...AND MIND DE GAP, PLEASE.
No ano de 2012 fiz um intercâmbio de um mês em Buenos Aires, com o objetivo de aprender Espanhol. Já lia um pouco do idioma e era estudante em um curso de extensão na Universidade, além de viver na companhia de muitos hablantes, de modo que aquela experiência me abriu as janelas para o mundo: primeira viagem internacional, primeiro voo da vida, eu - com apenas vinte e seis anos. Ao voltar ao Brasil, decidi que gostaria de me tornar tradutora algum dia, projeto que me levaria anos, quem sabe quatorze deles (porque tenho por hábito o cálculo a longo prazo). Nesse meio tempo, tive a oportunidade de conhecer algumas cidades da Espanha e Portugal, sendo Granada uma delas, a imagem mais bela que já havia visto até então, situações que endossaram ainda mais o meu desejo.
O que ninguém sabia na época é que nascera ali também a vontade de estudar inglês fora do país. Já havia feito um curso de quatro anos em São Paulo na adolescência e, na Universidade, embora tenha optado pelo curso de Letras, elegi a habilitação em Literaturas de Língua Portuguesa ("não quero lecionar uma língua e literatura que não a minha", pensava). Ainda assim, como em qualquer Universidade, tínhamos contatos com textos acadêmicos em inglês e eu, particularmente, sempre fui um tanto autodidata nesse sentido, continuei estudando sozinha mesmo sem afinco, o que me rendeu um Mestrado do qual muito me orgulho em que um dos textos do meu corpus se tratava de uma moralidade medieval em língua inglesa, imaginem!
Vivia em Viçosa com meus pais e depois com meu companheiro, porém, sem muitas expectativas de emprego, mudei-me para Belo Horizonte ao passar em um concurso para professora substituta por dois anos, o qual logo emendei a uma outra instituição cuja remuneração era boa. Uma fortuna aliás para quem, até então, só houvera trabalhado em ONG´S, voluntariados vinculados à Igreja ou não, extintos cursos pré-vestibulares, colégios particulares pequenos, também no Estado de Minas (isso em Viçosa) ou como bolsista ao longo de muitos anos. Desde 2008 me tornei professora, ainda quando estudante. Não me arrependo, amo minha profissão, mas é óbvia a minha vocação para a Medicina ou Perícia criminal, além da dança, claro, objeto nunca resolvido na minha vida e tema para análise ( a que não faço mais por falta de dinheiro, apenas de vez em quando, pois meu terapeuta é o irmão mais velho que des-pedi aos anjos...mas pedindo em segredo). Tudo isso para dizer que desde o ano de 2015 venho juntando dinheiro, religiosamente, para fazer um intercâmbio em Londres.
Por que Londres?
Após a morte do jovem Jean Charles, confundido com um terrorista pela Scotland Yard britânica, prometi a mim mesma que nunca colocaria meus pés naquele país imperialista. O que sucedeu foi apenas aquilo que nos acontece diariamente, do dormir ao despertar: mudei de ideia, sem mais! Filmes, Poetas, Escritores, Música, conhecimento de mundo, decidi por Londres. E nisso, iniciei uma poupança para o período de três meses no estrangeiro. Não contava porém que nesse meio tempo ficaria desempregada e uma série de desventuras pessoais me ocorreriam, o que me levou a reduzir o período de três para um mês. Antes, contudo, busquei lugares mais acessíveis onde pudesse permanecer com a mesma quantia de dinheiro por dois meses ao menos, Irlanda e inclusive México, mudando ali totalmente os meus planos (estudar mais um pouco de Espanhol, algo que ainda desejo). Bem na época dos terremotos em Ciudad de México, opção descartada pois quem me acompanha sabe que posso morrer engasgada com um paracetamol mas jamais em um terremoto com a possibilidade de afogamento, em se tratando de um Tsunami. Já a Irlanda, assim como a América do Norte, Canadá e afins, nunca me chamaram a atenção. Nunca perdoei a Scotland Yard pelo assassinato cometido, mas eis que no dia do meu aniversário de 32 anos comprei a minha passagem, fechei com a agência em questão e em 13 de janeiro de 2018 coloquei, oficialmente, os meus súditos pés na Terra da Rainha...
...and God save the queen!
E afirmo ter sido a experiência mais intensa, bonita e necessária dos últimos tempos, mesmo não começando muito bem. Com a agência brasileira fechei a minha hospedagem em uma "homestay". A verdade é que poderia ter optado por uma residência estudantil, mas escolhi habitar a casa de uma família por nenhuma razão! Para tornar o texto mais emblemático, eu poderia aqui falar sobre "full immersion" e blá blá blá, mas não: foi descuido mesmo. Uma colega de curso já havia feito o mesmo e eu, insegura que sou, quis seguir-lhe todos os passos.
