terça-feira, 23 de agosto de 2011

Revelação: A representação do homem pós moderno em "Deixa acontecer".




Deixa acontecer naturalmente
Eu não quero ver você chorar
Deixa que o amor encontre a gente
Nosso caso vai eternizar...(2x)

Você já disse que me quer
Prá toda a vida, eternidade
Quando está distante de mim
Fica louca de saudade...

Quem a razão do seu viver
Sou eu!
Está tudo bem, eu acredito
Eu não tô duvidando disso...

Só que eu tenho muito medo
De me apaixonar
Esse filme já passou
Na minha vida
E você tá me ajudando a superar
Eu não quero ser um mal
Na sua vida...

(Repete 345 vezes...)

....

De acordo com MELLO (2011), pode-se perceber que o discurso elaborado pelo grupo de pagode Revelação, composto por homens brasileiros heterossexuais, metonimicamente reinventa o homem pós moderno a partir de um comportamento padrão. Provavelmente, a faixa etária do homem em questão está situada entre 17 a 77 anos. Trata-se de um homem cuja preocupação central é o próprio umbigo: o quarto verso da primeira estrofe "...nosso caso vai eternizar" metaforicamente tenta convencer a parceira de que a força do amor selará a relação do casal, quando, de fato, temos uma antítese sintomática (ato falho) CASO versus ETERNIDADE, mostrando-nos que o homem exemplo não só teme os arranjos sociais "formais" (relação estável, namoro, casamento), como também pretende enrolar o máximo a parceira até que esta se convença de que é uma idiota e abandone a canoa (furada).

...

Pode-se perceber ainda a tentativa do homem em reverter o foco do discurso: ele se auto caracteriza como sofredor, enganado, encurralado pelas circunstâncias e projeta tal idealização na parceira, caracterizando-a como aquela cujo enorme coração lhe garantirá a paciência e tranquilidade necessária para que ele permaneça no núcleo "cafajeste" da sociedade , sem maiores cobranças. Implicitamente, o homem pós moderno atribui toda culpa disso a mulher "VOCÊ disse que me quer, VOCÊ fica louca de saudade, Já vi esse filme (isto é, já fui enrolado por OUTRA mais esperta que VOCÊ ).

...

Eximindo-se de qualquer responsabilidade enquanto "casal", ele ludibria a mulher (do primeiro ao último verso, em todas as 345 repetições), construindo um texto fraco do ponto de vista formal, apresentando inúmeras incoerências, clichês e tautologias, cuja mensagem final poderia se resumir em:

1) "Não quero ser um mal na sua vida" = Não quero compromisso.

2) "Nosso caso vai eternizar" = Não quero compromisso.

3) "Eu não quero ver você chorar" = Odeio ser cobrado e não quero compromisso.

4) "Deixa que o amor encontre a gente"= Não quero compromisso.

5) "E você tá me ajudando a superar" = Você é gostosa, mas não quero compromisso.

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