domingo, 19 de setembro de 2010

Era uma vez...


* A rã e o nenúfar. Foto de Carlos S. Pereira.
Era uma vez uma Rã.
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Uma Rã provinda de um lugar muito distante, onde reinavam as cores fortes das quais se tem notícia ainda hoje.
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Como todo bom anfíbio anuro da
família Ranidae, esta Rã da qual falamos também vivia em lugares úmidos, protegida por uma membrana nictante e resistentes pulmões. Alimentava-se de insetos e vermes; vez ou outra, pequenos animais capturados com a língua, sendo esta, um interessante instrumento de sobrevivência da qual dependia. Era cosmopolita – a Rã – isto é, pertencia ao gênero Rana, o qual se ramifica em 240 espécies espalhadas pelo mundo.
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Pois bem.
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Era uma Rã aparentemente comum. Não tinha nada de muito especial que a distinguisse das demais colegas de grupo; não era dotada de nada aparentemente original, nem se quer uma glândula paratóide, capaz de protegê-la das mazelas do reino anfíbio, quando necessário. Ainda assim, esta Rã em questão não era nada trivial, nada ordinária, visto que tinha em sua constituição física e psíquica, elementos herdados daqueles contos chatíssimos e bregas, denominados “...de Fada”.
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Era uma Rã encantada.
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Tratava-se de uma Rã cavalheiresca. Gostava de mimar aqueles que a cercavam, ora com palavras doces, ora com demonstrações atípicas de amizade, como por exemplo, estar sempre apta a acompanhar as fêmeas de sua espécie “aos pontos de nenúfar” nos dias de chuva excessiva, o que equivaleria no mundo ocidental a "pontos de ônibus", nos dias de chuva excessiva, que são iguais e incômodos para todos os reinos.
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As fêmeas da espécie...voltaremos a esse assunto posteriormente, com maior precisão.
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Além de cavalheira, nossa Rã era divertida e dotada de um senso de humor fora do habitual, em se tratando de rãs: era terrivelmente irônica, observadora e sarcástica. Sabia seduzir pelo riso e pela palavra: comunicava-se através de uma entonação curiosa que , se observada com maior cautela, veremos se tratar de uma armadilha para atrair a fêmea da espécie.
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As fêmeas da espécie...voltaremos a esse assunto posteriormente, com maior precisão.
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Além de cavalheira e engraçada, nossa Rã era convencidíssima e vaidosa, como as demais rãs do reino de onde viera, as do gênero Rana. Gostava de confete: adorava ser elogiada, ainda mais quando reconhecida pelo seu excesso “anfíbico” de “borogodó”, porque sim: era uma Rã por demais charmosa, sendo este detalhe o principal motivo dos problemas insolucionáveis que nossa graciosíssima Rã arrastava consigo pela vida afora....problemas e mais problemas!
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Era uma Rã confusa, a pobre. Muito confusa, muito perdida: uma Rã alucinante e alucinada.
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Dizia “sim” quando desejava dizer “não”; quando dizia “não”...nunca se sabia o que ela realmente queria dizer. Era uma Rã maluca e incompreensível, poucas pessoas a conheciam bem, simplesmente porque tinha muitos labirintos dentro de si.
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Banhava-se em cafés ferventes nos dias de festa, a fim de atrair o maior número possível de fêmeas da espécie, de uma só vez.
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As fêmeas da espécie...voltaremos a esse assunto posteriormente, com maior precisão.
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Era dotada de um mecanismo mágico, herdado dos contos chatíssimos e bregas, denominados “de Fada...”, que a possibilitava enxergar além do que os olhos normais podem mostrar.Talvez em função de uma dificuldade congênita de ouvir bem, o que lhe transformou numa Rã tagarelíssima, que falava demais, sua capacidade de observação do outro era realmente tocante. Ela conseguia, em poucos instantes, apreender o que de melhor as pessoas traziam em si, e é por isso que sempre as conquistava com sua amizade.
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Ao contrário da maioria dos seres vivos, nossa Rã não perdia tempo com as imperfeições do outro, renegando-as sempre. Sua capacidade de “olhar” era tão profunda, que conseguia revelar, de modo misterioso, o melhor que cada um de seus amigos traziam dentro deles, qualidades ainda desconhecidas.
Era uma Rã muito humana, o que é um paradoxo: apesar de extremamente vaidosa e convencida, era simples, acolhedora e generosa.
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Doce.
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Mas nem tudo eram nenúfares na sua vida e na vida daqueles que a amavam muito.
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Nossa Rã encantada às vezes se comportava como um ser vivo chato, guardando bons discursos e desculpinhas de bolso quando não queria, por exemplo, perder uma discussão. Apesar de extremamente educada, por ser tão cavalheira, era teimosa como uma mula em algumas situações, ampliando “alucinadamente” o nível de complexidade das coisas que eram simples, óbvias e didáticas.
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Costumava sumir de vez em quando, desligando seus aplicativos “anfíbicos” quando lhe convinha, semelhantes a celulares ou MSN’s do reino humano animal.
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Irritava, às vezes, sua mania de sumiço, mania de ausência.
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Acerca de si viviam numerosas fêmeas de todos os Reinos: anfíbio, animal, vegetal, fungi. Ela conquistava a todas, com aqueles mecanismos já citados. Levava-as à loucura e perdição; paixões desmedidas, às vezes correspondidas, às vezes não. Frustradas, tais fêmeas organizavam-se em sindicatos, fã-clubes, grupos de ajuda: “Como esquecer uma Rã Cafajeste?”, ou ainda: “Como pegar uma Rã cafajeste, Parte I: entendendo o vocabulário e hábitos complexos das Rãs de gênero Rana”.
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De um jeito ou de outro, devido a um outro problema congênito, excesso de coração, nossa Rã encantada e sentimental nutria sentimentos fortes e importantes por muitas fêmeas da espécie, ainda que em níveis diferentes. Todas elas se aproveitavam de sua fraqueza “masculina”: Era muito “mexível” a Rã.
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Gostava muito de artes. Dialogava muito bem com artes de todos os tipos, o que lhe amenizava a tortura de seus 666 labirintos.
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Era uma gracinha a nossa Rã: Tinha um exótico sexy appeal, apesar de se portar muitas vezes como uma criança boba e medrosa. Era uma Rã toda paradoxo...E quem não o é?
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Aprendi muito sobre o amor quando a conheci: Também sobre paciência, intuição, pizza e saudade.
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Mas há muito o que aprender ainda...aprendizado que também é tortura: Labirinto.
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Sei que será muito feliz a nossa cavalheira, divertida, vaidosa, confusa, humana, chatinha, “cafajeste”,sentimental, artística, sexy, criançola, boba, medrosa, irritante e encantada Rã – independente do labirinto que vai percorrer, sozinha, a partir de hoje.
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A Rã mais desencantada de todas que já conheci, sendo esse o princípio ativo do seu encantamento: Paradoxo alucinante que também mexe comigo.
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Que o Deus anfíbio, o qual você não crê, te guarde sempre.
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Um Beijo da autora do terceiro Blog mais acessado também no Reino Anfíbio.
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Amanda.........
(19-20/09/2010).

Um comentário:

  1. aff...que bregaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!! Tenho vergonha de mim mesma...rsrsrsr

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