A primeira família em questão, embora linda, não estava acostumada talvez com estudantes maiores de dezoito ou, se estava, não me pareceu. Embora muito diplomáticos e excessivamente atenciosos, eu não podia ter a chave da casa, pois era uma família tradicional com uma criança de três anos que poderia sair pelas ruas londrinas a qualquer momento e fugir para um país vizinho, suponho, visto que a porta da casa se mantinha fechada por dentro. O esquema era o seguinte: estar em casa às dez; tomar banho até às dez; sair para a noitada uma vez ou duas por semana mas sempre avisando a meus anfitriões para que despertassem de madrugada e abrissem a porta para mim... Permaneci nove dias naquela casa, onde experimentei o delicioso English Breakfast, mas, por outro lado, busquei informações na escola se aquele comportamento era normal. Em nenhum momento pensei em fazer uma reclamação, apenas compreender se culturalmente àquelas regras fossem normais e não eram. Nada decidi, porque sou assim de indecisa, então a própria escola já com pena do meu estresse decidiu me trocar de família. Já havia me apegado às crianças da casa, até cheguei a sofrer um pouco - por ser tão sentimental, mas a mudança já estava organizada. Logo, passei os demais vinte e três dias em outra residência, outra "homestay", com um casal de idosos muito amáveis, simpáticos e extraordinários, que viviam sozinhos na companhia de outra intercâmbista Suíça. Foi a melhor escolha que poderiam ter feito por mim.
Nos primeiros doze dias, a minha rotina era a seguinte: tomar o meu café da manhã (nada de English Breakfast, café da manhã à la Brasil mesmo), ir à escola e depois, sempre sozinha, visitava algum museu, monumento histórico, galeria de arte, ou seja, o roteiro que teria para fazer. No décimo segundo dia, já sentindo falta de seres humanos da minha idade (meus colegas de escola eram muito gracinhas, tive a oportunidade de conhecer pessoas do mundo inteiro, fiquei amiga sobretudo de uma moça marroquina, mas, ou por timidez minha, a eterna falta de jeito, ou realmente por serem novinhos e fechados em seus grupos, não conseguia companhia para sair à noite, ir a um PUB, o que mais desejava naquela altura do campeonato), busquei um tour guiado através do Rafael, o "Guri in London" - ele tem um site e canal no youtube - e assim fiz meus primeiros amigos...brasileiros. Mais por sincronicidade do que pelo tour em si, ali conheci uma garota com quem fiz amizade, mas acredito que faltava era me abrir, pois ainda na mesma semana, independente do tour, fiz amigos e amigas brasileiros, turcos, argentinos, italianos, da minha idade, mais jovens, mais velhos, e portanto a experiência passou para o que chamo aqui de fase dois: as noites londrinas.
O esquema era quase o mesmo: café da manhã (agora eu quem preparava meu próprio café); escola, passeio cultural e por fim, noite em algum PUB ou PUB club com os meus então amigos. Já com a chave de casa, tinha a liberdade de chegar no horário em que quisesse, embora nunca tenha passado das três da manhã, creio.
Londres é uma das cidades mais fantásticas que conheci. Linda, organizada, acessível, limpa, com um transporte público que funciona e , ao contrário do que pensava, com pessoas amabilíssimas as quais me ajudavam a todo o momento a tomar o ônibus certo, a descer na estação de metrô correta, a não me perder ou me jogar nas margens do rio Tâmisa por descuido. Notei ali que o meu problema não era o Inglês, que o curso feito lá na adolescência foi sim muito bem aproveitado e nunca esquecido, mas sim a minha falta de direção natural e dificuldade na leitura de mapas, o CittyMapper para mim era como se estivesse em Chinês....(fiz essa piadinha com um lindo londrino que conheci, mas ele a entendeu no sentido literal: game over).
E foi o mês mais extenso da minha vida. Não estava absurdamente frio ou então estou mais para o frio que para o calor. "Peguei" apenas dois dias de chuva monstruosa, pois, diferente da nossa garoa paulistana, a chuva em Londres vem carregada de uma ventania absurda e irresistível a qualquer sombrinha ou guarda-chuvas. Só podia me molhar e estando na tempestade, era o que se devia fazer.
