quarta-feira, 30 de junho de 2010

Como se fosse a primeira vez....(e "O Testamento").

*Foto de Ricardo S.R.Costa. Soltando Pipa.

Humor de Hoje: Maria Rita - de "Despedida" à "Caminho das águas". Lenine: "O Último Pôr do Sol".

Querido Leitor.

Este post pretende ser meramente ficcional. Qualquer semelhança com a realidade, diga-se de passagem, tratar-se-á apenas de uma interessante coincidência.

...É...

Há muito tempo, no ano passado, quando meu último namoro havia acabado de terminar, exilei-me por algum tempo na casa de meus tios, que moram na praia, e tive então o prazer de presenciar uma das cenas mais belas e plásticas da minha vida, se não a mais bela.

Enquanto me deleitava em prantos, planos e pensamentos, aproximou-se de mim um casal de velhinhos com o netinho, brincando de “soltar pipa” beira mar....

O senhorzinho vinha à frente, segurando o/a pipa para o netinho, ainda pequeno, que corria feliz e leve, como uma brisazinha; bem...talvez não fosse bem dessa forma....mas havia algo disto, de certo. A senhora, bem atrás, observava ambos e, certamente, pensava algo do tipo “como sou feliz...”.

Esta cena, naquele instante, me foi um desejo. Imaginei que adoraria ter uma vida como aquela, talvez não exatamente daquele jeito, até porque eu prefiro o campo ao mar...prefiro a lagoa, e nem pareço paulistana por assim ser, mas, ainda assim aquilo me comoveu de tal forma que chego a duvidar que.

Esquecerei, um dia? Não há como saber...mas é provável que não, visto que para mim, todos os encontros e todas as despedidas têm sido, ao longo do meu tempo, como se fossem os primeiros; como se tudo fosse a primeira vez. É claro que há um olhar mais maduro ante todas as coisas, olhar de quem já viveu um pouco, de quem já viu um pouco, de quem já amou um pouco; mas ainda que não tivesse vivido o prévio, ou o tivesse ainda mais, certas coisas são sempre como se fossem as primeiras vezes, se estas são de fato especiais, se de fato nos vem de um gostar, um apaixonar...um qualquer coisa.
Esta coisa de nomenclatura me irrita, porque sempre peco por não conseguir defini-la, nem para mim, nem para o outro.

Ele diz que gosta muito de mim. Eu acredito; Ele diz que se apaixonou por mim; Eu acredito, em partes.

Acredito que ele, ou você, goste muito de mim, de tal forma que já se torna um pouco difícil falar de definições. Acho que você, ou ele, pensa muito em mim, e vai sentir uma saudade imensa; uma tristeza passageira, mas, sobretudo, uma saudade imensa...embora eu saiba que ele continuará ficando com outra pessoa....mas, enfim, saudade que ao mesmo tempo não será de todo amarga e desesperadora. Será doce...

Será uma saudade de quem se gosta; não por quem se está apaixonado.

Quando você diz, “estou apaixonado”, acredito que na verdade ele queira dizer que sente por mim o que eu sinto por ele...no sentido qual discutimos muitas vezes.

Mas para ele mesmo, apaixonar-se é fazer uma loucura. Abrir mão de mundos e fundos a fim de estar com o outro, ainda que nem se saiba realmente quem é esse outro, se esse outro é quem o é, ou se é quem o é e mais a minha insegurança, o meu não resolver. Isso pouco importa, dentro da óptica de quem se apaixonou cegamente; o desejo fala mais alto....a Lei do Desejo, como diria Almodóvar.....e a loucura do tudo ou nada é que se tem como única opção.

Sendo assim, ele sabe que não está apaixonado por mim. Porque não fará uma loucura, optando por perder-me quase por completo, justamente – embora eu não acredite – por saber que poderia sê-lo capaz de tal loucura, mas as circunstancias são mais fortes, neste momento...(ele/você diz).

Fica então a tentativa de uma meia explicação que já não me importa: um gostar intenso, que apaixonar é, tirando a parte da “loucura”, porque esta não.

Não sei....Leitor.....
Ao mesmo tempo, apesar de estar sofrendo um bocado com essa situação...(embora ele não acredite, porque me acha deveras forte, ou pelo fato d’eu não conseguir chorar...ou porque estou sempre ironizando a tudo...ou porque me admira muito.....mas ele não vê....)....voltando, apesar de estar sofrendo muito....bipolarmente falando, hoje abateu-se sobre mim uma serenidade muito engraçada, que deve ser a tal da conformidade-triste, tal qual a que senti aquele dia na praia, diante daquela cena tão plástica que foi capaz de me confortar até hoje.

Eu fiz o que pude, e isso é o que me importa.

Eu vivi o que pude, eu amei o que pude, eu doei o que pude...eu escrevi o quanto pude...eu fui feliz o quanto pude....fizeram-me muito feliz e eu tentei ser felicidade o quanto pude....

Briguei o quanto pude também....estressei-me o quanto pude, e muito, e agudamente (porque me valia a pena) – enfim....eu fui completa, não caindo naquilo que é a meu ver a pior mediocridade de todas: o quase.

Se ele foi quase ou inteiro...é um problema dele. Acredito que tenha sido os dois.

Eu gosto dele...e estou realmente apaixonada....(Sim Leitor!!! Para quem acompanha o Sofia desde abril de 2009....é possível se apaixonar novamente...gostar...amar......MAS...a minha teoria de que amor não morre ainda perdura....)....É uma das pessoas mais doces que já conheci. Assim o defino: DOCE.

