segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Fada Viola

*O Violão. Foto de Portodolado.
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Decidi fazer isso agora a esperar mais dias, menos dias, a infinitude. Incrível como caímos no tal sistema sem nos darmos conta, sistema do desencanto, em que os aparatos virtuais só nos servem para dar-nos a ilusão - ou a certeza - de que todos os seres humanos do universo têm uma vida interessante: exceto você.
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Eu tenho uma vida desinteressante. A cada dia me desapaixono de mim ao perceber todos os meus lugares comuns aglutinados em cansaço, sono, preguiça e falta de sonho. Há alguns dias, ao assistir a um trabalho sobre uma das peças de Shakespeare, chamou-me atenção o nome de uma das personagens, Viola. Desde então, espero pelo dia do grande encontro: Viola (a fada que realiza desejos) e eu seremos apresentadas, ela quem mudará os rumos do meu destino. Viola...que nome mais sonoro, não? Teria uma filha com esse nome. Bom, até lá finjo sentido nas coisas.
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Das coisas que  mais gosto, em ordem de preferência: meus amigos (minha família é sobretudo minha amiga), a dança, escrever, literatura.Houve épocas na minha vida em que consegui conciliar todas essas coisas: destinava grande parte do meu tempo a meus amigos; dançava....escrevia e lia por prazer. Escrevia o que me desse na "telha", cartas-emails-crônicas e lia apenas o que gostava, o que me causava encanto.
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Gosto de astrólogos, videntes, tarólogos e coisas do gênero. Desde os nove anos me dedico a brincar de taróloga, tradição a que herdo de minha avó Maria. Sempre quando posso, consulto oráculos, converso com ciganos, gosto de ouvir a essas pessoas como se lançassem os dados da minha sorte. Confesso que nada me chamou atenção ao longo de anos (exceto a vidente russa em Buenos Aires). Mas, se pensar com força, lembro-me aos treze quando conversei com um homem interessantíssimo (cara de bailarino) quem setenciou a minha rota como indivíduo: "Você se formará em uma coisa, mas trabalhará com outra".
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Tenho muitos medos, mas prefiro a solidão a passar o resto da vida fazendo o que não gosto, o que não me da prazer. Há quanto tempo não sinto um friozinho na barriga ....(esta, a cada dia mais plástica...)...Há quanto?
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Nunca mais senti.
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Não sei porquê me formei em Letras, não sei porquê passei no Mestrado, não sei porquê me fizeram professora. Tudo o que eu queria era trabalhar com gente, gente com quem pudesse dialogar, refletir, sonhar junto: gente! Tudo o que eu queria era uma profissão em que a escrita fosse a minha ferramenta de trabalho, mas que eu encontrasse nisso uma função social e, ao mesmo tempo, tempo TEMPO TeMpO!!!! Tempo para a felicidade, a que não está.
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Desde o meu trabalho de monografia, entregue há quase um ano, entrei no circulo da infelicidade. Nunca mais senti prazer - prazer, tesão de verdade - nas coisas que faço. Ligo o automático e sigo. Raros os momentos de escape, quando me dou a oportunidade de ler coisas novas (Clarice, os hispanos e a Bíblia - minha Literatura preferida - sempre). Daí que a última vez em que senti prazer - não o prazer que depositamos no outro, mas aquele que nos permitimos - foi em minha viagem a Buenos Aires. Poderia ter sido a Rocinha - é o mesmo - porém foi Buenos Aires, e respirei bons ares pela última vez.
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Tenho dois trabalhos, nos quais reproduzo coisas que por vezes não acredito, além de ser muitas vezes "desrespeitada" (ASPAS-ASPAS). Consegui um mestrado...uma coisa que queria muito, mas que não fez de mim uma pessoa melhor: continuo a vida de graduação...A hora última, sempre...os textos que não escolhi...os autores que não me tocam. Sem contar os condicionamentos burocráticos-politiqueiros que só me desapontam a cada dia mais.Não tenho humor para os amigos...Aos finais de semana, só penso em dormir. Meu namorado está a dezesseis horas daqui, cercado de gente interessante - como ele. Decidi voltar para a casa a fim de encontrar um espaço comum que me exigisse menos paixão, menos desafio - porque estou esgotada.
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E a fada Viola?
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Não leio, não escrevo, não danço - DANÇO. Rebolo pra dar conta de mil coisas, pra ganhar uma grana  a que é gasta com coisas não medíocres como Comida e Bebida (nem diversão, nem arte). E aí???? É isso???
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Decidi fazer isso agora. Parei a leitura do artigo , leitura mais-que-atrasada para dar-me um pouco de colo.
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Estou infeliz, estou adoecendo, estou perdendo tempo.
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Estou?
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Observo meus 820 "amigos" do facebook e prendo a respiração até ficar lilás.











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