quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

OS TRÊS PRIMOS VIRGENS....

*Amizade. Ana Catarina Neves.

A Leandro e Patrícia,
com amor...
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"Amizade só é real quando compartilhada"
(Dom Hélder Câmara - ACHO)

"Amizade é um amor que nunca morre"
(Tradição popular)
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Certo dia, ao atravessar uma das ruas de Viçosa, quase fomos atropelados por um carro desenfreado, mas que, por outro lado, acabara de nos servir como instrumento epifânico:
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- Não podemos morrer atropelados - disse um de nós - pois ainda somos virgens. Desde então, nasceu a trindade profana "Os três primos virgens do Gama".
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Quando mudei-me para Viçosa, não tinha ninguém a quem chamar de amigo. No primeiro dia de aula de um cursinho tal, sentei-me ao lado de uma menina-chata-faladeira-fofoqueira-e-tudo-de-ruim. Entra neste momento, sem razoáveis explicações, o que ainda chamo de "complexas coincidências que nos ocorrem", ou destino, ou Deus. Em menos de dez minutos, vim a descobrir que aquela garota se tratava de uma prima de segundo ou terceiro grau, cuja lembrança me remetia a um casamento acontecido no interior de Minas, onde ela, a tal menina-faladeira, usara umas botas muito estranhas para mim, até então paulistana e habituada às rasteirinhas e chinelinhos "remendadíssimos". Patrícia foi a minha primeira amiga neste lugar.
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Uma semana depois, eis que nos surge outro primo - meu primo de segundo grau; nunca havíamos nos falado, aliás, uma vez tentei uma investida quando visitei a casa de uma tia onde Leandro estava hospedado; porém, por timidez ou presunção (ainda não o conhecia tão bem para diferenciá-las), o rapaz mal falou comigo, restrigindo-se a um "Quero prestar vestibular para Educação Física". Isto se deu no meu terrível aniversário de dezenove anos. No mesmo dia.
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Nossa história começa em 2005.
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Ainda muito antes, muitos inimagináveis anos antes, meu "irmão" quem faleceu apontou-me ao longe para este rapaz, Leandro, ironizando (seu humor era tão ácido quanto o meu): "Vê aquele rapaz? É o nosso primo Leandro...sua irmã chama-se Leandra (a mulher mais bonita do mundo, de acordo com o universo de meu "irmão") e, o caçula deles, Leonardo...Ai! Que falta de criatividade a de seus pais!".
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Cerca de dez anos depois, reencontrei Leandro e, quatro anos depois da tal festa de casamento a que me referi, reencontrei Patrícia. Os três sob o mesmo teto, a fim de prestar o tal do Vestibular: Veterinária ou Educação Infantil; Biologia; Letras ou História (creio ser possível "adivinhar" as escolhas de cada um).
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Naquele ano, 2005, nossa amizade nasceu. Minha prima morava em república, meu primo sozinho; eu, ainda com meus pais. Porém, todos os dias nos eram de embriaguez, festa, alegria sem razão, aventuras, comédias, tragédias, ciúmes - tudo aquilo o que faz valer e fortificar uma amizade. Lembro-me que visitava minha prima diariamente. Eu era a "agregada" da república; quanto a meu primo, ainda hoje meu melhor amigo, encontrávamo-nos sempre, ora em sua casa, ora em minha casa, ora na sarjeta de qualquer esquina desta cidade.
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Minha mãe, nunca afeiçoada a visitas constantes e amigos "folgadinhos", tão prontamente os adotou como se ambos fossem-lhes filhos. E o amor assim quadriplicava-se cada vez mais, já que até meu pai, igualmente, adorava-os.
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Passamos por tantas coisas juntos....O meu ficante bicho grilo do Leão; as idas e vindas de Patrícia com seus "amores"; as descobertas e o jeito de Leandro - que já não me era pretensioso, mas sim tímido, das "timidezes" mais puras e bonitas que meus olhos já viram... (aliás, a que coube a mim, no quesito psique, subverter; e, a Paty, no quesito bom gosto para roupas e perfumes desenvolver. O resultado? Que homem gatíssimo ele se tornou!). Nossos primeiros porres homéricos, nossas primeiras brigas, nossas primeiras "viagens" sem deslocamento necessário...Muitas Histórias e estórias.
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Leão de segunda a segunda; bebedeira na casa da prima; macarronada com salsicha na casa do primo; por fim, novos amigos chegaram até nós (Marli, Lupita, Angélica, Rosária, "Leitão", Anderson, etc, etc...).
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Nunca fui tão feliz em Viçosa.
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O problema foi que não passamos juntos no Vestibular. Por conta disso, não quis o "churrasco de papai". Ingressei no curso de Letras em 2006; mas, Leandro e Patrícia houveram de esperar meses a mais...Leandro passou em Administração em Ubá; e, Patrícia, em Veterinária, um semestre depois de mim.
