terça-feira, 29 de março de 2011

Engoli o orgulho, saltei o pedregulho, resolvi o marulho, comi o sarrabulho, escrevi o bagulho, de beca eu tô em julho: Diário de uma Formanda.I

Querido leitor do nosso Sofia de Buteco,
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Hoje damos início a mais uma coluna do nosso pseudo buteco virtual, cujo nome é:
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Engoli o orgulho, saltei o pedregulho, resolvi o marulho, comi o sarrabulho, escrevi o bagulho, de beca eu tô em julho: Diário de uma Formanda.
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Bem. Tratar-se-á de uma coluna talvez semanal, talvez não, talvez quinzenal, talvez não, talvez diária, talvez não, cujo intuito é o de partilhar com vocês, queridos leitores e curiosos desavisados de plantão, um pouco da minha trajetória como possível formanda no curso de Letras pela Universidade Federal de Viçosa, em julho de 2011...(ai ai ai Sofia...Já começou a monografia?). A idéia é de narrar um pouco do meu sofrimento diário, minha auto sabotagem de todos os dias, minha auto flagelação psíquica e situações pelos quais todos os estudantes de Letras hão de passar um dia, cedo ou tarde: expectativas, monografia, festas, anseios, angústias, concursos, mestrados, primeiro dia como professor pós formado, primeiro baixo salário, primeiro desencanto com o regimento interno das escolas estaduais e municipais do país, primeira vontade de chutar o balde e mandar tudo à PQP, primeira caricatura feita por um aluno sacana (tal qual você aos quinze), primeira carta de amor recebida daquele aluno nerd fofíssimo, primeira greve, primeira mobilização, primeira crise pós acordo ortográfico ainda não aprendido, primeiro dia de aula do mestrado, primeiro dia como recém milionária após anos de escravid...ops! isto é, aulas no sistema público e privado, sem vida, sem família, cachorro, filhos, cachorro, família, filhos....e por aí foi-se.
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Comçaremos então nossa mais-que-emocionante-narrativa pelo capítulo I, obviamente:
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Capítulo I, obviamente: A Criação.
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No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Após criar os monstros marinhos, Deus criou Adão e Eva a sua imagem e semelhança. Após meses no paraíso, Adão e Eva têm a primeira DR (pode-se dizer que o casal divino foi precursor das DR´s modernas que se tem hoje...), no dia em que Eva descobriu a traíção de Adão com sua irmã Lilith (manteremos a ambiguidade na construção, intencionalmente, haja vista o incesto ter sido uma prática usual e necessária naquele tempo). Daí a necessidade da superdotada serpente, pensou Eva, a fim de se vingar do marido. Pouco tempo depois, entre a reforma Paradisíaca e a chegada do anti -Cristo (com ou sem hífen?), Deus criou uma leva de homens e mulheres em Minas Gerais, dentre os quais estavam Maria Francisca Lopes (ainda não Freitas), e Raimundo José Bijos de Freitas, meus pais.

