domingo, 4 de junho de 2017

DAS FLORES DE PLÁSTICO


Caríssimos Leitores,

Hoje fomos minha mãe e eu ao cinema assistir à Cabana (Stuart Hazeldline / 2017). Ela, não familiarizada a filmes e séries, emocionou-se e até chorou, o que me deixou comovida por um lado. Porém, o que tenho de emocional para a vida tenho de racional para a Sétima Arte. Achei "A Cabana" um grande clichê, muito apelativo em relação à espiritualidade (e olha, leitor, amo filmes sobre a ligação do homem com o divino, tipo Ben-Hur/ Timur Bekmambetov/ 2016). 
Além de muito previsível. 

O protagonista, Sam Worthington, pareceu-me pouco expressivo a partir da segunda parte do longa. Já a queridinha Octavia Spencer arrasando sempre! Fantástica!

Bem. Ao mesmo tempo, senti pela primeira ou segunda vez na vida um medo-medonho de morrer só. Sem um companheiro, filhos, amigos, família (pois sou filha única de únicos pai e mãe). 

Um dos meus sonhos sempre foi o de construir a minha família. Lembro-me desse desejo quando viajei para...Ou São Paulo ou Belo Horizonte (morando ainda em São Paulo) e o confessei a uma senhora, dessas que gostam de conversar em viagens longas (hoje já não tenho paciência, prefiro dormir em viagens e o faço muito bem). Disse-me, ao despedir-se:

- Boa Sorte na vida! Que você consiga construir a sua família!

Muitas vezes pensei estar na linha reta, mas me chega a ventania destruindo todos os pilares. Talvez fossem fracos os pilares. Ainda assim era quase tudo no que cri. Por isso o medo sentido.

Ao tomar o ônibus para a minha casa, conversávamos com uma mulher extremamente simpática, culta, politizada, budista e interessante. Aparentava 42 ou 45 anos. Parecia-me, contudo, uma pessoa só. Da esquerda petista até a vida após a morte falamos e, entre coisa - outra, disse-me que não teve filhos e irá morrer só.

Ora, todo o homem nasce e morre só. Mas eu queria, como uma espécie de Ars Moriendi medieval, ter em meu leito final no hospital (amo hospitais), a minha família, o meu companheiro (sou heterossexual. Por essa razão uso o termo companheiro.  Mas, poderia ser "companheira", a mim não faz diferença exceto pela orientação sexual que tenho. Embora ache mulheres - cis ou trans - mais honestas, leais e compreensivas quanto às dificuldades do amor e da convivência).

Já "fiquei" com vários meninos-homens. Tive cinco amores da "minha vida", nem todos namorados (dois platônicos, aliás: Um deles é o Taylor Hanson, risos...). Um pseudo namorado que muito me marcou na adolescência e, depois, outros quatro namorados, nem todos amores: Alguns eram apenas gostares - sendo o último Amor, um companheiro ou marido se quiserem rotular. Eu não gosto de rótulos. 
Eu gosto ainda é do amor leal e eterno.

Portanto, o filme, a mulher perfeita mas tão sozinha naquele ônibus de todos os dias, as flores naturais vendidas em uma grande rede de supermercados...Tudo me deu a sensação de que vou, fatidicamente morrer só. O tempo passa, a beleza passa, a vida passa... E seria para mim a pior perda de todas. A de não construir uma família. Também quero viajar o mundo, aprender mais sobre experiências e seres humanos; visitar outros países até por períodos mais longos; especializar-me em tradução, escrever um livro... Sou uma mulher moderna com um pé, não dois.

Tudo isso quero: Embora precise de uma família para chamar de minha. Gostaria, ao menos. Não há contradição nisso, acreditem!

Que o Deus trino de "A Cabana", em sua benevolência, ouça, isto é, leia a minha prece.

PS: Meu Doutorado em Literatura e Tecnologia é sobre a representação da Morte na Literatura Contemporânea. Daí a recorrência do tema. Compreendam o meu recalque, com carinho e Boa Noite! (abaixo, mais uma canção...)

Flores (Titãs, Marisa Monte)

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro

Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem

Olhei até ficar cansado
De ver os meus olhos no espelho
Chorei por ter despedaçado
As flores que estão no canteiro

Os punhos e os pulsos cortados
E o resto do meu corpo inteiro
Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo

A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores têm cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem
Flores
Flores

As flores de plástico não morrem...

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