva" é quase uma morte em vida. Um pouco de calmaria nos faz bem, também bem à docência; e nada melhor que a certeza do amor, amor pela causa, profissão, dom. As más línguas afirmam que todos nós o temos...um pelo menos, para garantir a ternura na ausência de pão.
...
Ninguém vive só de pão; tampouco de ternura.
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Cá estamos a filosofar coisa alguma, apenas para que me lembre do essencial, mais que visível aos olhos e a qualquer outro sentido: o sujeito é para o que nasce? Mas...e aqueles que nascem para coisa alguma? Aqueles que vivem á margem, que estão sempre perdidos nesse fastidioso labirinto que é o "sempre"? Com que coração escolhemos a vida?
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Gosto muito dos meus alunos. Falo isso com uma sinceridade quase rasgada. Gosto de todos aqueles meninos, como gosto dos meus primos, na ausência de filhos. Gosto da maneira como amam, da maneira como se expressam e transitam tenuamente entre o riso e a guerra; gosto de vê-los bem vivos, como se trouxessem dentro deles um pouco daquilo que todos nós fomos. Talvez ontem, um deles me disse: "Professora, você passou o sábado todo no facebook e eu sei, porque fiz o mesmo!"; "Professora, eu odeio português"; "Professora, olha como W* é gatinho..."; "Professora...você tem namorado?"; "Professora, meus pais têm um "fogo" incrível ainda hoje...me dá vergonha!".
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Gosto de observá-los, em silêncio, e sobretudo sair do meu papel de "professora" apenas para compartilhar um pouco da ironia grosseira que cada um deles têm. Mal sabem - de meninos que são - que até o mais irritante de seus costumes me é familiar; isso porque sempre me atraiu um pouco de desvio. Eu era a menina quietinha mas que, com uma boa companhia, fazia da vida de meus educadores um inferno. De qualquer forma, nos momentos decisivos, lembrava-me de meus pais, que poderiam estar ali - desrespeitados e sem dignidade - e portanto me calava. Porque gosto do feminismo, mas a maternidade é o meu dom.
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Acontece que não me sinto capaz. 
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Capaz em lhes dar aquilo que de fato merecem, não por falta de amor, mas por excesso. Tenho quase a certeza de que não nasci para a "causa": faltam-me cordas vocais, paciência, bom humor e sensibilidade. Não falta amor; mas uma configuração mais adequada. Como explicar? Vejamos duas situações que falem por si só.
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Tenho primos de seis a doze anos. Sou muito ligada a eles e eles a mim. Tenho certeza. Amo-os como se fossem filhos, mas a minha maternidade é um pouco torta, maternidade de quem não quer ser mãe, senão amiga-mãe. Lembro-me de um dia que ao brincar  com um deles, ri absurdamente porque a menina de então perdera uma jogada óbvia num jogo de "pesca". Ri e incitei o riso. Quase um bullying. Tenho filmado e tudo. Para a surpresa de quem me lê, a menina não se sentiu humilhada, de forma alguma; reparou com sua inocência que eu me colocava em seu lugar, como se também tivesse seis anos. 
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Já tive um cunhado-criança. Ele tinha sete. Quando jogávamos cartas, enquanto todos lhe protegiam no momento de trapaça, eu deixava de jogar, dizendo: "Olha, você está escondendo as cartas, isso não vale". Recomeçávamos o jogo, então, eu-criança-ele-adulto. Porque é assim que fui amada quando nasci, e assim aprendi a ser amor. Não carrego criança no colo, prefiro me abaixar para vê-las de perto, como os índios também preferem.
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Todas as minhas manhãs são bem-vivas. Estou quase sempre fora de mim, em um papel muitas vezes desagradável. Não sei mais - como um amante desiludido - se é isto o que sou, se quero esta vida para o "SEMPRE".
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Não é falta de amor, senão falta de configuração. O meu amor é, mas não está. Gosto dos corredores, dos olhares, das vidas, não da sala de aula. Será uma crise de iniciante? Será o fim? 
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Não há didática alguma "ensinável" nas universidades. Que me perdoem os professores de didática, alguns deles, inclusive, me são bem caros. Sempre fui uma estudante  "paulofreiriana", e no entanto, a primeira da minha "turma" a pedir ARREGO. 
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Estou pedindo arrego!
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Aí me falam sobre o ensino médio, ou ainda sobre a vida acadêmica. Quero trabalhar no ensino médio; se possível, com jovens carentes, tenho a vontade de ser útil...Coisa de ex bailarina que vive sempre à mercê do ego. Queria mesmo a vida acadêmica. 
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Qual idéia faço da vida acadêmica?
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Conviver com pessoas adultas, que sabem o que querem (ou não); estudar as coisas que mais gosto e ter tempo para dedicar-me por completo. Escrever sobre o que gosto, sem a culpa de estar perdendo tempo ou de optar - angustiadamente - por uma vida esquizofrênica. E sim: ganhar mais e ter acesso a um universo de coisas e coisas e coisas tais. 
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Por outro lado, sinto-me uma mercenária. Sinto que não poderia suportar as pressões e a briga de "egos" desse meio. Sobretudo, agora como mestranda, vejo quão difícil é, para alguém do meu temperamento - enquadrar-se numa disciplina de estudos que não tenho. Há três meses sou uma mestranda sem artigo publicado, entre outras coisas que também me geram frustração.
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Ás vezes me surgem algumas ideias. Como uma pós em ensino de Língua Portuguesa para estrangeiros, ideia que me ocorreu depois de uma dessas viagens que nos abrem janelas e talvez portas. Porque gosto da minha língua, do meu país, da minha cultura, com o mesmo amor que gosto de outras línguas, outros países e outras culturas. Tenho em mim uma vontade de troca...Nunca tive vontade, por exemplo, de trabalhar como professora de uma língua que não é a minha, porém não por vaidade, e sim por destino. Já a literatura é tão universal que, se tudo vai bem, quero um dia estudar a literatura de primos, irmãos, gentes pelo globo afora.  E quem sabe, dizer algo sobre a literatura da língua de CÁ.
...
Mas sabe...todas essas coisas são hipóteses, e o sentido de tudo é a mesma pergunta "iconoclasta" e particular: Deveria nascer de novo? Sou incapaz da felicidade? Dinheiro traz felicidade? Como ganhar dinheiro sendo feliz? 
...
Sempre gostei de escrever, mas há tanto não escrevo....o que me leva a imaginar que o problema é mais curto, talvez desequilíbrio meu, interior. Por onde começar?
....
O bom da vida é a experiência que ganhamos. Nunca soube o que queria da vida; somente o que não queria. Sou o tipo de pessoa que começa tudo pelo fim e escolhe sempre o lado contrário. Talvez isso me seja felicidade.
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Enquanto isso, professores universitários fazem greve. Todos precisamos de greve - de vez em quando - exceto aquele meu amigo, o qual invejo e admiro, que poderia fazer o mestrado mais exigente do mundo, mas optou - POR AMOR - pelo ensino fundamental e médio.
....
E meu eu lírico vaga por aí, sem rumo e sem marca.
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"Quem poderá nos defender....
.....eu?"

