segunda-feira, 15 de novembro de 2010

7° SEMINÁRIO DA PASTORAL DA JUVENTUDE!

Querido Leitor,

Pra periferia? pânico? pólvora? pá pá pá!

(GOG- Brasil com P)

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Fazendo uma leitura sincera dos meus vinte e cinco anos de vida, afirmo a vocês que existem apenas 4 coisas nesse mundo pelas quais sou capaz de chorar horas a fio. Sim! há inúmeras outras situações que eu poderia citar; mas, falo aqui sobre um conjunto de fatos imutáveis, "imperecíveis" e extremamente simples, desses que todos trazem nos capítulos obscuros das perfeitas biografias que inventamos para a posteridade! Porque: Há coisas na vida que mudam quando nós menos nos damos conta; contudo, há inúmeras outras resistentes às mais poderosas transformações, visto que nem toda mudança é permanente em si mesma. São essas:
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A) Especiais do Roberto Carlos (os de fim de ano): Faz cinco anos, querido leitor, que criei o estranho hábito de chorar nos especiais do "Rei"....fico emocionada com aquela tríade belíssima: "hoje eu canto as canções que você fez pra mim"/ "Você foi o maior dos meus casos...de todos os abraços..."/ "Por isso corro demais". Quando ele fala da Maria Rita então, sou toda pranto!
B) Injustiças. Todas: Desde a cadela morta por um imbecíl, passando pela homofobia, fanatismo religioso, exclusão social...e etc...etc....
C) Novelas Mexicanas: Sabem o capítulo em que a mocinha retorna do exterior rica, maravilhosa, casada com um milionário e se vingando de todos aqueles que compactuaram para sua infelicidade? A-D-O-R-O! Choro de raiva quando de nada adiantaram todas aquelas "mudanças"; ela sempre acaba, por fim, se deixando levar pela lábia do guapíssimo, porém cafajestíssimo, Fernando Colunga.
D) Seminários da Pastoral da Juventude.
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Neste feriado, a Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Mariana realizou o seu sétimo seminário. Tendo como centro a campanha "Chega de violência e extermínio de jovens" - também promovida pela PJ, em âmbito nacional, o evento teve como pauta atividades que proporcionaram à juventude de Mariana momentos de reflexão, animação, e, sobretudo: momentos de leitura.
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Leitura? Sim: leitura de vidas, leitura de mundos, leitura de realidades diferentes daquelas que conheciamos, mas que aprendemos a ler e gostar quando estamos diante do outro e do universo que ele é. Gosto desses eventos de maior "convívio", assim como muitos jovens que conheço, dos grupos de base ou não: muitas mudanças importantes são iniciadas nesses seminários, através das sementes que plantamos...
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HIP HOP
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Tive a oportunidade de assessorar uma oficina sobre Literatura e Hip Hop. Com o auxílio do Carlinhos - gente boníssima e profissional mais que competente, vivi uma das experiências mais importantes para a minha formação como pessoa, profissional e qualquer outra coisa que eu puder vir a ser.
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Há tempos tinha o desejo de trabalhar letras de rap a partir de uma perspectiva literária, devido a um projeto com o qual tive contato recentemente. Embora não tenha vivido na pele muitas das temáticas trazidas pelo rap, identifico-me e gosto muito. Aliás, quando morava em São Paulo, muitos dos meus amigos ouviam rap, dançavam, eram DJ´s: foi neste período que tive contato com o movimento, ainda que de leve, por tabela.
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Mas a minha perspectiva era outra: a leitura, claro! Identificar no rap recursos literários, de modo que poderíamos conceituá-lo como literatura marginal. O rap tem idéia (conteúdo-denúncia), música (rima-forma), imagens;elementos que, para alguns teóricos literatos, são o que fundamentam os textos de poesia. Claro que não queria dar uma aula de literatura: o objetivo era apenas mostrar, instintivamente, a semelhança de textos que, embora de tempos e universos distantes um do outro, são passíveis de conviver dentro da palavra-arte. Outro ponto do movimento que fora trabalhado é a dança de rua, tendo em vista a ídéia de arte que é marginalizada por ser da periferia, mas não menos importante ou bela que a clássica.
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Bem. Ao mesmo tempo, reconheço que em se tratando de "arte", muitas das expressões populares só são reconhecidas e valorizadas quando "aprovadas" pelos acadêmicos, nós, que não temos o menor gabarito de falar de algo que não vivemos em profundidade...Atualmente, muita gente de letras têm se interessado pelo rap a partir desse enfoque "literário": acho bacana a perspectiva, porém, o fato é que só quem vive o rap é que sabe falar de rap....Mas, se consideramos a hipótese de que rap é um tipo de literatura, e que literatura, como já dizia Aristóteles, é universal ....posso ser tocada pelo relato de um MC, de um trovador medieval, ou de um repentista como qualquer outra pessoa.
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Acredito que a nossa oficina atingiu sim o seu objetivo: Apesar d'eu estar sem voz, em função de ter me deparado com uma turma de 15 jovens "hiperativos", dentre os quais apenas 1 se interessava de fato por literatura/leitura, tenho para mim que os outros 14 estavam redondamente enganados sobre a imagem que tinham de si mesmos: Nossa turma, bastante heterogênea, era formada por bons leitores, mas que ainda não haviam "atinado" pra tal! Digo isso porque qualquer leitura literária, fictícia, litúrgica, ou sei lá de que tipo, deve passar primeiramente por uma boa leitura do outro em sua diferença. Ler o diferente, e se emocionar com aquilo que não é nosso, mas que poderia ser e nos toca, automaticamente faz de nós bons leitores de mundo.
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Quanto à dança de rua....é claro que eles também arrasaram!
Confete à parte....percebi, por fim, que os assessores na verdade não eram eu (o Carlos sim, obviamente). Nossa turma trazia meninos já do movimento, e também meninos que, embora não o conhecessem, também se sentiram tocados pela denúncia, rima, imagens...beleza, da mesma forma que eu. (resumindo:esse povo da academia às vezes cisma em ensinar o padre nosso ao vigário...).