O curso de Inglês foi maravilhoso, parabenizo aqui a escola The English Studio pelo cuidado com os estudantes, sobretudo os secretários executivos. É óbvio que na primeira semana eu era a estudante mais assídua e assustada (sempre me perdia por todos os caminhos, mesmo os mais exatos), mas após a segunda semana já me sentia livre o suficiente para chegar em meus dez ou quinze minutos atrasada, como no Brasil desde o colegial.
Quais lugares os meus pés tocaram?
British Museum (dois dias, aliás, ninguém era capaz de me tirar de lá); London Museum; National Gallery; Globe Theatre (do Shakespeare); British Library; Hyde Park; Bukingham Palace (duas vezes, uma para a troca de guardas); Oxford Street; Camden Market; The Hawley PUB (o Pub da Amy...); Notting Hill Market; Estação Stockwell (onde assassinaram o Jean Charles); obviamente o Big Ben, embora em reforma, a Westminter Abbey (duas vezes, uma a visitei por dentro) e o Parlamento inglês (observado por fora); The monument (em homenagem à reconstrução de Londres após o incêndio em 1666); Minha amada Trafalgar Square; The Chinese Town; Clapham South (primeiro bairro); Durham Road (segundo bairro); Holborn (bairro da escola e estação chave para que não me perdesse à noite); London Eye; Millennium Bridge; Tower Bridge; Green Park; Regent´s Park; Sherlock Holmes PUB e restaurante; Tower of London; St Paul Cathedral (por fora e depois por dentro); Picadilly Circus (várias e várias vezes...junto da Trafalgar Square e Leicester Square); Abbey Road (a gravadora e a "rua" não original dos Beattles. Não encontrei nada sobre os The Rolling Stones, talvez por ainda estarem vivos...); Museu de Cera Madame Tussauds; Fui a um musical do Michael Jackson, in memorian ÓBVIO, em Leicester...; Convent Garden e sua feirinha; Kensington Palace; Tate Modern Museum; Victoria and Albert museum; The National History Museum; Brick Lane e suas feirinhas; The Sky Garden e sua beautiful vista londrina e alguns lugares os quais não lembro, entretanto afirmaram em que lá estive: Leadenhall Market; Lloyds of London; Walkie Talkie; Gerkin; Bank of England; Royal Exchange; Mansion House; St. Bride´s Church; Samuel Johnson´s Museum.
Ah! Também fomos ao cinema, o Pohenix cinema em East Finchley, onde assistimos "Phantom Thread" (Paul Thomas Anderson/ 2017/ última atuação do brilhante Daniel Day-Lewis).
PUBS POR ONDE PASSEI ( ATRAVÉS DO PUB CRWAL HISTÓRICO, GURI IN LONDON):
O que ninguém sabia na época é que nascera ali também a vontade de estudar inglês fora do país. Já havia feito um curso de quatro anos em São Paulo na adolescência e, na Universidade, embora tenha optado pelo curso de Letras, elegi a habilitação em Literaturas de Língua Portuguesa ("não quero lecionar uma língua e literatura que não a minha", pensava). Ainda assim, como em qualquer Universidade, tínhamos contatos com textos acadêmicos em inglês e eu, particularmente, sempre fui um tanto autodidata nesse sentido, continuei estudando sozinha mesmo sem afinco, o que me rendeu um Mestrado do qual muito me orgulho em que um dos textos do meu corpus se tratava de uma moralidade medieval em língua inglesa, imaginem!
Vivia em Viçosa com meus pais e depois com meu companheiro, porém, sem muitas expectativas de emprego, mudei-me para Belo Horizonte ao passar em um concurso para professora substituta por dois anos, o qual logo emendei a uma outra instituição cuja remuneração era boa. Uma fortuna aliás para quem, até então, só houvera trabalhado em ONG´S, voluntariados vinculados à Igreja ou não, extintos cursos pré-vestibulares, colégios particulares pequenos, também no Estado de Minas (isso em Viçosa) ou como bolsista ao longo de muitos anos. Desde 2008 me tornei professora, ainda quando estudante. Não me arrependo, amo minha profissão, mas é óbvia a minha vocação para a Medicina ou Perícia criminal, além da dança, claro, objeto nunca resolvido na minha vida e tema para análise ( a que não faço mais por falta de dinheiro, apenas de vez em quando, pois meu terapeuta é o irmão mais velho que des-pedi aos anjos...mas pedindo em segredo). Tudo isso para dizer que desde o ano de 2015 venho juntando dinheiro, religiosamente, para fazer um intercâmbio em Londres.
Por que Londres?