sábado, 26 de maio de 2012

Por fim, Amar é...

Por fim....amar é:

...uma incógnita!

Amar é (VIII)

Amar é....

...suportar as provações

Amar é (VII)

Amar é....

...não cobrar....

...o que não pode ser dado.

Amar é (VI)



 Amar é....

...não temer a concorrência.

Amar é... (V)

Amar é....

..não pecar pelo excesso.

Amar é (IV)

Amar é....

...ceder.

Amar é (III)


Amar é....

....cooperação absoluta.

Amar é (II)

Amar é....


...Engolir sapos ...

Amar é...(I)

Amar é.....

...suportar as diferenças ideológicas

Buena Vista Social Club - Candela

Buena Vista Social Club - Chan Chan

***

 *Sonho... - Foto de Leunam Max

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Tengo el presentimiento que he de vivir muy poco.
Esta cabeza mía se parece al crisol,
Purifica y consume.
Pero sin una queja, sin asomo de horror,
Para acabarme quiero que una tarde sin nubes,
Bajo el límpido sol,
Nazca de un gran jazmín una víbora blanca
Que dulce, dulcemente, me pique el corazón.

(Presentimiento- Alfonsina Storni)

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Greve Professores Minas Gerais e Copa do Mundo, por Cristovam Buarque

Dicas de filme

Biutiful (2011)
Um filme de Alejandro González
Trilha sonora de Gustavo Santaolalla 

Última Parada 174 (2008)
Bruno Barreto

Linha de Passe (2008)
Walter Salles/ Daniela Thomas

LOPE (2009)
Diração de  Andrucha Waddington
Coprodução Brasil/ Espanha
(Destaque para o maravilhoso Alberto Ammann, no papel de Lope!)



































