sábado, 15 de janeiro de 2011

Releituras e recaídas

*A Cair. Rui Soares.
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Tive uma re-re-re-recaída esses dias. Talvez ontem, não lembro.
Voltei a fumar, e não podia. É isso.
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Mas os dias têm sido bons.
Gentes interessantes. Encontros interessantes: outras vozes.

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Ainda assim, atire a primeira pedra quem nunca teve uma re-re-re-recaída! Todos nós as temos, embora não signifiquem nada; apenas, o reflexo da nossa incerteza e medo de errar.
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Tenho tanto medo de errar...embora sempre sobreviva, após.
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Pode ser que deixando de fumar eu fique ainda mais ansiosa....falte-me alguma coisa. Então aderi, deixei-me levar, que seja, que passe, passando...passou.
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Tenho estudado muito...pouco esses dias. Mas um pouco que me satisfaz, em se tratando de uma pessoa como eu, essencialmente inconcentrável. Desligo a música, na tentativa de me concentrar ainda mais, ler ainda mais rápido e com mais engajamento. Que tentativa tonta esta minha, contudo: a música está dentro de mim, dentro da alma.
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Mato-me?
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Não posso. Se morrer hoje, assim, pelas minhas mãos...o que seria da minha alma? Em que corpo ela poderia ser ela, ser parte, ser todo? Não posso pensar só em mim....preciso pensar também em mim.
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Minha alma diz: - Não faça!
Vou lá e faço. Faço porque temos um trato, acordo tácito entre mim e ela: afirmamos pela negativa, como tantos de vocês.
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Frustro-me com pouco. Vontade de ser um mosquito e poder estar em qualquer lugar, a qualquer hora e custo.
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Não me conformo com o dito. Preciso do olhar, do ver, aprendo pela visualização.
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Quando leio um livro - Saramago por exemplo, o qual estou re-lendo - para me concentrar, ouço ao fundo um fado ou uma música dramática que me ajude a visualizar as imagens. Sou uma pessoa quem precisa de afeto, também no trabalho, para ligar-me completamente a ele. É como se fosse uma forma de respeito para com o livro: se é para me entregar...que seja por inteiro.
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As poucas páginas que já re-li são cheias de fidelidade, garanto. Mas, o tempo, não esse que chove, mas o que inexiste, é muito cruel. Não tenho mais tempo para tanta entrega...é preciso que eu seja infiel; que eu dê uma passada de olhos por aquele texto, mas pensando em outros textos que estão por vir.
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Não há música que me dê fidelidade hoje.
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Chove. Mas talvez uma saida mais tarde me faça bem amanhã, quando acordar disposta a me entregar a outros textos.
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As re-re-re-recaídas acabaram. Mas persiste o gosto amargo do cigarro, na boca, que me faz pensar...e pensar.....no porquê do não estarmos.
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De qualquer forma, os dias têm sido bons.
Gentes interessantes. Econtros interessantes: outras vozes.

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Não me matarei.
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Boa Noite!

2 comentários:

  1. Não tenho palavras pra comentar o texto, simplesmente adorei...eu te entendo...as recaidas são terriveis, acabam com a gente, ainda assim vivemos...bju

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  2. Pois é menina....só servem pra f** com nosso bom humor! haha

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