Após a morte do jovem Jean Charles, confundido com um terrorista pela Scotland Yard britânica, prometi a mim mesma que nunca colocaria meus pés naquele país imperialista. O que sucedeu foi apenas aquilo que nos acontece diariamente, do dormir ao despertar: mudei de ideia, sem mais! Filmes, Poetas, Escritores, Música, conhecimento de mundo, decidi por Londres. E nisso, iniciei uma poupança para o período de três meses no estrangeiro. Não contava porém que nesse meio tempo ficaria desempregada e uma série de desventuras pessoais me ocorreriam, o que me levou a reduzir o período de três para um mês. Antes, contudo, busquei lugares mais acessíveis onde pudesse permanecer com a mesma quantia de dinheiro por dois meses ao menos, Irlanda e inclusive México, mudando ali totalmente os meus planos (estudar mais um pouco de Espanhol, algo que ainda desejo). Bem na época dos terremotos em Ciudad de México, opção descartada pois quem me acompanha sabe que posso morrer engasgada com um paracetamol mas jamais em um terremoto com a possibilidade de afogamento, em se tratando de um Tsunami. Já a Irlanda, assim como a América do Norte, Canadá e afins, nunca me chamaram a atenção. Nunca perdoei a Scotland Yard pelo assassinato cometido, mas eis que no dia do meu aniversário de 32 anos comprei a minha passagem, fechei com a agência em questão e em 13 de janeiro de 2018 coloquei, oficialmente, os meus súditos pés na Terra da Rainha...
...and God save the queen!
E afirmo ter sido a experiência mais intensa, bonita e necessária dos últimos tempos, mesmo não começando muito bem. Com a agência brasileira fechei a minha hospedagem em uma "homestay". A verdade é que poderia ter optado por uma residência estudantil, mas escolhi habitar a casa de uma família por nenhuma razão! Para tornar o texto mais emblemático, eu poderia aqui falar sobre "full immersion" e blá blá blá, mas não: foi descuido mesmo. Uma colega de curso já havia feito o mesmo e eu, insegura que sou, quis seguir-lhe todos os passos.
A primeira família em questão, embora linda, não estava acostumada talvez com estudantes maiores de dezoito ou, se estava, não me pareceu. Embora muito diplomáticos e excessivamente atenciosos, eu não podia ter a chave da casa, pois era uma família tradicional com uma criança de três anos que poderia sair pelas ruas londrinas a qualquer momento e fugir para um país vizinho, suponho, visto que a porta da casa se mantinha fechada por dentro. O esquema era o seguinte: estar em casa às dez; tomar banho até às dez; sair para a noitada uma vez ou duas por semana mas sempre avisando a meus anfitriões para que despertassem de madrugada e abrissem a porta para mim... Permaneci nove dias naquela casa, onde experimentei o delicioso English Breakfast, mas, por outro lado, busquei informações na escola se aquele comportamento era normal. Em nenhum momento pensei em fazer uma reclamação, apenas compreender se culturalmente àquelas regras fossem normais e não eram. Nada decidi, porque sou assim de indecisa, então a própria escola já com pena do meu estresse decidiu me trocar de família. Já havia me apegado às crianças da casa, até cheguei a sofrer um pouco - por ser tão sentimental, mas a mudança já estava organizada. Logo, passei os demais vinte e três dias em outra residência, outra "homestay", com um casal de idosos muito amáveis, simpáticos e extraordinários, que viviam sozinhos na companhia de outra intercâmbista Suíça. Foi a melhor escolha que poderiam ter feito por mim.
Nos primeiros doze dias, a minha rotina era a seguinte: tomar o meu café da manhã (nada de English Breakfast, café da manhã à la Brasil mesmo), ir à escola e depois, sempre sozinha, visitava algum museu, monumento histórico, galeria de arte, ou seja, o roteiro que teria para fazer. No décimo segundo dia, já sentindo falta de seres humanos da minha idade (meus colegas de escola eram muito gracinhas, tive a oportunidade de conhecer pessoas do mundo inteiro, fiquei amiga sobretudo de uma moça marroquina, mas, ou por timidez minha, a eterna falta de jeito, ou realmente por serem novinhos e fechados em seus grupos, não conseguia companhia para sair à noite, ir a um PUB, o que mais desejava naquela altura do campeonato), busquei um tour guiado através do Rafael, o "Guri in London" - ele tem um site e canal no youtube - e assim fiz meus primeiros amigos...brasileiros. Mais por sincronicidade do que pelo tour em si, ali conheci uma garota com quem fiz amizade, mas acredito que faltava era me abrir, pois ainda na mesma semana, independente do tour, fiz amigos e amigas brasileiros, turcos, argentinos, italianos, da minha idade, mais jovens, mais velhos, e portanto a experiência passou para o que chamo aqui de fase dois: as noites londrinas.
