sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

L'AMOUR, C'EST QUOI ?

* Obra de Van Gogh. Não sei o nome. O leitor que o souber há de ganhar um sorrisinho amarelo meu.

Ao som de In the Mood for Love
e Bristo Fada.
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Seja lá o que venha a ser Amor, esta "raposa", Certamente, ele não nasceu no Livro Sagrado do Gênesis:
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"No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriram o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. [...]Deus criou o homem a sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a...."
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Saramago tentou, sagazmente, reconstruir o que poderia ter sido: É provável que um homem como Saramago compreendesse que, seja lá por qual motivo óbvio, Amor não é sinônimo de procriação, ainda mais para os desajeitados e virgens Adão e Eva, primeiras infelizes-cobaias-do - Deus -do-amor. Intuiu, Saramago, que a gênese do Amor é outra: A "Língua"! Isto é, a Linguagem. Logo, tal homem, conhecedor de tantas e tantas línguas além do nosso Português, acrescentou ao texto divino um colorido à la vermelho-humano, atribuindo aos pobres fantasmas, Eva e Adão, um pouco de Bacanal:
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"Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresebtavam à vista, não lhes saíam só uma palavra da boca, nem emitiam ao menos um simples som primário, teve de ficar irritado consigo mesmo [...] sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo."
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L'AMOUR, C'EST QUOI ?
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Certo foi que, após o surgimento da "Língua" ("Língua e Parole!!"), as relações amorosas entre o casal mítico tornaram-se, digamos....mais deleitosas: "Deu-se o senhor por satisfeito despediu-se com um paternal Até logo, e foi à sua vida. Então, pela primeira vez, adão disse para eva, Vamos para a cama."
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Assim nasceu o sexo-livre, uma das manifestações do Amor, irritando Nosso Senhor Deus; porém, satisfazendo seus contemporâneos, também deuses , Afrodite, Eros e Dionísios. Mas, caro leitor...
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L'AMOUR, C'EST QUOI ?
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Adão e Eva não tiveram o prazer do encontro, da conquista, da amizade, do encantamento, da paixão, da ternura, da doação, da perda, do Amor. Um dia, quando abriram os olhos, já estavam perdidos pelo Éden à fora, a procriar como coelhinhos. Infelizes ou não, o que pouco sabemos desse casal-cobaia não nos interessa de fato. Isto é apenas para concluir que: Não há amor sem que haja escolha. E não há escolha sem que haja linguagem. E não há linguagem sem que haja vida. E não há vida sem que haja sexo. Até aqui, nenhuma novidade.
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Segundo (COMPAGNON, 2006,p.36): "Seríamos capazes de paixão se nunca tivéssemos lido uma história de amor, se nunca houvessem contado uma única história de amor?".
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Não faço idéia, mas acredito que sim. Embora Adão não tenha amado Eva, é possível que ele tenha amado Lilith e, até onde sei, antes do Gênseis não havia outra estória de amor no Ocidente. Aprofundando o devaneio e as digressões, o que fez o Homem Paleolítico, o Índio da tribo Khaô, o Negro no seu contexto africano - pré colonial, contarem oralmente suas estórias de Amor? Muitas delas que, ecoando por ventos e tempos, ainda nos encantam tanto ...ora como lenda...ora como cantiga de ninar. Sendo o sexo já nos imposto pelos deuses, o Amor, de alguma forma curiosa, expressa-se também sob forma de Linguagem; mas, não necessáriamente há uma Linguagem que o defina; ou ainda, que tenha nascido "antes" do Amor. Deu-se tudo junto, misteriosamente, ou não existiria Literatura.
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L'AMOUR, C'EST QUOI ?
