sábado, 24 de julho de 2010

A. Poulain


Terrível esse tempo de desencontros.
Hoje passei a noite sozinha em casa; em 24 anos de idade, é a primeira vez que passo uma noite literalmente só, na minha própria casa. Sou filha única e sempre recebi de meus pais um cuidado extremado, desses que te irritam até o último nervo bem-vivo; mas, por ironia do destino, destino-destino-destino, prestes a ingressar na terceira idade, meu casal preferido decide viajar sozinho vez ou outra.
Desta vez a razão não é das melhores: uma tia avó doentinha...prestes a.
Dormi só, mas não exatamente imersa na solidão. Não quero comentar sobre um último acontecimento sobrenatural que me ocorreu dias atrás, em que pude ouvir uma voz realmente estranha provinda da minha caixa de som; não! para dormir só, na minha casa que é tão grande, e tão desorganizada quando está aos meus cuidados, foi preciso que eu esquecesse desse medo.
Medo dos desencontros.
Apesar do tempo ruim, dos desencontros todos, inteiros, plenos, alguns encontros se tecem sem que percebamos. Conheci uma menina que, não sei....me assustou ontem com uma cumplicidade e entendimento desses que só as pessoas grandes-pequenas e que muito já sofreram, muito já amaram nos poderiam oferecer.
As pessoas de muita sorte não.
Ficou comigo na sarjeta, literalmente, me contando a verdade sobre a vida, enquanto eu pensava qualquer coisa.
Essa menina, que é linda-linda, uma fada, me disse aquilo que eu acredito, mas esqueço.
"Sofia...a vida é muito curta. As pessoas morrem. Semana passada perdi uma grande amiga; retrasada também."
"Eu disse a ele, ao meu ex, que nós iamos nos perder...que morreriamos um para o outro. Ele não se importou, mas por que ele deveria? ele não sou eu! eu não devo esperar dele, das pessoas, dez reações calculadas; se elas escolhem a décima primeira, eu me frustro...mas a culpa não é delas; elas não são eu. Elas não viveram o que eu vivi e não sentem as coisas como eu sinto".
"O fim, Sofia, pode chegar antes que a gente se dê conta. Faça disso algo bonito então...e pense que as pessoas se vão, todas, e que a vida é isso...."
Um feixe de luz no que é obscuro. Passou.
Eu provavelmente vou fazer a coisa errada, mas com muito desejo de acertar: isso já não é um acerto?
Depois de termos tido a nossa noite sabotada por uma péssima visão, essa pessoa que, espero que a vida nos aproxime ainda mais, fez comigo aquilo que eu faria com qualquer um: e eu me senti feliz por causa disso.
Porque às vezes complicamos tanto as vidas que nos são emprestadas, as nossas e as de quem amamos, que não enxergamos o óbvio; não damos o carinho simples, porque pensamos que o outro, à espera de um gesto grandiloquente, não suportaria o simples...mas é o simples, o social, às vezes é mais importante.
Essa moça-meio fada, meio bruxa - porque já me adivinha, viu que não queria cerveja nem beijo na boca; queria ficar alí, logo logo logo adiante, perto de uma sarjeta, conversando sobre coisas da vida, sobre pessoas que partem, sobre frustrações e o que fazemos delas. Sobre despedidas.
Se isso não é estranho, para um dia de festa, o que mais será?
Se isso não é obra do destino...não sei o que poderia ser então.
Porque eu encontrei a pessoa certa, na hora certa, no local certo.
Mas, ainda assim, é provável que eu faça o errado, ainda que com o certo nas mãos.
Que pessoa linda, meu Deus....
Obrigada!
Espero que você fique bem.

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