PERGUNTAS QUE (sinceramente) NÃO SEI

Fonte: http://www.beingll.com/wordpress/
...
Das coisas de trabalho:

1) Por que Letras?
2) Por que não fez Dança?
3) Por que não fez História?
4) Por que não fez Teologia?
5) Por que não fez Filosofia?
6) Por que não Inglês?
7) Por que não Espanhol? (que da mais dinheiro)


8) Por que professora? 
....


Das coisas de trabalho (Parte II):


1) Por que uma monografia sobre o Diabo?
2) Por que Gil Vicente?
3) Por que não fez um projeto sobre Clarice, se todo mundo sabe que é a única escritora que você realmente lê?
4) Gil Vicente? Ainda há o que escrever sobre ele?
5) Por que não teatro contemporâneo?
6) O que você quer fazer no doutorado?


....


Das coisas de trabalho (Parte III):


1) Fez o trabalho?
2) Não fez o trabalho?
3) Adoeceu na véspera do feriado?
4) No dia de entregar trabalho?
5) Xerocou o texto?
6) Sabe o texto?
7) Sabe a copiadora?
8) Sabe o trabalho final?
9) Em quantos eventos já foi esse semestre?
10) O que é Literatura?
11) Sabe Voltaire?
12) Sabe aquele conto do Machado...?


....


Das coisas do dia a dia


1) Por que você sempre se atrasa?
2) Por que você nunca sabe onde colocou a chave das casas?
3) Por que você não dorme?
4) Por que você deixa TUDO para a última hora?
5) Por que você não corta as unhas?
6) Por que você usa sempre a mesma calça jeans?
7) Por que você sempre acha que perde o celular, quando ele está na sua bolsa?
8) Por que você sempre se perde?
9) Por que você não sabe nadar?
10) Por que você tem medo de elevador?
11) Por que você é tão imatura?
12) Por que você não toma decisões sozinha?
13) Do que você tem medo?
14) Por que ainda não levou os exames ao médico?
15) Por que é tão enrolada?
16) Por que não me respondeu?
17) Por que não come peixe?


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Das coisas que me arrependo:


1) Por que não passou mais tempo com ele?
2) Por que não o visitou?
3) Por que não volta a dançar?
4) Por que não o visitou naquele último Natal?
5) Por que não disse que amava?
6) Por que foi tão cruel?
7) Por que não entendia?
8) Por que não a abraçou, antes que saísse do carro?
9) Por que não passou mais dez minutos com ela?
10) Por que você brigou com sua avó?
11) Por que não ficou em São Paulo com sua tia?


....


Das coisas do amor:


1) Por que você não me deixa em paz?
2) Por que você é tão chata?
3) Por que você é tão ciumenta?
4) Por que vocês terminaram?
5) Por que vocês voltaram?
6) Por que vocês terminaram?
7) Por que vocês voltaram?
8) Por que vocês terminaram?
9) Por que vocês voltaram?
10)  Por que vocês terminaram?
11) Por que vocês voltaram...?(repete ad eternum vezes)


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Dos mistérios da vida:


1) Como se abre  essa lata de extrato de tomate?
2) Por que saiu de casa?
3) Por que voltou pra casa?
4) Por que está pensando em sair de novo?
5) Por que o apelido de sua mãe é Marizinha, se ela se chama Francisca?
6) Por que o seu dente ainda é estranho, se você usou aparelho dentário quase toda a infância?
7) Você nunca pensou em ser modelo fotográfico?
8) Você pode beber tanto, usando aquele medicamento? 
9) Por que martelo vermelho?
10) Justifique o erro.

Clareando

Fonte: http://www.beingll.com/wordpress/
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E da janela
Desses quartos de pensão
Eu como vetor
Tranqüilo eu tento
Uma transmutação...

Oh! Oh! Seu Moço!
Do Disco Voador
Me leve com você
Prá onde você for
Oh! Oh! Seu Moço!
Mas não me deixe aqui
Enquanto eu sei que tem
Tanta estrela por aí...
(S.O.S - Raul Seixas)