O esquema era quase o mesmo: café da manhã (agora eu quem preparava meu próprio café); escola, passeio cultural e por fim, noite em algum PUB ou PUB club com os meus então amigos. Já com a chave de casa, tinha a liberdade de chegar no horário em que quisesse, embora nunca tenha passado das três da manhã, creio.
Londres é uma das cidades mais fantásticas que conheci. Linda, organizada, acessível, limpa, com um transporte público que funciona e , ao contrário do que pensava, com pessoas amabilíssimas as quais me ajudavam a todo o momento a tomar o ônibus certo, a descer na estação de metrô correta, a não me perder ou me jogar nas margens do rio Tâmisa por descuido. Notei ali que o meu problema não era o Inglês, que o curso feito lá na adolescência foi sim muito bem aproveitado e nunca esquecido, mas sim a minha falta de direção natural e dificuldade na leitura de mapas, o CittyMapper para mim era como se estivesse em Chinês....(fiz essa piadinha com um lindo londrino que conheci, mas ele a entendeu no sentido literal: game over).
E foi o mês mais extenso da minha vida. Não estava absurdamente frio ou então estou mais para o frio que para o calor. "Peguei" apenas dois dias de chuva monstruosa, pois, diferente da nossa garoa paulistana, a chuva em Londres vem carregada de uma ventania absurda e irresistível a qualquer sombrinha ou guarda-chuvas. Só podia me molhar e estando na tempestade, era o que se devia fazer.
O curso de Inglês foi maravilhoso, parabenizo aqui a escola The English Studio pelo cuidado com os estudantes, sobretudo os secretários executivos. É óbvio que na primeira semana eu era a estudante mais assídua e assustada (sempre me perdia por todos os caminhos, mesmo os mais exatos), mas após a segunda semana já me sentia livre o suficiente para chegar em meus dez ou quinze minutos atrasada, como no Brasil desde o colegial.
Quais lugares os meus pés tocaram?
British Museum (dois dias, aliás, ninguém era capaz de me tirar de lá); London Museum; National Gallery; Globe Theatre (do Shakespeare); British Library; Hyde Park; Bukingham Palace (duas vezes, uma para a troca de guardas); Oxford Street; Camden Market; The Hawley PUB (o Pub da Amy...); Notting Hill Market; Estação Stockwell (onde assassinaram o Jean Charles); obviamente o Big Ben, embora em reforma, a Westminter Abbey (duas vezes, uma a visitei por dentro) e o Parlamento inglês (observado por fora); The monument (em homenagem à reconstrução de Londres após o incêndio em 1666); Minha amada Trafalgar Square; The Chinese Town; Clapham South (primeiro bairro); Durham Road (segundo bairro); Holborn (bairro da escola e estação chave para que não me perdesse à noite); London Eye; Millennium Bridge; Tower Bridge; Green Park; Regent´s Park; Sherlock Holmes PUB e restaurante; Tower of London; St Paul Cathedral (por fora e depois por dentro); Picadilly Circus (várias e várias vezes...junto da Trafalgar Square e Leicester Square); Abbey Road (a gravadora e a "rua" não original dos Beattles. Não encontrei nada sobre os The Rolling Stones, talvez por ainda estarem vivos...); Museu de Cera Madame Tussauds; Fui a um musical do Michael Jackson, in memorian ÓBVIO, em Leicester...; Convent Garden e sua feirinha; Kensington Palace; Tate Modern Museum; Victoria and Albert museum; The National History Museum; Brick Lane e suas feirinhas; The Sky Garden e sua beautiful vista londrina e alguns lugares os quais não lembro, entretanto afirmaram em que lá estive: Leadenhall Market; Lloyds of London; Walkie Talkie; Gerkin; Bank of England; Royal Exchange; Mansion House; St. Bride´s Church; Samuel Johnson´s Museum.
Ah! Também fomos ao cinema, o Pohenix cinema em East Finchley, onde assistimos "Phantom Thread" (Paul Thomas Anderson/ 2017/ última atuação do brilhante Daniel Day-Lewis).