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Tal reflexão de Antoine Compagnon fez-me pensar que, independente de sermos ou não capazes de amar sem nunca ter ouvido uma estória de amor, acredito, com meus botões desparafusados, que aprendemos a amar - cada qual a sua maneira - de acordo com as primeiras estórias de Amor que nos ficam guardadas no inconsciente. Desde então, tentei a todo custo dar-me conta quais foram minhas primeiras estórias....Tudo isso, a fim de compreender o porquê sou uma mulher tão zicad... ops, desajustada no quesito L'amour. Dei-me conta de serem duas estas estórias, ambas ouvidas, com muita atenção e repetição, por volta dos meus seis anos de tenra idade : A Bela e a Fera e A Princesa e a Ervilha. Vamos por partes:
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L'AMOUR, C'EST QUOI ?
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Bela é uma mocinha de ...sei lá...19 anos que até então nunca saíra de casa. Tida como a "estranha" de sua "tribo" adolescente, descobre que seu pai houvera sido raptado por uma Besta-Fera, o qual vivia em um castelo encantado. Cristã - sim, ela devia ser Cristã! - Bela oferece-se à Fera, a fim de que ele libertasse o querido pai da moça, o único homem por quem ela era, até então, apaixonada. Dá-se a troca. Após muitas peripécias, Bela percebe que, ainda horrendo, ainda bruto, ainda grotesco, havia uma docilidade na Fera que a encantava. Do lado de lá, O Fera, já à mercê do Eros, fascinava-se a cada dia com Bela: por seus gostos exóticos para uma moça daquela idade. Deu-lhe uma "infinita" biblioteca de presente, no seu aniversário de 20 anos (imagino). Aos poucos, ambos se apaixonaram, mas só o compreenderam quando o "acaso" interviu. Liderados por uma espécie de Pitt-Bull-Boy, ou ainda, ex participante, viciado em bomba, do BBB - também apaixonado por Bela - os moradores do vilarejo decidiram caçar a Fera e matá-lo. Eis que o Amor acontece. Prestes a se perderem, Bela lhe lasca um baita de um beijo (um beijo meio Sandy antes da Devassa e da tal fala sobre "é possível ter prazer anal", mas tudo bem) e a Fera, antes horrenda, torna-se um encantador príncipe de longos cabelos aloirados. Metaforicamente, ele nunca deixou de ser Fera, tampouco Príncipe : ambos estavam ali o tempo todo; mas, foi o Amor quem os revelou diante dos olhos de Bela.
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A segunda estória é a de que mais gosto e, por conta disto, nunca a esqueci. Assisti-a naquela série da TV Cultura "Contos de Fada", na que era viciadíssima ( e ainda seria, caso fosse retransmitida atualmente).
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Bem. Havia um príncipe imaturo, "bipolar", educado à barra da saia da Rainha-Mãe, uma tirana opressora (perdão pelo paradoxo), cuja relação com o Rei-Pai também não era das melhores. Essa mulher ofuscava o brilho do Rei, e, dessa forma, mimava seu filhinho....Quem tornou-se, com passar do tempo, um rapaz rico (óbvio), cobiçadíssimo, "extremamente charmoso" (pelo menos na versão em que assisti, com Layza Minelli e Tom Conti), porém, infeliz e sem explicações. O "bobo da corte", que de bobo só tinha a cara e o salário que devia receber por aquele papel (na narrativa), sugeriu ao jovem que encontrasse uma boa esposa. Ou seja: O tal do?? AMOR! Que ele se empenhasse nesta busca, um amor.
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Foram convocadas todas as princesas das proximidades, mas nenhuma o interessava verdadeiramente. Sua mãe, porém, apaixonou-se por uma princesa mais decorosa, da alta hierarquia dos pampas; mas, ainda assim, nosso jovem príncipe não sentia-se suficientemente cativado.
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Durante uma tempestade, eis que chega nossa gatíssima (sou fã da mulher) Layza Minelli, isto é, uma mulher aparentemente "ordinária", pedindo abrigo em função do tempo chuvoso. Com receio do que poderia pensar sua mãe (não esqueçam-se leitores: A RAINHA), o jovem, com ajuda do "bobo", acolhe a moça no pior aposento do castelo. Conversa vai, conversa vem, Layza apresenta-se como princesa de um reino distante. Mas, não seria inacreditável? Uma princesa sem pompas, sem jóias, sem uma carruagem que lhe pudesse cercar da chuva...Não! não era uma princesa!