 ...
Imagine você, querido leitor: Abandonei o hábito da escrita "bloguística" após um longo período de transmutação. Sim! Ao experenciar um produtivo período no que diz respeito à escrita acadêmica, cérebro e compartições neuronicas entraram em colapso. Atualmente, nem-artigo-nem-email-nem-nímero-de- telefone. Sinto-me frustrada, como artista decadente. Só me falta a arte.
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 "Automatico mode-on, logo existo" - é o lema da vez.  "E o mestrado, como fica?" - Você me pergunta. Fica. Pior do que tá.
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Ando me perguntando sobre as voltas que o mundo dá; também sobre o modo mais adequado de se fazer escolhas. Não me proponho mais a solução das coisas, senão escolher entre o "pior" e o "menos pior". 
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- Pior é nada - disse uma amiga.
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Meu namorado me chama de empanada às vezes (tradução para o que seria "pamonha"). De fato, pamonha é um pouco forte, acredito que queira dizer que tenho um leve senso de "não senso" das coisas burocráticas da vida. Um leve distúrbio que me foi dado a fim de equilibrar minha beleza natural e excesso de sorte. Todas as vezes em que o diz, imagino-me vestida de esfiha de carne. Não sei qual a associação: empanada-empada-esfiha-Síria-Líbano. A mente humana é um labirinto.
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Não estou feliz nem triste. "A cada segundo basta o seu mal" - parafraseando Paulo. Se posso dormir mais cinco minutos antes do trabalho - é a felicidade que se instala. Se posso degustar um pouco de café antes daquela aula, é a felicidade que me vem. Se posso ler - entre uma critica e outra - qualquer palavra gratuita solta no universo, já me sinto leve outra vez. Meço a vida assim. Também o segundo de riso compartilhado acalenta o espírito: assim medimos o amor, que nada mais é que isso...um aglomerado de segundos que tecem uma história feliz ou triste, que quase sempre termina com alguém que se f*.
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Em tempos de greve, pergunto-me se esse é o melhor formato que damos as nossas intenções. A causa é justíssima, e digo também como membro da classe de professores desse país.  Mas queria mesmo é a união de todos os seguimentos. Depois que passei a trabalhar com o ensino fundamental, em uma cidade pequena como a minha, percebe-se como existe um abismo entre o professor da educação básica e o professor universitário. Quase dois mundos diferentes. Ao me dar conta de que seria professora, sonhava em ser um exemplar versátil de educadora, dessas com experiência de ensino médio à graduação; extensão-pesquisa e ensino. Tudo é a mesma cosmovisão. Tudo é humano e necessita cuidado. Qualquer forma de protesto deve levar em consideração todos os ambitos: levar o povo à rua, irmos às ruas...
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Morro de inveja de minhas amigas e conhecidas que vivem felizes em seus gabinetes executivos ganhando rios de dinheiro. Não nascem para protestar. Deus me deu um bom timbre de voz, boa saúde, e fé nas pessoas. De fato, todos nascemos para protestar, todos somos brasileiros. Melhor: somos de carne e osso, todos, então retiro o comentátio improprio. Ao compartilharmos do mesmo ar, somos responsáveis pelo andamento do mundo. É por isso que, respondendo aquela pergunta, literatura não faz ninguém feliz: porque como toda arte, é feita pra libertar.
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Felicidade é o que sinto agora.
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Tenho conhecido tanta gente bonita e interessante, que me da até gosto. Tanta gente jovem e talentosa. Tanto educador bom, comprometido com "a causa", que gosta do que faz. Realizamos uma semana de Literatura no colégio em que trabalho e, sinceramente, o que mais apreciei foram os trabalhos do broto, isto é, dos filhotinhos. Que Deus dê vida longa às educadoras infantis, pedagogas e professoras do ensino básico - além de bons salários e condições de trabalho. Porque tudo é a mesma cosmovisão.
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Depois de seis anos de espera, finalmente o show: Los Hermanos. Pensei que fosse morrer sufocada entre aquele batalhão de gente, por pouco não vomito também - como a menina ao lado. Mas a felicidade insiste em bater. Há tempos não ouvia nada tão fantástico como o instrumental de "Além do que se vê", "Conversas de bota batidas" e todas do primeiro album. O coro de "Mais uma canção" quase me fez chorar, além da "Adeus você", que bem ou mal, sempre é motivo de lembrança. 
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Também Belo Horizonte me impressiona, cidade bonita é aquela: viveria ali feliz da vida. Ou não.
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Porque felicidade não depende de lugar: ela vem, clareia, e morre.
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segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Fada Viola

