domingo, 8 de abril de 2018

A SAUDADE É AMORAL


Sofro de orgulho crônico. 

Como pessoa de aparência humilde mas que traz dentro de si uma guerra. Tenho sentido saudade de muitas pessoas ultimamente, de quem me afastei ou fui obrigada a; de quem a vida me afastou pelo fado das nossas escolhas e não escolhas.

Contudo, sinto falta de todas elas. Da mulher com o seu filho, ao teimoso ativista de si mesmo; passando pelos amigos de copas, companheiros do jovem e seu violão clássico. Também das paulistas e suas mensagens trocadas sem finalidades. A dos burros em seus chapéus; a dos cacheados carnavais e a dos chimichurris. Do  vaidoso e gentil nobre homem em seus mistérios; do artista que sorria se encontrasse um gato preto na rua. Saudade do direitista e sua enfermeira, da donzela e seu Quijano...Da mulher que lavava os panos. Das gêmeas e suas selfies, da doutora em conselhos vis, do niño que brincava pelos corredores em um restaurante enfadonho. Entre outros e outras que de falha memória, ou coração, ainda não se fizeram espelho. Também da cidade aislada de ruas sem asfaltamento. Do hedonista, do sábio, do casal além-mar, do mestre literário. Da vista de uma sacada, com uma única planta graciosamente morta e mal cuidada. Dos jogos de futebol, os da TV e os dos pátios de muitas terrazas. Da voz rouca, ao telefone, daquela senhora criada por Pedro e de suas filhas mediterrâneas, seus sobrinhos, vizinhas, irmã e irmão...

Saudade de uma cidade pequena;
Saudade daquela em que, da janela, sentíamos o cheiro de laranja podre;
Saudade de um país dividido que também foi meu.

Sinto falta de muitas pessoas cuja presença não me preenchiam então, pois estava  eu transbordada de ausências. 

Quando ouço um nome, o nome de quem me é ou já foi caro em situação inusitada, meu coração acelera como se estivesse diante da imagem distante reencontrada em alguma viela, em aparição não agendada e sem taça de vinho. Meti os pés pelas mãos tantas vezes, o que não quer dizer falta de razões. Tudo é racional, menos a amizade.

A saudade não entende de leis, de justiça, de habeas corspus, sequer de simpatia. As despedidas tampouco, porque envolvem universos paralelos que não deveriam se encontrar. 

A saudade misteriosamente vem quando ouvimos um nome que já nos foi próximo, proferido por algum desconhecido de quem não se esperava.

O mundo é pequeno demais.

Eis que volta o orgulho, o lado bom desse, por haver convivido com um sujeito e saber que era ético, generoso e bom. Ainda que agora sejamos apenas sombras de meses atrás. Nunca mais nos veremos como antes, apenas palavras nos restam. 

Bom dia. Boa tarde. Buona Fortuna.


A saudade é amor-ALL. 

Que estejam todos bem, eu rezo.
E que o tempo voe como um beija-flor. 





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