segunda-feira, 23 de maio de 2011

Amor em tempos de melancolia.

* Por Clara Calambur.
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Meus dragões sempre foram moinhos de vento. Quando criança, ganhamos um pé de coelho numa quermersse da igreja a qual frequentávamos, um inofensivo amuleto, pé de coelho! Pois tal artefato era motivo do meu horror e danação; dos 3 aos 8 anos, sempre que via o tal objeto tinha uma crise de pânico tão estranha, gritava, chorava, escondia-me do pé de coelho - tão branco - como se a presa fosse eu e o coelho sem pé, ou pé de um então coelho, o predador.
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Valorizo muito essa coisa de vida amorosa, até mais do que devia. Não acho que seja como muitas mulheres carentes (embora todos nós o sejamos) que atribuem ao outro a felicidade de suas vidas; não é isso. Também não acho que sexo seja tudo. Passo longos períodos sozinha, e o fato é que convivo bem comigo mesma, gosto de mim e da minha companhia. Mas a partir do momento em que você se interessa por alguém, apaixona-se, ama, ou diabos, e aquilo não pode dar certo por algum motivo karmico....aí sim, sinto vontade de inexistir. Não há nada pior que o peso das lembranças, da saudade, e daquilo que poderia ter sido e não foi. E a certeza de que no fundo você esteve ali sozinha, amou sozinha! Não faz sentido outra coisa que não isso: perder uma pessoa por comodismo circunstancial é muito sério. Só deixaria que isso acontecesse aos relacionamentos triviais, o que não me move o suficicente pra mudar uma cadeira de lugar.
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É a terceira segunda-feira que acordo mal. Tudo seria perfeito se eu não fosse eu, se não houvesse exigência, mas eu sou eu, e a exigência é equivalente ao valor das coisas. F*d*-s*.
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Espero que passe logo. "Meu amigo" precisa de um tempo pra se reorganizar das coisas que viveu ou acha. Homens sempre precisam dessas coisas, desde o princípio, como quando Adão disse à Eva após o episódio do fruto proibido:
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אני צריך קצת זמן. הדבר הזה מעל עם התפוח של האנרגיה שלי, אני צריך לחשוב מה אני רוצה או לא רוצה, עדיין לאיודע.
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Acho que somos tentados a nos encantarmos pelo proibido. O pé de coelho que me amedrontava habitava uma caixinha no fundo do guarda-roupas de minha mãe. Quando não tinha o que fazer, eu o procurava, apenas pelo prazer do medo. O proibido quando desnuda-se frente aos olhos, exigindo outro tipo de postura, compromisso, modifica-se: finda-se o desafio, a caça, a conquista. Um dia, dei-me conta de que o pé de coelho não passava de um pedaço alheio de qualquer coisa, insignificante e nulo. Ainda era ruim a sensação de tê-lo entre os dedos, tentadora, mas já podia evitá-la racionalmente, porque já havia ganhado-o.
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As pessoas, inclusive eu, perguntam-se sobre o significado dos sentimentos. A diferença entre um e outro. Já ouvi muitas definições de amigos, amigas, rolos, namorados; para mim, no entanto, hoje sei que cada um de nós sente as coisas de modo diferente, baseado nos outros lugares por onde andou, outras vidas que se viveu. Podemos nos apaixonar muitas vezes na vida, mas nenhuma é como a outra, porque cada indivíduo, tempo e relação é diferente e único. Há relações que nascem à primeira vista. Na idade adulta, vivi exatamente isso com um dos meus ex´s, aquela sensação arrasadora de que "é ele". Também já vivi relacionamentos baseados numa atração física e intelectual, admiração e respeito muito grande - o que eu denomino de "gostar", mas que acabaram em amizade; faltava-nos química, embora seja ele uma das pessoas, senão a melhor pessoa que eu conheci nesta encarnação (...e que está cada vez mais bonito...embora tenha namorada agora..hehe). E claro, por fim, há aqueles relacionamentos os quais você não espera nada...sabe que a pessoa não é aquilo que você busca, da uns beijinhos aqui e ali e acha que não vai se envolver, que não pode, que não sei que, até que de repente você se dá conta de que o fdp já é parte da sua vida.
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Parte, mas não todo. Ainda assim uma parte importante, como um dedo do pé, parte pequena do corpo. Conheço pessoas que nascem com dedos a mais, outras com dedos a menos. O que importa isso para o nosso texto? Nada!
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Conheci um rapaz outro dia que ficou com duas mulheres "ao mesmo tempo", numa festa. Perguntei a ele o porquê de ter feito isso, ele respondeu "estava bêbado, desculpe". Eu ficaria com esse cara, numa dessas festas, apenas pela sinceridade óbvia da sua fala. A gente tenta explicar certas coisas que acontecem por falta ou excesso de vontade, quando o simples seria mais fácil de compreender.
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"Carro apertado é que canta", poderia ter dito minha avó, embora nunca o disse. Seja amar, gostar, apaixonar-se, ou como diria Adão,
מין , importante mesmo é o sentimento que extrapola o abstrato, comprometendo-se com o objeto de amor. Sentimento real é aquele que move as coisas reais por falta de escolha, muda os móveis de lugar, constrói e olha na mesma direção. Qualquer coisa inferior a isso pra mim já não basta. Sim, existem as circunstâncias. Nunca poderei realizar um dos maiores sonhos da minha vida, infelizmente, que é ser padre, visto que nasci mulher, e a vida o quis assim, sabiamente. Também as circunstâncias temporais, como por exemplo, o fato d'eu não poder ir a um show do Carlos Gardel, porque ele morreu há setenta anos; ou, ainda, eu não poder me relacionar com um legítimo japonês, do Japão, pela impossibilidade linguística e de locomoção. Dessa forma, concluo que há sim casos em que as circunstâncias são mais aterradoras que os sentimentos.
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Enquanto não encontro o homem da minha vida, isto é, homem dos meus próximos cinco anos, alugar-me-ei para o dia dos namorados. Aceito presentes, dou presentes, chamo de meu bem, falo que amo, durmo de conchinha. Frat gratuito apenas para Viçosa, Belo Horizonte e região. Interessados? Deixem comentários.
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Bom início de semana, leitores melancólicos...(como Bardem em Amor em tempos de cólera, ou Darth Vader em Star Wars, que preferiu se render a filhadaputagem a suportar o peso da memória do que não deu certo).

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