*O Violão. Foto de Portodolado.
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Decidi fazer isso agora a esperar mais dias, menos dias, a infinitude. Incrível como caímos no tal sistema sem nos darmos conta, sistema do desencanto, em que os aparatos virtuais só nos servem para dar-nos a ilusão - ou a certeza - de que todos os seres humanos do universo têm uma vida interessante: exceto você.
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Eu tenho uma vida desinteressante. A cada dia me desapaixono de mim ao perceber todos os meus lugares comuns aglutinados em cansaço, sono, preguiça e falta de sonho. Há alguns dias, ao assistir a um trabalho sobre uma das peças de Shakespeare, chamou-me atenção o nome de uma das personagens, Viola. Desde então, espero pelo dia do grande encontro: Viola (a fada que realiza desejos) e eu seremos apresentadas, ela quem mudará os rumos do meu destino. Viola...que nome mais sonoro, não? Teria uma filha com esse nome. Bom, até lá finjo sentido nas coisas.
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Das coisas que  mais gosto, em ordem de preferência: meus amigos (minha família é sobretudo minha amiga), a dança, escrever, literatura.Houve épocas na minha vida em que consegui conciliar todas essas coisas: destinava grande parte do meu tempo a meus amigos; dançava....escrevia e lia por prazer. Escrevia o que me desse na "telha", cartas-emails-crônicas e lia apenas o que gostava, o que me causava encanto.
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Gosto de astrólogos, videntes, tarólogos e coisas do gênero. Desde os nove anos me dedico a brincar de taróloga, tradição a que herdo de minha avó Maria. Sempre quando posso, consulto oráculos, converso com ciganos, gosto de ouvir a essas pessoas como se lançassem os dados da minha sorte. Confesso que nada me chamou atenção ao longo de anos (exceto a vidente russa em Buenos Aires). Mas, se pensar com força, lembro-me aos treze quando conversei com um homem interessantíssimo (cara de bailarino) quem setenciou a minha rota como indivíduo: "Você se formará em uma coisa, mas trabalhará com outra".
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Tenho muitos medos, mas prefiro a solidão a passar o resto da vida fazendo o que não gosto, o que não me da prazer. Há quanto tempo não sinto um friozinho na barriga ....(esta, a cada dia mais plástica...)...Há quanto?
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Nunca mais senti.
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Não sei porquê me formei em Letras, não sei porquê passei no Mestrado, não sei porquê me fizeram professora. Tudo o que eu queria era trabalhar com gente, gente com quem pudesse dialogar, refletir, sonhar junto: gente! Tudo o que eu queria era uma profissão em que a escrita fosse a minha ferramenta de trabalho, mas que eu encontrasse nisso uma função social e, ao mesmo tempo, tempo TEMPO TeMpO!!!! Tempo para a felicidade, a que não está.
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Desde o meu trabalho de monografia, entregue há quase um ano, entrei no circulo da infelicidade. Nunca mais senti prazer - prazer, tesão de verdade - nas coisas que faço. Ligo o automático e sigo. Raros os momentos de escape, quando me dou a oportunidade de ler coisas novas (Clarice, os hispanos e a Bíblia - minha Literatura preferida - sempre). Daí que a última vez em que senti prazer - não o prazer que depositamos no outro, mas aquele que nos permitimos - foi em minha viagem a Buenos Aires. Poderia ter sido a Rocinha - é o mesmo - porém foi Buenos Aires, e respirei bons ares pela última vez.
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Tenho dois trabalhos, nos quais reproduzo coisas que por vezes não acredito, além de ser muitas vezes "desrespeitada" (ASPAS-ASPAS). Consegui um mestrado...uma coisa que queria muito, mas que não fez de mim uma pessoa melhor: continuo a vida de graduação...A hora última, sempre...os textos que não escolhi...os autores que não me tocam. Sem contar os condicionamentos burocráticos-politiqueiros que só me desapontam a cada dia mais.Não tenho humor para os amigos...Aos finais de semana, só penso em dormir. Meu namorado está a dezesseis horas daqui, cercado de gente interessante - como ele. Decidi voltar para a casa a fim de encontrar um espaço comum que me exigisse menos paixão, menos desafio - porque estou esgotada.
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E a fada Viola?
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Não leio, não escrevo, não danço - DANÇO. Rebolo pra dar conta de mil coisas, pra ganhar uma grana  a que é gasta com coisas não medíocres como Comida e Bebida (nem diversão, nem arte). E aí???? É isso???
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Decidi fazer isso agora. Parei a leitura do artigo , leitura mais-que-atrasada para dar-me um pouco de colo.
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Estou infeliz, estou adoecendo, estou perdendo tempo.
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Estou?
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Observo meus 820 "amigos" do facebook e prendo a respiração até ficar lilás.