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O fato é (tentando resumir): Mesmo o príncipe sendo um desnorteado, talvez pela falta de habilidade pra com a vida prática, a "princesa Minelli" se apaixonou pelo rapaz: ao notar, naquele destrambelhado, qualidades como a lealdade, o bom coração, essas coisas de Contos de Fada e TV CULTURA. Do outo lado, o rapaz-príncipe também se apaixonou por Minelli, apesar do jeito exótico dela se apresentar: seu bom humor, ironia e sobretudo companheirismo fizeram-lhe germinar, no âmago do seu coraçãozito-labirintoso, a raposinha do Amor. Mas , seria ela uma princesa?
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Nosso príncipe era um covade. Total covarde. Mas, em um "susto" de firmeza, contou à mãe que estava apaixonado por aquela mulher, independente de plebéia ou princesa - que fosse! Então, a Rainha capitalista do século XVI, acredito, ao acomodar a moça em um outro aposento, faz-lhe debruçar-se por cima de centenas de colchões, sendo que por de baixo de um deles, o último, havia uma ervilha. Só uma verdadeira princesa sentiria, com sua doçura ou sensibilisade, o mal estar provocado pela ervilha.
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No dia seguinte, a princesa queixou-se de haver dormido muitíssimo "mal": "Como se houvesse me deitado por cima de uma ervilha". Daqui para frente, podemos intuir, caro leitor, o desfecho da estória: "....E assim foram felizes para sempre".
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Ainda assim, L'AMOUR, C'EST QUOI ?
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Estas são as minhas estórias. Revendo-as, reiventando-as, parafraseando-as, percebo muito do meu "eu" atual naquele de ontem; portanto, creio que minha teoria tenha lá certa lógica.
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Embora não exista, infelizmente, o tal "Assim viveram felizes para sempre", as estórias que lemos nos auxiliam a entender, isto é, a compreender melhor nossas relações amorosas e, dessa forma, a cultivar mais carinho mútuo em tempos de "menor paixão". Portanto, o sexo nasce depois da Linguagem (a que não se restringe à oralidade); o amor, junto da Linguagem; mas, sejá lá o que for realmente AMOR, ele só é realizado no ato de Linguagem, ou seja, no ato de escolha. Como um ato de fé: Concretude.
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Caso Adão, Eva e Lilith - que não eram franceses - houvessem lido Nelson Rodrigues, antes do pecado original, talvez o universo do Amor teria se tornado menos misterioso para o nosso século XXI.
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Mas...Em uma estória cuja mulher se divorcia do marido por não poder estar "por cima" do corpo do tal (durante a relação sexual); e, depois retorna secretamente, após séculos A.C., à "casa" do ex marido e de sua nova esposa, a fim de tentar assassinar os filhos que o ex tivera com sua outra mulher - esta que não apenas nasceu da costela daquele homem, como também foi sua única irmã sanguinea....De modo que a partir de tal incesto, procriaram filhos suficientes para dar vida à humanidade....E melhor: sendo um destes filhos, futuro assassino do próprio irmão, ainda que um irmão muito amado! Pergunta: Será Nelson Rodrigues Deus? E como há quem diga que Deus é Amor...será Nelson Rodrigues...O VERDADEIRO AMOR?
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L'AMOUR, C'EST QUOI ?
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PRINCIPAIS REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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SARAMAGO/CAIM/2009
BÍBLIA AVE MARIA - 64a EDIÇÃO
COMPAGNON, Antoine. A Literatura. IN: O Demônio da Teoria: Literatura e Senso Comum. Belo Horizonte, Editora UFMG, 2003.
Clássico dos Clássicos - TV CULTURA....
A Bela e a Fera, Walt Disney
A falta do que fazer....

2 comentários:

  1. meu texto nao tem nada a ver com a minha posição religiosa ou não religiosa, que fique claro chica!

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