sábado, 11 de setembro de 2010

Sobre Pontes e Tombos.

"I'm broke but I'm happy
I'm poor but I'm kind
I'm short but I'm healthy baby...
(Hand in my pocket - Alanis)
And isn't it ironic... don't you think?
(Ironic -Alanis)
É sobre os tombos que levamos na vida. Literalmente.
Uma professora que conheço, e agora também amiga, foi surpreendida recentemente por um tombo no Departamento de Letras da Universidade na qual estudo, lesionando o joelho, ou tornozelo - não me recordo agora, mas não é isso o que interessa de fato.
A partir desse evento, ocorrido nesses dias, passei a refletir sobre a importância dos tombos litrerais, esses que nos ocorrem inesperadamente em lugares públicos, despertando nos transeuntes, senão temor e pena, riso e empatia.
Todo mundo cai; mas, não é todo mundo que se levanta como deveria.
Não falo aqui daqueles tombos que a vida nos proporciona: ironias, eventos funestos... Não! falo, simplesmente, de cair e levantar...e como as pessoas fazem isso de maneiras diferentes.
Quem não sabe rir de si mesmo, dos próprios tombos, tão pouco saberá, quando necessário, atravessar uma ponte num dia de neblina, sendo esta a única opção para se chegar em qualquer lugar que não o atual. E todos passam por isso: pontes incertas em dias de neblina, inclusive Monet.
Pois bem. Imaginem que todos nós somos, no fundo, pessoas auto suficientes e donas da razão; é muito possível que todo ser humano, justamente por ser humano, tenha consigo a ilusão da certeza das coisas, de ser dono do próprio nariz, do próprio destino em todas as circunstancias; Às vezes, sentimos-nos também donos das escolhas do outro, impreterivelmente.
Quem nunca saiu de casa numa sexta feita à noite, vestido para matar, sentindo-se "rei da cocada preta"?
Um tombo é um bom agouro. Quando caimos, assim repentinamente, somos abruptamente desligados de nossas seguranças, nossas máscaras, nossa posição social: caimos porque nem sempre temos razão sobre aquilo em que se pisa. É a vitória do chão.
Desnudados, humilhados, conduzidos a uma pureza quase infantil, caimos e somos alvo do outro, geralmente do seu riso. E isso dói, não? Para algumas pessoas, o riso que se é provocado quando caimos chega a ser insuportável, trágico, porque tais indivíduos ainda vestiam a indumentária "reis ou rainhas da cocada ..."
Donos do chão?
Não somos.
O que fazer?
Acredito na função divina dos tombos. Para mim, eles funcionam como avisos. O último grande e vergonhoso tombo que tive em público - porque confesso que já fui mais "estabanada"quando adolescente, e que recentemente tenho caído muito pouco pelas ruas e retas da UFV, sendo isto, talvez,uma grande infelicidade - bem, meu último tombo se deu durante a minha chegada triunfal ao baile de formatura de minhas amigas, na escadaria.
Lá estava eu: Maravilhosa em meu longo vermelho, unhas vermelhas, aderessos prata; um coque realmente charmoso, desnudando-me as costas expostas em meu modelito tomara-que-caia; maquiagem impecável...postura de bailarina clássica, linda, chic, esnobe....BUM! caí!
Caí e segurei em minha amiga, quase levando-a também ao chão, e num simpático rapaz a minha direita. Levantei com rapidez, porque a dança me ensinou os truques de se levantar bem, mas, os risos....apesar da vergonha de todos eles, risos medonhos, eles não impediram que risse de mim mesma.
Quem eu pensava que era, com aquela pose toda, havia naquele momento voltado à vitrine da loja de onde saiu. Eu era só aquilo que ainda restara intocado depois do me tombo:
Uma mulher deslumbrada diante do inesperado.
De fato, após levantar do chão, pensei: "isso é sinal, só pode". E sim, acertei: naquele baile, já depois da hora do café, levei outro tombo ainda pior...ainda maior, embora nem todos houvessem se dado conta. Levantei-me também do segundo tombo, o qual me lesionou de modo mais profundo, embora, o aprendizado que tive naquela escadaria, "uma mulher deslumbrada diante do inesperado" tenha realmente feito diferença para a minha lenta recuperação.
Ao descer de um ônibus em São Paulo, há oito anos, senti uma imensa vontade de pular os "degrauzinhos" e não sei com que finalidade estupida. Caí! E feio já no ponto de ônibus, envergonhando também o amigo que me fazia na época o favor de me acompanhar. Todos riram, inclusive um rapaz ainda dentro do ônibus....quase apontando o indicador em minha direção. Acho que só não o fez porque sabia... sabia que poderia ser ele amanhã o próximo esborrachado, sem mais as seguranças com as quais contava.
Hoje, na aula da professora recém levantada do chão, estudamos um conto africano que remetia a um ritual de passagem daquele grupo. O adolescente, ao ser iniciado na vida adulta, veste as mãos em um par de luvas tecido a formigas. O ritual exigia que o jovem mantivesse as mãos dentro da luva, apesar das picadas, suportando-as.
"Pra que isso?" - perguntei.
- Porque é um ritual de passagem, oras: Suportar a dor é o que distingue um homem de uma criança - disse a professora vencida pelo chão.

2 comentários:

  1. "Acredito na função divina dos tombos."
    Sabe que isso me levou a pensar nos meus tombos (metafóricos)? E confesso que é muito difícil levantar-me de alguns...
    E dói!!!!!!

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  2. rsrsr...olha... ri um bocado com a história de seus tombos, mas tb me foi inveitável chorar, ao mesmo tempo, recordando-me dos tombos que tenho levado...
    Vc é uma escritora fabtástica, Amanda...suas reflexões são tão reais, tão cruéis...tão partes de mim...aff...
    BJO!!!

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