terça-feira, 4 de maio de 2010

Tecer e Destecer...

Tece-se ao entardecer; destece-se com o amanhecer...
Constrói; desconstrói ...
Oi...Claro...Tim....
E-S-P-E-R-A-R!
- Cansei desse complexo de Penélope!
O problema é que não sei me livrar dele: eu sou a espera e o atraso; o enrolar e a expectativa; o chegar e o desencontrar; a assincronia temporal passada e futura; a sorte e a "merda".
É como descobrir que uma banda que você gosta muito fará um único show na sua cidade, mas seus amigos o avisam de última hora. Mesmo assim, você vai para fila do show e fica lá, à espera de um ingresso para esta última apresentação dos sonhos. Ás vezes você consegue; e consegue um dos melhores lugares; mas, muitas vezes você não consegue, e o ultimo ingresso é vendido para a pessoa quem estava justamente a sua frente. Você o vê ser vendido e isso dói muito: o presenciar das coisas....(melhor seria se não houvesse mais ingressos quando você chegou na fila do show...).
Mesmo se você consegue o tal ingresso para o show, o desgaste que você suportou enquanto estava na fila fora tão grande que você passa a questionar o valor de tudo aquilo: horas sem água, pressionado por inúmeras pessoas, cansado, sozinho, sem dormir, sem tomar banho (a menos que você resolva tomar banho no posto de gasolina ao lado, como eu fiz em 2005..), sem comida. A verdade é que você sabe que nunca vai conseguir aproveitar o show por completo, mas...ainda assim, conforma-se com a metade das coisas, submete-se a tensão do esperar. Enquanto o faz, na fila, pergunta-se: "o que poderia ter sido se eu tivesse chegado antes?"
Esta é a pergunta de Penélope: "O que poderia ter sido se Ulisses não fora para Tróia?" ou ainda: "O que poderá vir a ser se eu me casar com outro pretendente, pressionada por meu pai?", ou então: "O que poderá vir a ser se eu tecer e destecer....esperando pela volta de Ulisses?"
- O que poderia ter sido se ele tivesse chegado antes....
Se você tivesse chegado antes, se houvessem te contado antes sobre o show, ou se você fosse mais esperto, você teria se preparado melhor: compraria o ingresso com antecedência, faria uma faixa, uma camiseta, chamaria seus amigos, faria um "esquenta" na casa de algum deles...(porque aqui em Viçosa, tudo requer um "esquenta"). Mas não deu tempo: você foi avisado de última hora, mais uma vez....
E sempre atrasado...sempre atrasado....das aulas do seu estágio até a própria festa surpresa que seus amigos fazem para você - sempre na tensão entre o chegar e o não chegar, entre o ser escolhido e o ser rejeitado.
Não quero mais esperar pelo incerto, sabe? Se meu Ulisses ainda fosse o Javier Bardem, eu até esperaria.....feliz...("nu....").
Mas meu Ulisses não é o Javier Bardem e tão pouco se parece com ele:
Meu Ulisses não passa de mim mesma e das minhas projeções, a minha expectativa diante do outro, a minha idealização do que pode vir a ser. Isso é muito cruel.
"O que pode vir a ser" não é real;tão pouco é real "Aquilo que poderia ter sido".
Nós, seres HUMANOS, perdemos nosso tempo e pessoas especiais porque nos prendemos nessa complexa colcha de tricô, que na verdade não tem fim, não tem ponto final, porque não passa de projeções angustiantes que são alimentadas pela ausência, pelo dificultoso, pelo mito, pela morte, pela perda, pelo ego - nem sempre são sinais de amor ou "gostar" (ás vezes sim, claro).
Acredito, apesar do que disse acima, que há um fundo de espera nas pessoas: porque se não fosse assim, a TILIBRA PRODUTOS DE PAPELARIA LTDA já teria falido há muito tempo; afinal, para que servem as agendas que compramos, se não para nos enchermos de compromissos que mal sabemos se poderemos cumprir? é a própria comercialização da espera!
Sendo assim, penso que o ideal é aprender a esperar, sem necessariamente acomodar-se com a espera.
Aprender a esperar pelo ônibus, mas não sentado no "ponto", sozinho e triste: é preciso caminhar, correndo o risco de ser presenteado com uma carona, ou com quilos a menos que você vai perder durante a caminhada.
Ontem a minha projeção, que estava lindíssima-lindíssima, me chateou muito, sabe? muito mesmo...Queria dizer isso para ela, dizer que ela me chateou, que foi fria, que foi nonsense....mas, se a projeção sou eu, eu já devo saber disso, não?
Minha projeção só pensa no seu conflituoso mundo; não por egoísmo, porque ela não é egoísta , visto que sou eu mesma; mas por distração...por excesso de excesso, excesso de "eu". Minha projeção esquece-se que o "eu-Amanda" tem vida, que também traz a sua carga de dificuldade consigo.....
Na verdade, talvez minha projeção tenha dado indícios de desprojetar-se; mas, eu quis não ver....
Minha projeção estava se achando ontem....- isso é fato! e eu, derretendo-me, piegasmente falando. Ainda bem que hoje é o dia seguinte, quando nos julgamos melhor.
Hoje eu escolho tecer a colcha. Amanhã, talvez eu fale com ela. Hoje não.
E você, leitor indeciso?? Vai tecer ou destecer??
Comente!
.........
Observação: Quanto a Penélope Cruz, gatíssima, não? se eu fosse homem, pegava fácil...

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