quinta-feira, 10 de maio de 2012

Sobre a mesinha do quarto

*Vomita-me toda. Foto de Quack Monsta.
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Entra-se num circulo vicioso, papo de surdo-mudo, briga de sexos. Não é difícil, leitor? Tudo o que queria era um pouco de paz, tudo o que você quer é um pouco de tranquilidade, no entanto, todo o externo - e também interno - é guerra.
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Sob o signo da guerra.
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Vomito um pouco de cor sobre os meus dias e não faço caso do óbvio: você não me enxerga mais.
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Há um saco tão cheio sobre a mesinha do quarto, pode explodir a qualquer momento, a menos que o amor - o que sempre está - transborde.
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E a doçura nos una novamente.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Birra

*A Birra. Foto de Sara.
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guilhotina?
eu que controlo o meu guidom!
Com ou sem suin
Com ou sem suin
Com ou sem suin


...guichê só de vem...
(Cade teu suin? Los Hermanos)

domingo, 6 de maio de 2012

Mercedes Sosa en Argentina - 20- Canción con todos.

Cesaria Evora - Lua Nha Testemunha

O Gato e o cachimbo

Estava no mesmo café. Perto de mim, havia um homem calvo que, enquanto observava os passantes daquela avenida principal, tirava da maleta um cachimbo. Notei que era estrangeiro. Curiosos olhos azuis fitavam a vida daquela gente e o provinciano vai e vem de cores e recatos. O exalar da fumaça fazia com que dele se aproximassem toda estirpe de gente e animal: alcoolatras, loucos, crianças e um pequeno gato. Enquanto o observava, lembrei-me de um conto.
...
Havia uma mulher que detestava gatos. Não era ódio ou asco, senão um medo agudo, desses que nos acompanham desde a infância. Por onde andava, evitava instintivamente o contato com o animal que, a seu ver, assemelhava-se aos demônios medievais pelo tamanho, aspecto e olhar. Cheios de si, gatos não constróem laços, vivendo alheios  a qualquer convenção ou lei. De forma libidinosa, manipulam seus donos e se apropriam do espaço onde se encontram sem construir laços de afeto duradouros. Pequenos demônios, leem a mente humana e antevem a morte.
...
Certo dia, encontraram-se gato e mulher. Passaram horas se observando, até que sentiu - a mulher - o estranho e inexplicável desejo de possuí-lo. Levou-o para casa e fez do mesquinho animal dono de sua vida, única companhia que manteria perto de si. Confidente, amante, vício, com passar dos anos, uma estranha simbiose fez com que gato e mulher se tornassem o mesmo ser, de modo que o medo antes sentido converteu-se em espécie de possessão e encantamento: sozinha, a mulher passou a desenvolver os mesmos hábitos que o animal.
...
Todos os homens que a cercavam transformaram-se em presas que necessitavam de salvação, uma salvação que só tal mulher poderia consentir. Resignados, aqueles homens - aparentemente tão fortes - entregavam-se à mulher-felina, que deles extraía todo o desejo e libido que lhe fosse conveniente. Enfeitiçava-os gradativamente, buscando em cada encontro a satisfação de um capricho que até então lhe era oculto, latente. De suas mãos saltavam garras vermelhas e hostis, de seu corpo emanava um selvageirismo dócil e interessado, de sua boca, grunhidos e verbos nunca antes proferidos. Em cada movimento, seu corpo expressava a necessidade do encontro, de tornar o mundo alheio seu, fazer com que o universo das vontades humanas sucumbisse a sua capacidade de sedução. Mirava-os todos como a quem mira um pedaço de ser, benevolente e submisso. Não era mais senhora de si, tornando-se prisioneira de uma constante solidão: aliciava um exército de homens para recuperar uma juventude que lhe escapava a cada dia. Em cada conquista, uma nova chance de paralisar o tempo e antever a morte.
...
Porque aquilo que se ojeriza - ou secretamente se teme - é parte mais intima daquilo que somos, como metade perdida ou esquecida pelo labirinto da razão.
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Guardou o cachimbo na maleta e cumprimentou-me ao longe. Temia não mais retornar aquele céu de onde emergiram as imagens que lhe conceberam: uma Alemanha perdida e eternamente amada. Vestiu-se com o velho chapéu, sorriu para o senhor de cor negra - o mesmo que entoava uma estranha canção. Fez-nos um sinal e partiu, levando consigo um fardo de medos. Dobrou a esquina e desapareceu de nossas vistas, como se nunca nos houvera existido.
....