SINOS
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Engraçado foi perceber que não estávamos nada distantes. Jovens haviam sido responsáveis pela ornamentação do espaço, pela liturgia, pela metodologia do seminário; também escreveram sobre o evento em suas oficinas, da mesma forma outros jovens optaram pela dança, ou pela discussão "social" nas mesmas; sem contar outros tantos que não queriam nada com nada e usavam o horário das oficinas para simularem uma prolongada ida ao banheiro...
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Jovens que se conheceram no seminário, como se já fossem amigos de longa data; desses amigos que fazemos, no final, sempre descobrimos um ou dois que se tornam os "melhores', os irmãos. Muitos peguetes, ficantes, rolos se formaram, assim naturalmente; muitos desses "profundos" amores não passarão de amigos de orkut e nicks de MSN...não sobem a serra! Outros porém, levarão a longos namoros, que darão errado ou não.
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Muita meninada dançando loucamente, gritando, fazendo festa; e também outra meninada mais quietinha...pensando na morte da bezerra, imaginando se aquela pirigueti tá ou não tá de olho no meu peguete.....
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Muita gente dormindo cedo, acordando cedo, levando todos os materiais para todos os momentos, seguindo todas as regras; e claro...muita gente fugindo pro barzinho, driblando a coordenação e namorando escondido....e etc....etc.....
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Gente que adorava falar ao microfone, fazer show, fazer bonito; outras gentes que faziam bonito consigo mesmo, em silêncio, secretamente.
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Como disse, engraçado foi perceber que não estávamos nada distantes. Já passei por todas as situações citadas acima: de um lado ou do outro. E não será essa a graça? Enquanto assistia à plenária de avaliação, reconheci-me em uma jovem quem representava sua oficina, partilhando a experiência de missão: o jeito de falar, as gírias "tipo isso...tipo aquilo....", o modo meio "desastrado" de se expressar, mas um desastrado que toca. Quando eu era mais nova, há seis anos, acho que fui um pouco assim! Engraçado esse espelho que a Pastoral também é...continuidade...semente.
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Enfim....um feriado especial, cheio de boas sementes, boas mudanças, bons encontros, boas idéias, boas certezas....e boas leituras!
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Fica a saudade, que faz com que a gente amplie um pouco mais a nossa capacidade de memória; esta que é fundamental para se tranformar uma história....seja de amor, de denúncia, de teatro, de dança, de oração; história em verso ou em prosa.
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"Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.
[...]
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
(Fernando Pessoa).
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OBS: Gostei muito do barulho de sino, ecoando na casa paroquial (eu amo barulho de sino!)
OBS 2: CHEGA DE VIOLÊNCIA E EXTERMÍNIO DE JOVENS!

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