segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O sopro

*Alma do sopro. Foto de Neblina.
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Todas as pessoas são extraordinárias. Um amigo sempre dizia, a cada namorada, a seguinte frase: "Mulher extraordinária como você, nunca mais encontrarei". Certamente que não; a graça talvez resida aí, ou o sentido da vida: felicidade nem sempre consiste no "extra". Sempre gostei de coisas ordinárias, como beber água, por exemplo. Bebo pouca água, mas ao fazê-lo em momento de extrema sede, sinto-me em comunhão com Deus em sua face "ordinária", corriqueira - e nem por isso menos bela. Então nos vem essa segunda-feira comum, cheia de luz e calor, céu azul e poucas nuvens. Um dia ordinário para um céu de Minas, e nem por isso menos especial.
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No meio da aula, um aluno e um bilhete. O aluno, vermelho; o bilhete, de amor. O sofrimento do amor não correspondido, ou feito pela metade. Daí a metáfora do copo - cheio ou vazio - e então as pessoas se distinguem a partir disso, da maneira como enxergam o copo. Como o enxergo? Cheio a ponto de transbordar e inundar o mundo, pois vivo - à despeito da lógica - o "extra" em quase tudo que vejo, mesmo tendendo ao vazio.
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Das coisas que me irritam: saudade, sono, fome, segunda-feira, aluno debochado. O ordinário que se faz "extra", quando em combinação. Salvo-me da mediocridade quando insisto. Insisto sempre, com ou sem sopro.
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Amanhã recomeçamos, com ou sem sopro.
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Um dia desisto.

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