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Sobre amor e medo. Minha mãe mudou-se para a cidade de São Paulo após o término de um relacionamento que muito lhe marcara (daqui emana a minha veia passional), enquanto meu pai também mudou-se para a terra da garoa por um motivo qual nem o próprio conhece, ou nunca revelou-me...(daqui emana a minha veia bipolar). O fato é que meu pai sempre foi e ainda é apaixonado pelo Rio, fixando-se em São Paulo por motivo inexplicável...
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Encontraram-se. Após a greve dos anos 70...(meu pai era do sindicato, conheceu o Lula, tomaram cachaça juntos), resolveram se casar, por amor, ou medo da solidão, ou ambos. Tempos depois, nasci, no dia 10 de novembro de 1985, às 17:15 de um domingo (chuvoso, claro).
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Desde pequena, o "fantasma Viçosa" assombrava meus dias. Sendo minha mãe da cidade de Canaã, localizada nas proximidades de Viçosa, Minas Gerais, cogitou-se desde os primórdios que nos mudássemos para Minas assim que meu pai conseguisse sua aposentadoria, tão aguardada, ainda que precoce. Por que Viçosa? Meus pais sentiam a necessidade de envelhecer num lugar tranquilo, mais acessível financeiramente que São Paulo e que simultâneamente pudesse me oferecer a possibilidade de continuar os estudos, de modo que também estivessem perto dos demais familiares. Dessa forma, no dia 02 de agosto de 2004, por volta das 8:00 da manhã, desci daquele ônibus, naquela rodoviária horrenda, querendo morrer e matar. "Pai, quero morrer e te matar!" - disse Amanda aos 18, quase 19.
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Mas a vida recomeça e passo no vestibular para Letras no ano de 2006. Por que Letras? Porque gosto de escrever e porque havia estudado inglês. Também porque o ponto de corte estava mais baixo naquele ano, em comparação com a História, minha paixão. Sempre gostei de Literatura, mas sempre li pouco, preguiçosamente pouco. Logo, Letras não foi, tampouco Literatura, uma paixão à primeira vista, mas sim à quarta, quinta ou sexta - como uma paixão que nasce inexplicavelmente entre você e qualquer pessoa até então conhecida e sem sal, mas que transfigura tudo a que dá sentido. Ainda naquele ano,prestei vestibular em São João del Rey, Psicologia. Em 2004, Jornalismo, já na UFV. No ano anterior, queria ser oncologista. Em anos anteriores, bailarina clássica. Ainda antes, jogadora de basquete. Ao longo de toda infância, cientista. Por volta dos quatro, padre. Uma coisa imutável foi escrever, como droga que me acalma e traz felicidade. Sempre foi. Escrevo mal, sei, e por isso aprender a escrever foi talvez o motivo principal d'eu estar ainda aqui, na Zona da Mata Mineira.
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"Recebi" o trote dos meus amigos da Pastoral da Juventude, do Grupo JA. Também participei do nosso trote oficial, morrendo de vergonha, com uma vontade insuportável de sumir. Antes disso, lembro de ter ido a um rodízio com os novos amigos da Letras, onde conheci, entre outras pessoas que se tornariam especias (...porque essas coisas são misteriosas mesmo) uma menina chata e ruiva que mudaria minha vida...(falaremos disso em outra ocasião).
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Antes de que tudo isso acontecesse, cheguei por aqui almejando ser freira...( tenho sim uma veia religiosa, fruto do meu parentesco direto com Eva e Lilith). O que me salvou dessa antiga sina, a que realmente "encarnei" durante os anos de 2002 até o dia 18 de outubro de 2004, foi uma série de encontros misteriosos que se sucederiam a partir de novembro daquele ano: Leandro, Patrícia (meus grandes amores) e a Pastoral da Juventude. É nesse momento que encontro uma experiência de fé compatível com valores que tinha na época (os quais ainda tenho, em sua maioria), o que possibilitou uma reformulação da minha noção de "causa". É também aqui, por intermédio dos meus primos supracitados, que dou início a minha vida mais leve, mais jovem (porque até então estava muito presa a acontecimentos não muito felizes, os quais citaremos posteriormente): Leão, república, Leão, república, Leão, república, Leitão**, Leão, república, S(BG)**, Leão, república, M**, Leão, república, J****, Leitão, república, A*,B*, C*, D*, E*, F*, J*, H*, I*, G*...
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O gosto por cerveja e cachaça já trazia comigo da adolescência. Seria provavelmente uma freira/missionária cachaceira e com um pé na umbanda, no candomblé, no espiritismo kardecista, no judaísmo e outras expressões, bem como militante do movimento contra a homofobia e em prol de cuidados para com jovens em sistema/regime carcerário - temas pelos quais sempre me interessei. Também sempre me gostei (OLHA O ATO FALHO AQUI GENTEENNN!!) dos desiquilibrados e acredito, no fundo, que a serpente de Gênesis é na verdade outra face de Deus (já acreditava nisso antes de ler Saramago...).
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Voltando. Chatas foram as primeiras aulas. Com passar do tempo, adquiri uma espécie de tique nervoso ao ouvir as palavras "conhecimento prévio", "conhecimento de mundo", "inferência". Aristóteles, que não passava de um semi Deus grego pra mim, até então, e Odisseu, cujo nome me remetia àqueles filmes pieguíssimos exibidos pelo SBT, tornar-se-iam parte da minha vida ad eternum. E a pergunta que não quer calar: "O que é Literatura?".
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Sobrevivi.
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Quer saber mais? Confira a próxima postagem de:

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Engoli o orgulho, saltei o pedregulho, resolvi o marulho, comi o sarrabulho, escrevi o bagulho, de beca eu tô em julho: Diário de uma Formanda.

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