quinta-feira, 15 de julho de 2010

Meu medo da morte.


"O amor comeu meu silêncio,
minha dor de cabeça,
meu medo da morte".
(João Cabral de Mello Neto).

Hoje sonhei com a morte de uma pessoa querida. Ontem, recebi um terno email de um amigo, Ricardo, padre, que está atualmente em Moçambique, atuando como missionário. Ainda ontem, na Semana do Fazendeiro, observava as pessoas que transitavam tranquilamente, ora sóbrias, ora embriagadas, felizes, entediadas: vivas.
Medo da morte.
Eu tenho medo da morte das pessoas que me cercam, mas ultimamente, quando penso na possibilidade da chegada hipoteticamente precoce da minha própria morte, não sinto medo da dor, do fim, do que poderia vir ou da falta de, do nada, do silêncio, do ponto final.
Também não tenho medo do não encontro com Deus, caso ele não exista lá.
Sinto pena da ausência de vida. Tenho tantos romances para ler, tantos outros para viver, tantos lugares para ir, pessoas a conhecer, decepções, boas lembranças que, sinceramente, eu não só teria que morrer velhinha, mas como ainda viver uns 200 anos para aprender e fazer tudo aquilo que eu gostaria.
Ao mesmo tempo, viver em excesso também não seria uma escolha ideal: ver tantas pessoas partindo e você (eu) vivo, consciente, porém só e vazio.
Nesse momento, me dou conta de que o combustível da vida é o amor. Amor que persiste, insiste em manter-nos acordados, quando dormir seria mais cômodo.
Só o amor é capaz de inibir o humano e natural medo da morte.
Vendo as fotos de meu amigo Ricardo, em Moçambique, tive a segurança de que meu amigo, como muito merece, está feliz, amando e fazendo aquilo que escolheu para si, para sua vida, para sua existência.
Forte, não?
Espero poder passar por esse mundo também fazendo aquilo que eu escolhi, que me completa e que me confere um minímo sentido em meio ao caos que é o existir, o fazer escolhas, o perder, o ganhar, o arriscar-se...o viver.
Hoje eu não tenho mais tanto medo da morte, em comparação com o medo que tinha ainda ontem.
O amor comeu a minha cronologia, meu relógio biológico, minha dor maxiliar, minha mediocridade:
O meu meu medo de existir.

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