segunda-feira, 16 de abril de 2012

Bancando Deus

*Encontro olhares 02. Rui Carvalho.
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Presenteei  meu namorado dia desses com um Daruma, aquele típico amuleto japonês que signifca sorte e persistência. Tempos depois, percebi que não havia sido pintado o olho do pequeno monge, ou seja, ainda não houve desejo de pedido. Pensei seriamente em, antes de nos reencontrarmos, fazer por meu namorado um pedido que tenho a certeza de que só lhe traria benefícios; pedir ao monge uma benção que lhe cairia bem nesse momento, pintando-lhe um dos olhos como surpresa. Procurei uma caneta para fazê-lo, até perceber que tamanha infração isto seria: intervir no destino alheio.
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Não; não pediria ao monge algo relacionado a "nós", tampouco que nosso relacionamento fosse "infindo", qualquer coisa do gênero. Meu desejo era o melhor intencionado do mundo, limitando-se ao universo do meu namorado, seu bem estar, algo que lhe proporcionaria felicidade independente dessas voltas que nos são dadas. Era gratuito, amor gratuito, mas desisti a tempo.
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Não tenho coragem de desejar algo que não pra mim. A felicidade de hoje pode vir a ser motivo de frustração amanhã, a perda de hoje, motivo de encontro. Essa "lei" das coisas imprevisíveis e misteriosas é uma das poucas expressões de milagre que ainda me comovem e trazem fé. Caso meu desejo fosse atendido, correríamos o risco de que no futuro, outro desejo lhe escapasse das mãos, uma nova rota se desse que não casual, mas forjada. Presunção ou não, acreditei que meu desejo seria atendido porque nele acredito. Eu sei: não movo montanhas.
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Porque tenho medo do que desejo. Ultimamente, quase tudo o que almejei converteu-se em feitiço contra feiticeiro, salvo as coisas que sempre são, como o amor, a saudade e a fome. Devia já ter aprendido que é preciso cuidado com o que se deseja, tudo pode se realizar havendo fé, e minha fé move um universo metafórico e poderoso.
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Resignada, desisti do papel de Deus. Coloquei o monge em seu lugar - perto dos livros - e continuei o que fazia.

Um comentário:

  1. Olá Amanda!
    Também penso como você, na maioria das vezes acho que nem sei o que quero para mim mesmo, quem dirá para outra pessoa, comigo aconteceu semelhante ao que você comentou, boa parte de meus desejos depois de realizados se transformaram em frustrações, ouro de tolo, às vezes o que vem de forma não planejada é capaz de nos satisfazer muito mais do que algo que já temos almejado...

    http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/

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