PUBS POR ONDE PASSEI ( ATRAVÉS DO PUB CRWAL HISTÓRICO, GURI IN LONDON):
The Walrus & amp; The Carpenter: nome de poema de mesmo autor de "Alice no País das Maravilhas";
The Crosse Keys: O pub mais jovem do roteiro (1912), era do HSBC;
The Counting House: Vitoriano, era um banco, data de 1893;
Jamaica Wine House: local da primeira cafeteria de Londres (1652);
Simpson's Tavern: existe desde 1757 no mesmo lugar. Até 1916 mulheres não eram bem-vindas;
Ye Olde Watling: contruído em 1668 pelo Sir Christopher Wren;
Cockpit Tavern: antes do Grande Incêndio existia ali a casa de Shakespeare;
Shaws Booksellers: "livraria-pub" (na verdade é só uma relação com o livro "Wings of the Dove");
The Old Bell Tavern: projetado por Christopher Wren, o mesmo da St. Paul's (sim, de novo!);
The Tipperary: primeiro pub irlandês de Londres;
Ye Olde Cock Tavern: pub com a fachada mais estreita de Londres;
The Old Bank of England: era um dos escritórios do Banco da Inglaterra. Data de 1888;
(Fonte: Guri in London)
Agora, os PUBS ONDE ESTIVE DE FATO:
Lamb Tavern; Williamson's Tavern; The Blackfriar; Ye Olde Cheshire Cheese; The Knights Templar (esse aparece em cenas de o "Jogo de Imitação); The Sherlock Holmes Pub; vários da rede Greene King PUB; Jewel Bar Picadilly and Club ; Shakespeare´s head PUB; The Montagu Pyke, The Hawley Arms Pub (o da Amy); entre outros em Picadilly Circus.
Além de restaurantes brasileiros, italianos, portugueses, comida de rua afegã, brasileira, lituana, francesa, chinesa, argentina e claro, McDonalds e Burger King. E os maravilhosos cafés: Nero Café, Café Costa, Starbucks, Cafés tradicionais cujo nome esqueci e por aí vão.
Dessa maneira, Londres não me mostrou apenas Londres, mas uma janela, porta e portão para o mundo: além de brasileiros, conheci marroquinos e marroquinas, italianos e italianas, japoneses, franceses, turcos, belgas, argentinos, colombianos, espanhóis, indianos, nigerianos, ingleses - e poucos londrinos na verdade. Os taxistas eram os melhores! (Todos do oriente ou norte na Europa? Geografia não é o meu forte).
Um dos momentos mais emocionantes da viagem foi quando estive no Tate Modern e pude ver de perto a escultura de Degas "La Petie Danseuse de Quatorze Ans", uma réplica, acredito, mas o que é a vida senão a réplica daquilo que sonhamos? Além disso, todos os dias, tomar o ônibus para a High Holborn, o metrô, ver as gentes em suas diferentes cores, mulheres muçulmanas com seu belíssimos véus, coisa que nunca havia presenciado... Não há nada em Londres que me marque como simbolo, além da própria Londres, seus rostos, suas ruas arrojadas e simultaneamente organizadas, o decoro britânico, dos empresários aos sem teto, as tulipas vendidas nas esquinas, o cheiro de um não-sei-o-quê, nunca esquecido.
PARIS
Nunca imaginei na vida que conheceria Paris. Não planejei sequer uma viagem, ainda estando no Brasil, pois para mim ir a um país significa dominar o mínimo do mínimo do seu idioma e eu nada sei de Francês (ainda). Porém, observando muitos colegas indo e des-indo, decidi arriscar. Tinha uma companhia que me "deu o bolo", e então, sozinha e insegura por conta da língua, de não conseguir me comunicar, decidi fazer o que muitos brasileiros fazem, o tal "Bate-Volta".
Fui de trem, pela Eurostar. A viagem teve início quando deixei a "minha casa" de madrugada em direção à bela Saint Patrick Station e todos os procedimentos feitos com pouca antecedência. Viajar de trem é um sonho já realizado em Espanha, se não me engano de Sevilla a Granada. Mas agora era diferente: eu estava sozinha e ouvindo um idioma desconhecido, atenta às expressões das pessoas, aos seus costumes, aos seus olhares e perfumes.
Nevava muito. Sensação térmica -1 grau celsius. Por essa razão, houve um atraso de três horas para uma viagem que deveria durar duas. Ao chegar a Paris, a surpresa da neve: o meu segundo encontro com ela na vida, mas de uma forma mais visceral, visto que caminhar pelas ruas parisienses era correr o risco de escorregar, cair, e servir de riso aos passantes.
"Cidade confusa" - pensei.
Fui a um café qualquer, perto da estação para me situar, onde comi meu primeiro e único croissant. Recuperado o fôlego, segui o meu roteiro: Torre Eiffel, Arc de Triomphe, Champs-Elysée, Place du Concorde, Feirinhas, pausas para comidinhas nos stands, um café, um sanduíche e um crepe parisiense. Mas, o sensacional, o momento que me valeu a pena e a vida foi , e perdoem-me aqui pelo clichê, leitores, o Louvre.
