sábado, 10 de outubro de 2009

DANDO SATISFAÇÃO A ESTRANHOS



Certa vez, enquanto navegava pelo orkut xeretando a vida alheia, encontrei uma comunidade fantástica que penso resumir um pouco sobre mim: “Dando satisfação a estranhos” – é o título da comunidade, cuja descrição é:


“O cenário é uma loja de roupas. Um rapaz vê uma jovem senhora e arrisca uma investida:— Bela escolha, acho que vai ficar lindo em você...— Obrigada, mas não é para mim. É pra minha irmã, que mora no Sul e vem para um congresso no centro de convenções. Ela vai aproveitar para passar mais uns dias aqui e como eu sei que ela não tem muitas roupas leves, resolvi escolher uns vestidos para presenteá-la. Acho que vou levar algo para a minha mãe também, já que o aniversário dela é semana que vem...”


Sim leitores. Trata-se de um movimento em cadeia, de caráter involuntário. Quem padece desse mal, o da ausência de freio lingual em situações socialmente inapropriadas, sabe que as palavras se articulam espontaneamente, assumindo vida própria, comunicando-se com todo e qualquer ser vivo, sem distinção.
Esses dias, estava na fila de uma agência dos correios, na universidade em que estudo, aflita para mandar uma encomenda para uma pessoa, e, de repente, noto uma moça simpática observando, curiosamente, a minha lerdeza em contar as moedinhas para custear a minha postagem, que havia ficado em torno de 20 contos...

Estranha: - É para Viçosa que vai mandar?
Eu:- Sim.......
Estranha: - Por que não arruma uma caixinha qualquer e manda por um motoboy?
Eu:- Ai....será....você tem um telefone aí?
Estranha: - Tenho sim...anota aí...disk valente...você deve ser doida para mandar isso pelo correio!
Eu: - Ai menina...nem te conto o que aconteceu...tô conseguindo nem pensar direito......
Eu: - ........................(contando o que aconteceu....)
Estranha: - sério?
Eu: - sério....
Eu: - e tem mais.......
Eu: -..........................(continuando)
Estranha: - Ah.......agora eu entendi ..........


....e por aí vai....

Quando morava em São Paulo, por volta dos meus 17 anos, apaixonada por um menino, e sem muita perspectiva do que fazer diante daquela situação, na época, extremamente complexa, perguntei a uma estranha que encontrava-se sentada ao meu lado, no ônibus que me levaria para a escola, o que fazer:

Eu: - Tipo assim moça....O que você faria se estivesse tipo apaixonada por alguém, mas tipo...mesmo sabendo que é uma situação, tipo assim, complicada...tipo...
Estranha # 2: - A gente só aprende a dar valor quando perde, né? então....vai fundo! Declare-se!
Eu: - ah só....tipo...obrigada!
Estranha # 2: de nada.
Eu: - É que tipo...ele tá doente.....
Estranha # 2: - O que ele tem?
Eu: - Tipo...Ele tem uma leucemia linfóide aguda...
Estranha # 2: - (silêncio).

Há mais ou menos um mês...na fila do banheiro químico da “beijo me gripa”:

Eu: - Ei...te conheço de algum lugar.....
Ex Estranha: - Você faz Letras né? eu fiz Letras também....
Eu: - Ah sim...lembro de você....menina...ninguém merece esse banheiro, né?
Ex Estranha: é verdade.....
Eu: - Aqui...você conhece fulano , né? ele é uma gracinha......
Ex estranha: - [não lembro o que respondeu....]
Eu: - [ não lembro de mais nada....]
Eu: - Segura a porta do banheiro para mim?
Ex estranha: - claro...
Ex estranha: - segura a porta para mim, por favor?
Eu: - Vai lá......
Estranha: (tempinho depois): obrigada! Boa festa para você....
Eu: - Obrigada...tá ótima né.?? quase que eu não ia vir porque estava desanimada....
Ex Estranha: - é?
Eu: - é......tava desanimada né? sabe o que é....
.....
....
....
...
Ex Estranha: ah ta....mas é assim mesmo...olha o que me aconteceu.....


Poderia dar outros vários exemplos de coisas assim: conversas na fila do confessionário, conversas com ciganas, conversas com passageiros de ônibus......entre outros. Acho que tenho uma necessidade de me expor, de perguntar ás pessoas sobre suas vidas na intenção de compará-las com a minha.
Tenho uma amiga que faz o mesmo, perguntando-nos coisas bizarras em meio a locais não sugestivos, como aulas, palestras, cursos,.....quando menos espera, no meio daquela aula favorita, eis que surge minha querida amiga fulana* com aquele cutucãozinho chato nas costas e aquela carinha tímida e curiosa de quem está se segurando para fazer aquela perguntinha que te desarma.

Eu: - Fulana... que foi dessa vez?
Fulana: - Deixa eu te perguntar...he he...
Eu: - Ai meu Deus...lá vem...


A normalidade é de fato um conceito relativo; há valores que têm um certo peso para as pessoas que, para mim não tem e nunca terão o mesmo sentido: e vice-versa. No meu caso, porém, mais que uma tentativa de afirmação, creio que o meu problema seja na verdade excesso de palavras e falta de vergonha. Esta combinação tem, ultimamente, me dado um pouco de trabalho, mas, nada que uma boa fila de qualquer coisa não resolva, adicionada a uma boa pitada de óleo perobal. Quer terapia melhor em tempos de crise?

2 comentários:

  1. Vc é ótima Amanda! Me divirto muito com suas postagens!!!

    Bju grande no ♥

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  2. hehe...obrigada! ótima foto das freirinhas, né? é em homenagem a uma amiga...chamada Cléo! rsrs

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