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Com passar do tempo separamo-nos, criando novas amizades, novos amores, antigos desamores; viagens, paisagens, maniazinhas, temperamentos diferentes: Novidades.
Transformamo-nos expressivamente: mas, a sintonia, a TAL DA SINTONIA nunca se perdeu.
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Patrícia, aquela menina cujo parafuso lhe faltava, transformou-se em uma mulher responsável, Guerreira, forte, pés no chão! Aprendeu a "engolir o choro"....É hoje uma das pessoas, senão a pessoa a que mais admiro em minha vida.
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Leandro,"o cão covarde", converteu-se num homem belíssimo (não por ser meu primo), inteligente e acima de tudo, Corajoso. Deixou tudo o que lhe era segurança para vir atrás de um sonho...(Lá embaixo, veremos se conseguiu o tal sonho ou não).
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Eu continuo Eu. Não posso falar de mim, assim, sem "eu lírico". Mas, há algo que mudou; ou, que está em processo de mudança. Só o futuro há de me dizer. Entretanto, de antemão, uma mudançazinha: Sofro,ainda, mas já não consigo chorar. Ou só o faço quando transborda, a dor, ao insuportável.
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Passamos em nossas graduações; mas, ainda nos faltava algo: Leandro se desencantou pela Administração e pensou, repensou "Volto ou não para Viçosa??? Tento ou não Biologia - o meu sonho?" Paty, a mais convicta e focada em seu curso, teve muitas dificuldades para a conclusão da Veterinária - as que quase a levaram à desistência. Eu, bom.....Entrei no curso de Letras para aprender a escrever melhor. Queria ser escritora. Com o tempo, veio o amor pela Educação e, com um "cadico" de tempo a mais, amor pelas relações entre Literatura-História- Religião. Embora todos nós estivéssemos estudando, ora empregados, ora não, algo nos faltava...Algo com sabor de chocolate-morango-e-limão.
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Antes de sermos quase atropelados "metaforicamente ou não" virgens, tínhamos o costume de ir a uma sorveteria na praça central desta cidade, onde a tríade pedia seus sorvetes preferidos: chocolate-morango-e-limão.
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A vida nos sugou o desejo de sorvete.
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As cachaçadas e brigas (principalmente entre mim e Patrícia) continuavam. Mas falatava-nos o tal do desejo....Desejo de uma vida que nos valesse a pena.
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- Cuidado!!!!!!!!!!!!!!! Não podemos ser atropelados!!!!!!
- Já pensou?? Sermos atropelados ainda virgens???
- Já sei: Os três primos virgens do GAMA!!!
- (risos).
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Hoje, recebi duas notícias: Patrícia graduou-se, enfim, em Veterinária. Há de trabalhar por gosto com "grandes" (detesta pequenos). Bonita e sensual como é, caso seu namorado não lhe dê o valor merecido, homens é que não hão de lhe faltar.
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A segunda notícia é a de que Leandro passou em vagas ociosas para Biologia, realizando seu sonho: Segundo lugar! Obrigatoriamente, deixará a música (ele é músico, pianista e cantor lírico)....Mas, um sonho maior nos consola as perdas tão igualmente dolorosas.
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Eu, também em segundo lugar (assim como Leandro), passei no Mestrado em Estudos Literários. Mal posso esperar por essa nova vida, a que já se inicia em janeiro...dia 15, quando farei minha primeira viagem para o exterior, caso tudo dê certo (Saravá!). Vou sozinha para a Argentina (minha paixão): Estudar espanhol e "encontrar algum porteño perdido". E o resto...É uma estrada que só a Deus e às estrelas sabem como nos guiar.
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Seja lá o que for amor, temática constante destes meses de novembro e dezembro, creio que é exatamente isso: perder-se e recuperar-se como se nunca houvéssemos nos separado. Quero me "casar" com um homem que seja, sobretudo, meu amigo (...A Amizade é o amor que nunca morre); e, assim como Patrícia e Leandro, possa compreender a minha necessidade de só arrumar a cama após o almoço, a de escrever bobagens em Blog´s, a de ser extremamente "mão de vaca", a de fumar enquanto escrevo...Entre outras pequenas peculiaridades.
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Um brinde à felicidade!
Isto é, aos momentos de felicidade!.
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Mas, uma coisa é certa: o encontro de nós três é sim parte do inexplicável....Não há respostas para tamanha coincidência; e, enveredar agora em busca destas explicações seria o mesmo que menosprezar o gosto do chocolate-morango-e-limão que ainda permanece na alma, quase sete anos depois.
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Ás vezes, só a doçura já nos é suficiente.

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