Primeiro: não fazia ideia de que fosse tão imenso. Com o atraso dos meus planos, tive apenas duas horas e meia para nele estar. Entrar ou não entrar?
Eis a surpresa!
Como uma ignorante nas artes, eu não tinha ideia de que a nossa Monalisa, La Joconde, habitasse aquele santuário, soube de surpresa através de uma placa indicativa. Isso fez a total diferença em minha curta viagem:
o assombro.
Foi então a primeira coisa que fiz, até pela falta de tempo. Quando me deparei com La Joconde, frente a frente, sem nenhum segurança ou inquieto turista, apenas eu e aquela obra que para mim representa a prova da minha existência nesse planeta, eu chorei. Não copiosamente, mas como uma criança que descobre que deixou, o Papai Noel, a bicicleta rosa de cestinha embaixo da árvore de Natal. Todo o meu dinheiro, todo o meu tempo, toda a neve, todas as pessoas, as que nunca mais serão reencontradas, estão representadas naquela aparição. Não se trata da cultura de massa que nos obriga a engolir a Monalisa como ícone cultural pós-pós-pós-guerra-contemporâneo-pós-humano-pós cyborg-pós-cara**; tratava-se de uma jovem, com eu, pintada por um desconhecido no ano de 1506, creio. Tratava-se da certeza de que seja lá o que venha a ser da minha vida, a partir de então, eu estava aonde deveria estar e o universo sorriu para mim naquele piscar de olhos.
Nunca me esquecerei.
Muitos me diziam da ranzinzice dos Parisienses em relação aos não falantes de Francês. Bem, ensaiei algumas frases e gosto de brincar com meus acentos; desconhecida que sou, seja em Espanha ou Paris, uso todo o meu retroflexo para ver até onde me chamariam de nativa. E não é que deu certo? Um francês chegou a me perguntar se eu era de Paris. O fato é que só aprendi frases básicas, porém fui muito bem acolhida; de pessoas que me levaram até as estações corretas (pois só me desloquei de metrô e caminhando), até outras que utilizavam o tradutor em seus Smartphones para se comunicarem. Cidade linda, cidade da luz, um monumento em cada esquina. Que me perdoe Granada e La Alhambra, mas nunca vi nada mais belo do que Paris e hoje, voltar àquela cidade é uma das metas que ainda me mantem consciente da minha trilha nesse mundo, dure o quanto durar.
...
Retornando a Londres, mais alguns dias de aula, mais alguns PUBS e a chegada da solidão. Mr. Geoffray e Mrs. Vallerie, meus anfitriões, nunca serão esquecidos. Mas por vezes, eu entrava no meu quarto e pensava no que estaria por vir, pois o medo chegara, isso quatro dias antes do meu retorno.
Houve outras aventuras como a de uma garota maluca que me perseguiu por dias, ligando-me de madrugada; um flerte com um amigo/escritor italiano-não-consumado; além das inúmeras aproximações de homens argentinos e (o susto foi tão grande que me escapa o nome, sendo a segunda vez que aqui escrevo...)....argentinos e....indianos, Deus do céu!!!!!!! Como uma mulher "mochileira", sozinha em países estrangeiros, é preciso se precaver, mas sem muitas paranoias: um pouco de paciência, um pouco de jogo de cintura e se preciso falta de educação nos resolvem a maioria dos problemas!
Muitos foram os amigos brasileiros que insistiram que permanecesse em Londres e buscasse um trabalho clandestino, uma vida nova. Mas, eu precisava voltar para a minha casa, meu marido e três filhos, meu doutorado já avançado, meu emprego que tanto amo, minha felicidade brasileira, minha presidenta eleita democraticamente (risos sarcásticos como os de alguém que acorda às dez da manhã e bebe uma copa de vinho seco).
No ano passado, a vida me passou para trás. Perdi minha presidenta, minhas casas, meu companheiro, os filhos que nunca tive; continuo desempregada, sequer li o manual de calouros do doutorado de 2017 e, pasmem: não faço ideia do que fazer da vida! Perdi bons amigos, descobri verdadeiros inimigos, mantive algumas amizades, ainda, para não dizer que a vida é triste e recuperei outros que o tempo havia de mim separado. Sobrevivo um dia de cada vez.