Estou realmente triste...porque ele não vê. Mas se gostar é também respeitar e querer bem, é o que vou fazer....porque a minha paixão não é cega....e por isso, pode ser que não seja paixão. E se não o for, não quer dizer que seja menos intenso e menos bonito por não sê-lo.

E no mais, Leitor.....
Com toda essa história....que não termina, fica aberta...(não que eu vá esperar nada, no sentido prático da coisa....mas fica aquela coisa de....esperar o ônibus...mas não sentada no ponto, sozinha e triste; caminhando.....pode ser que eu encontre uma carona no meio do caminho – sabe essa velha metáfora de nós todos?? Então....ela cabe aqui também.....).

Se eu pudesse fazer um pedido, pediria para que não perdêssemos contato, e que um dia....um dia.....quem sabe......

Mas, repensando bem, o que eu pediria mesmo era para ter a sorte daquele casal de velhinhos “Los Hermanos”....e aquilo que vir antes será muito bem vindo e muito bem amado.....apaixonado....ou simplesmente sentido com intensidade; ainda assim, o ponto final, seja com quem for, queria daquele jeito....velhinha, tranqüila, observando o Mar....(ou a Lagoa....que não é menos bela por não ter a ressaca....).

...É...

Respondendo à pergunta do post anterior, Leitores curiosos!! Ontem ela me veio tão clara que até tive medo de atravessar a rua, logo em seguida!!

Se hoje fosse mesmo o último dia da minha vida.....

Eu leria o Capítulo “O Penteado”de Dom Casmurro; trechos de O Memorial do Convento, de Saramago e do Evangelho Segundo São João....

E claro, um trecho do Memórias de Emília...que sou eu.

Eu não sei ainda qual música ouviria... Porque gosto de tantas, tantas... Mas provavelmente seria “Lamentos” – do Pixinguinha...ou Bizet, Carmen.

Eu almoçaria um Feijão Tropeiro completíssimo...com uma boa, boa cachaça...(eu adoro!)....

Eu escreveria uma carta citando todos os meus melhores amigos,meus tios, primos,familiares realmente importantes,avós,madrinha IVANI, a Pastoral da Juventude, a SSVP, O BALLET, O Colégio União Brasileira, A ABRALE, A CASFA...

Citaria, ainda, alguns professores com quem muito aprendi:

Geraldinho,Geraldão,Márcia,Sônia,Elizabeth,Carla,Márcia Pee,

Aninha,Gerson,Carlos,Joelma,Roberta,Wandinho...

e a importância deles e disso tudo na minha vida...o quanto os amo...o quanto me foram caros....o quanto me fizeram felizes...entregaria tal carta a minha grande amiga Rebeca, junto com a Senha deste Blog, para que fosse publicada nele.

Gosto muito de você Rebeca...

Daria a obra completa do Saramago a minha amiga Irmã Cléo.

Mas, escolheria um outro grande amigo para estar ao meu lado quando eu sucumbisse por fim: Leandro – meu irmão.....

Iríamos ele, meus pais, minha Tia-abelha Celi e eu para o Tombo da Cachoeira, Canaã, a minha Terra do Nunca, e eu morreria lá...feliz da vida....

Antes, contudo....daria três telefonemas para três anjos que tive na vida: Cinthya, minha irmã; Célia e Humberto – meu médico.

E antes, ainda, faria algumas loucuras:

Daria um grande, longo e intenso abraço em D.O. ...e diria o quanto o amo, o quanto ele me é especial apesar dos pesares.

Declararia o meu também amor recalcado por T....que ficaria muito surpreso...(ou nem tanto).....

E...principalmente....daria longos e demorados beijos em Fe – seria a última pessoa que beijaria nesta vida – e diria que teria adorado ter tido um filho com ele.

Não arrumaria a cama e nem tomaria banho.


Comeria um LAKA, antes de partir....

E, morreria de mãos dadas com meus pais........e usando uma sapatilha de ponta, o meu anel de Tucum....e a correntinha que era do Cleiton...para que ele me reconhecesse e me buscasse logo.

(AFF....que dramaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!mas seria exatamente isso).

Minhas cinzas seriam jogadas na cachoeira do “Tombo”, na parte mais serena, em que fica uma pseudo-lagoa....

...É...Mas, falando de VIDA:

"No dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sentindo saudades do que não foi
Lembrando até do que eu não vivi pensando nós dois.
[...]
Pois no dia em que ocê foi embora,
Eu fiquei sozinho no mundo, sem ter ninguém,
O último homem no dia em que o sol morreu"

(LENINE- O último pôr do Sol...)

4 comentários:

  1. "O amor é um grande laço, um passo pr'uma armadilha"... "O amor é como um raio galopando em desafio Abre fendas cobre vales, revolta as águas dos rios... Quem tentar seguir seu rastro se perderá no caminho"... "E o coração de que ama fica faltando um pedaço Que nem a lua minguando, que nem o meu nos seus braços".

    Não sei porquê (rsrsrsrsrs), mas me lembrei de Djavan. Êita que amor faz sorrir e faz chorar...
    Adoraria a coleção do Saramago, mas não no seu último dia de vida. Beijo grande, amiga.

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  2. Bonito o post. Inspirado. Divino-humano.

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  3. Bonito o post. Inspirado. Divino-humano.

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  4. Aff...vcoê por aqui?? Há que devo a honra? rsrsrsrsr.....Obrigada!

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