terça-feira, 16 de maio de 2017

POST QUASE LITERAL

                                                                 Fonte: http://animais.culturamix.com/informacoes/insetos-e-aranhas/tudo-sobre-as-cigarras




Hoje por volta das 13 horas, ocorreu-me algo curioso e literal. 

Ao chegar na instituição em que faço meu primeiro ano de Doutorado, direto do novo trabalho e após vinte minutos caminhados (ambas as  instituições ficam muito próximas dependendo da direção escolhida a se fazer), almocei e me deixei alguns minutos sem pensar em nada, apenas observando a paisagem natural-tecnicista na qual estava.

Coloquei-me próxima do estacionamento, como normalmente faço, esse que tem ao lado um lindo jardim. Foi quando, estranhamente, ouvi bem de longe o canto de uma cigarra.

Para quem não sabe, sofro pânico de certos insetos, como a barata e a cigarra. Por sorte, nesta temporada vivendo só, tanto uma quanto a outra nunca apareceram em minha casa estando eu sozinha, diferente do que sempre me ocorria em Viçosa, seja em qualquer uma das casas onde estivesse ou até nas salas de aula da Universidade Federal ou dos caminhos daquela cidade.

A diferença é: Enquanto de uma barata sinto horror e medo, de uma cigarra sinto-os também, mas sempre-sempre achei lindo o seu canto, isto é, aquele som por ela produzido e que em coro me provoca uma espécie de hipnotismo. Isso sucede geralmente no fim do ano, com a chegada da Primavera, cujas razões poderiam ser românticas se não fosse esse um post de caráter quase literal.

Pois bem. Estamos na metade de maio e ouvi o canto (nesse caso, sussurro) de uma única cigarra. Apenas uma possivelmente. Achei o momento tão extraordinário que perguntei à mulher que fumava ao meu lado se estávamos em época de cigarras em Belo Horizonte. Sua resposta me serviria como uma fantasia de Coleridge ("...Alguém sonha que atravessa o paraíso e lhe dão como prova uma flor. Quando ele acorda, ali está a flor". (BORGES, 1975).

- Acho que não. Elas aparecem mais pro final do ano, tipo Outubro.

Durante sua resposta, o canto já diminuía ou talvez nunca houvesse existido. É possível que esteja lendo demais, esses dias, contos fantásticos e falado excessivamente deles. 

Mas a natureza tem seus mistérios e não descarto a possibilidade de que naquele pequeno jardim, ou em alguma árvore nas redondezas, houvesse de fato uma cigarra e seu canto. 

Falando em mistérios da natureza, creio que tenho envelhecido muito nos últimos tempos, porém meus novos alunos sempre se surpreendem quando lhes conto a minha idade: "Mentiraaaaa... Pensei que tivesse uns vinte e dois"; "Sério? Minha irmã tem vinte e seis, então pensei que tivesse vinte e sete."

Pequenas cigarras... Quando juntas amedrontam, mas produzem ao mesmo tempo, sozinhas ou em coro, uma bela cantiga. Estaria ficando mais jovem? Ou seria o meu jeito de lhes falar? Não conheço muito a minha própria natureza. Já tais comentários, ouço-os frequentemente e me alegram, confesso. 

Sobre o canto da cigarra, sozinha na árvore distante, fica  o mistério do acontecido. Sonhando eu não estava; acabara de almoçar e me preparava para uma aula de Literatura. Talvez a cigarra é que me sonhasse, mas não o sonhou rigorosamente. Sonhou, agora entendo, o impossível mês de maio.  


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