Por essa razão, não voltei de Londres para a minha "casa" em Belo Horizonte de imediato. Andarilhei por São Paulo, revendo os verdadeiros irmãos que a vida me deu. Fui a Viçosa rever os meus pais e tentar o intentável; fui a Cachoeiro do Itapemirim reencontrar uma grande irmã....e por aí fui. Um dia de cada vez, até chegar aqui, a Belzonte, sentar-me nessa cama de onde vos escrevo, já planejando a quantidade de cigarros que fumarei no dia para não me dar ao trabalho de comprar outros na padaria da esquina.
Por que, então, não fiquei em Londres?
Porque não era chegado o momento. Porque sou brasileira e não desisto nunca. Porque ainda me resta uma chispa de esperança de que as coisas mudarão a meu favor. E, sobretudo, porque recebi, em Londres, um e-mail do meu orientador do qual senti medo. E por saudade dos meus pais. Dois velhinhos quase insuportáveis mas que moram nos meus sonhos e pesadelos.
Ei de voltar, tenho certeza. Não tirei minha foto ao lado da cabine telefônica, preciso voltar para fazê-lo. Conhecer Oxford, Cambridge, o meridiano de Greenwich, beijar os lábios de um londrino...ou....(putz, esqueci de novo...)...indianos maluquinhos?
Em meu terceiro dia em Londres, ansiosa que estava com o comportamento da família número um, ocorreu-me uma vergonha alheia. Extremamente severos, senti medo de descer as escadas da casa para buscar um copo d'água. Precisava de um pois estava tão irritada que me veio uma incrível dor-de-cabeça. Para não ser motivo de reclamações, fui ao banheiro familiar mesmo, no andar do meu quarto e peguei um pouco de água com as mãos, assim, como se estivesse numa "bica" de uma roça. Bebi-a com o paracetamol e claro: engasguei até a morte, acordando a casa inteira. Procurei no Yahoo respostas o que deveria fazer e ali estavam conselhos tais: "coma pão" até "beba litros d'água" ou "coma banana".
Fiz os três, mas ainda assim permaneci acordada esperando o momento da asfixia mortal, que não veio, obviamente, ou não teria tido tempo para ler o Yahoo respostas (recomendo a todos; qualquer pergunta insana que tenhais em mente, lá estará a resposta, como o novo oráculo contemporâneo de Delfos).
Tudo isso para vos dizer, queridos leitores, o quão mágica a vida pode ás vezes ser. Perdi o medo de voar, ganhei um pequeno trauma de paracetamol, mas sobrevivi.
Aliás, fiz mais que sobreviver: vivi e fui muito feliz.
Hoje, restam as lembranças e a certeza de que nunca se deve tomar qualquer medicamento sem um copo d'água volumoso. E de que Londres é linda, Paris é fantástica e a vida, por pouco, poderia ser um musical. Escrevi um diário de viagem. Quem sabe um dia, caso tenha filhos ou mais cactos, ele possa ser lido com a mesma avidez que me levou a escrevê-lo diariamente.
Desejo a todos um bom dia regado à London Pride and Fish and Chips!
Beijos da Sofia!
**Abaixo....fotos, vídeos e vídeos e fotos (arquivo pessoal)
Bienvenida!
ResponderExcluirEsperava ansiosamente por este texto...enfim...chegou! E veio com tudo, o que não seria absolutamente fácil pelo tamanho da bagagem, mas foi bem prazeroso percorrê-lo. Acompanhei um pouco a sua viagem pelas fotos, mas acho que com as impressões escritas consigo estabelecer uma relação de maior proximidade... Que delícia de leitura!
PS: certamente chorarei quando Monalisa e eu estabelecermos algum contato visual...talvez até ela chore, comovida com a minha emoção. (não sei...acho) e chorei com isto aqui: "Tratava-se da certeza de que seja lá o que venha a ser da minha vida, a partir de então, eu estava aonde deveria estar e o universo sorriu para mim naquele piscar de olhos"...estou emotiva hoje...rs
E ah...admiro quem escolhe ficar neste país, da maneira triste em que ele se encontra e ainda tem fé; tenho também, embora não todas as horas.
Abraços,
Minha amiga, Cómo estás? rs.
ExcluirObrigada pelo seu comentário, sempre me é um sopro de inspiração!Concordo com você sobre a admiração por aqueles que decidem ficar no nosso país, mas talvez o que tenha me faltado foi oportunidade para ficar de vez em Londres rsrs. Sinto falta de escrever aqui, mas ando tão cansada que as palavras não me saem, talvez a fonte já esteja se esgotando....Ao contrário de você, aliás, admiro a sua disciplina e talento, esse que não é para qualquer um! Ansiosa pelo seu novo livro, não deixe de me avisar, quero comprá-lo assim que for possível! Que esse ano possamos nos conhecer pessoalmente! Um graaande beijo!