quinta-feira, 8 de março de 2012

Quando me vi mulher (para minha mãe e "Tia" Isaura).


Não sei quando me dei conta de que era mulher. Não foi quando nasci, tampouco quando tive a menarca ou o primeiro amor. Fui um menino gay por muito tempo, daqueles quem colecionava papel de carta, mas preferia os jogos de "lutinha" no Atari 1930 e comprava os bonecos e mangás dos Cavaleiros do Zodíaco. Não tenho paciência para comprar roupas, odeio frescura de mulher (embora seja uma fresca enrrustida), alimento-me ainda hoje com um "prato de pedreiro" - fato que horroriza as minhas amigas mais damas; sou desorganizada, gosto de cerveja, do gosto da cerveja - falo palavrões em excesso e confesso que algumas mulheres são gostosas sim (isso não é de modo algum machismo. Sou louca pela Penélope Cruz, Ana Paula Arósio e Scarlett Johansson). Entendo certos comportamentos masculinos - desde que não cometidos para comigo....E, sobretudo, preservo mais amizades com homens (embora esse quadro tenha se modificado com o tempo).
....
Não consigo, como a maioria das mulheres, fazer duas coisas ao mesmo tempo. Não uso cremes (mas passarei a usá-los em breve, os anti rugas), meus cadernos escolares nunca foram os da Hello Kitty e detesto - sim, detesto! - ir à manicure e ao cabelereiro, só o fazendo quando em situações extremas, tipo: casamentos, formaturas, ou quando a unha do dedo mínimo do pé esquerdo já está a ponto de cair.
....
Só me dei conta de que era mulher no dia em que percebi que não precisaria corresponder à lista acima para sê-lo. Dei-me conta de que sou mulher quando notei que havia em mim - mais que um útero - um desejo universal pela maternidade. Não a maternidade prática (porque não é preciso ser mãe para legitimar-se mulher), mas uma maternidade instintiva, como quando se vê um cachorro na rua e tens vontade de dar-lhe a vida por um instante.
...
Dei-me conta, por fim, quando um dia falei a meu pai: " É...Pai, me ajuda a escolher um anticoncepcional?".
....
Porque ser mulher...não é um fado, senão um dom, independente das orientações e estereótipos.
....
Sou mulher até debaixo d'água.
....
Parabéns a nós mulheres que menstruamos e ainda assim sobrevivemos.....Que levamos pés na bundas, somos chifradas por filhos da puta que trocam de namorada como roupa, e ainda assim trabalhamos com bom humor. Que temos câncer de mama, câncer de colo de útero e, AINDA ASSIM, lutamos, caminhamos, amamos: geramos vida.
....
Um beijo a todas as minhas amigas mulheres. Principalmente a minha mãe que, na falta de opção, escolheu por me dar a vida. E à "tia" Isaura, por ensinar-me a etiqueta das ladies. Amém

2 comentários:

  1. Super beijo! Sempre ótimos textos no seu blog. Parabéns pelo nosso dia! Beijos

    ResponderExcluir
  2. Estou adorando o seu Blog ; ))
    Parabéns pelo o dia de ontem - é, já passou da meia noite... rssss

    ResponderExcluir